Por Altamiro Borges
A jornalista Suzana Singer, reconduzida pela quarta vez ao cargo de ombudsman da Folha, está preocupada com o futuro dos jornalões. Em sua coluna de hoje (28), ela analisa a recente “reestruturação” do maior rival em São Paulo, o decadente Estadão. Ela não presta solidariedade ativa aos mais de 50 companheiros de profissão que foram sumariamente demitidos pelo diário da famiglia Mesquita, mas alerta para a perda de relevância da mídia impressa. Vale a pena conferir a sua instigante reflexão:
*****
Queridos, encolhi o jornal
O principal concorrente da Folha, que se orgulhava de ser "muito mais jornal", diminuiu. Desde segunda-feira passada, o "Estado de S. Paulo" está circulando com menos cadernos.
O "Metrópole", que trata dos assuntos de São Paulo, e o "Esporte" foram incorporados ao Primeiro Caderno durante boa parte da semana. Vários suplementos, como o literário, o infantil e o de informática, foram eliminados ou viraram seções ampliadas.
Aos domingos, o "Estadão" promete manter um conteúdo maior e fazer jus ao seu apelido. O enxugamento foi anunciado como "a maior menor mudança" que o jornal já teve, num slogan tão constrangedor quanto a campanha na TV.
Uma mulher fala em alta velocidade sobre tudo o que o jornal cobre durante a semana e garante que ficará agora mais fácil "entender" o que está acontecendo. Em seguida, o marido, em voz arrastada, diz que, no domingo, quando há tempo suficiente para "ler e reler", haverá notícias exclusivas e novas seções - a única citada é uma de fotos.
Nem Don Draper, o sexy gênio criativo de "Mad Men", teria se saído bem diante da missão de convencer o leitor de que ele está recebendo menos jornal, pelo mesmo preço, mas que isso é uma vantagem.
A diminuição do espaço editorial não é, porém, prerrogativa do "Estado". A Folha vem emagrecendo ao longo dos anos, só que de modo mais suave e preservando a divisão de cadernos. No anúncio da última grande reforma gráfica, em 2010, já se falava em "textos sintéticos e analíticos em pouco espaço".
O argumento para enxugar é que o tempo do leitor está cada vez mais curto, o que é facilmente verificável. O dia teima em continuar com 24 horas, mas agora, além de ler jornal, é preciso checar os aplicativos no celular, dar uma espiadinha nos sites de notícia e também nas redes sociais - só para ficar em algumas das invenções disseminadas na última década.
Como bem definiu um leitor da Folha recentemente, "há tanta informação disponível que dá até uma indigestão jornalística".
O que não se diz ao público é que o enxugamento, "para o seu próprio bem", visa cortar custos de papel, de mão de obra (jornalistas) e de tempo de gráfica.
As edições de sábado da Folha, nas quais se desdobram cadernos, mostram que a defesa do jornal compacto fica de lado sempre que é necessário atender as exigências do mercado publicitário. No último dia 20, havia "Poder 2", "Mundo 2", "Cotidiano 2" e "Mercado 2", num jornal com 40 anúncios de imóveis.
O dilema para os jornais hoje, e não só no Brasil, é encontrar um novo ponto de equilíbrio. Se as pessoas têm pouco tempo para ler, vamos escrever menos, mas, se o jornal ficar fino e superficial demais, para que comprá-lo, já que há informação de graça na rede?
Nos EUA, onde a perda de receita publicitária do impresso é dramática, a discussão sobre o futuro dos jornais se faz mais premente. Lá, as energias se concentram na tentativa de rentabilizar os sites, fazendo o possível para convencer os internautas de que vale a pena pagar por notícia de qualidade.
É o que o "New York Times", ao anunciar mais uma queda de lucro, chamou de "reposicionamento da empresa para a era digital".
Talvez o caminho do futuro seja mesmo no sentido de um jornal cada vez mais sintético, mas é um percurso bastante perigoso, a ser percorrido com toda a cautela.
Oferecer menos conteúdo precisa ter necessariamente como contrapartida uma melhoria significativa na qualidade do que é publicado. Poucos assuntos, mas apurados com precisão e profundidade e editados com inteligência. Se não for assim, estaremos apenas apressando o passo rumo à irrelevância.
*****
De fato, a revolução informacional dos últimos anos gerou uma profunda crise no modelo de negócios da mídia – e não apenas da mídia impressa. As emissoras de tevê também já sentem os efeitos da migração, principalmente da juventude, para a internet. Esta crise é mundial e já resultou na falência de inúmeros jornais e revistas. Mas este não é o único fator que explica a drástica queda de tiragem e de vendas – e, como efeito, das verbas publicitárias – dos jornalões.
A jornalista Suzana Singer, reconduzida pela quarta vez ao cargo de ombudsman da Folha, está preocupada com o futuro dos jornalões. Em sua coluna de hoje (28), ela analisa a recente “reestruturação” do maior rival em São Paulo, o decadente Estadão. Ela não presta solidariedade ativa aos mais de 50 companheiros de profissão que foram sumariamente demitidos pelo diário da famiglia Mesquita, mas alerta para a perda de relevância da mídia impressa. Vale a pena conferir a sua instigante reflexão:
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Queridos, encolhi o jornal
O principal concorrente da Folha, que se orgulhava de ser "muito mais jornal", diminuiu. Desde segunda-feira passada, o "Estado de S. Paulo" está circulando com menos cadernos.
O "Metrópole", que trata dos assuntos de São Paulo, e o "Esporte" foram incorporados ao Primeiro Caderno durante boa parte da semana. Vários suplementos, como o literário, o infantil e o de informática, foram eliminados ou viraram seções ampliadas.
Aos domingos, o "Estadão" promete manter um conteúdo maior e fazer jus ao seu apelido. O enxugamento foi anunciado como "a maior menor mudança" que o jornal já teve, num slogan tão constrangedor quanto a campanha na TV.
Uma mulher fala em alta velocidade sobre tudo o que o jornal cobre durante a semana e garante que ficará agora mais fácil "entender" o que está acontecendo. Em seguida, o marido, em voz arrastada, diz que, no domingo, quando há tempo suficiente para "ler e reler", haverá notícias exclusivas e novas seções - a única citada é uma de fotos.
Nem Don Draper, o sexy gênio criativo de "Mad Men", teria se saído bem diante da missão de convencer o leitor de que ele está recebendo menos jornal, pelo mesmo preço, mas que isso é uma vantagem.
A diminuição do espaço editorial não é, porém, prerrogativa do "Estado". A Folha vem emagrecendo ao longo dos anos, só que de modo mais suave e preservando a divisão de cadernos. No anúncio da última grande reforma gráfica, em 2010, já se falava em "textos sintéticos e analíticos em pouco espaço".
O argumento para enxugar é que o tempo do leitor está cada vez mais curto, o que é facilmente verificável. O dia teima em continuar com 24 horas, mas agora, além de ler jornal, é preciso checar os aplicativos no celular, dar uma espiadinha nos sites de notícia e também nas redes sociais - só para ficar em algumas das invenções disseminadas na última década.
Como bem definiu um leitor da Folha recentemente, "há tanta informação disponível que dá até uma indigestão jornalística".
O que não se diz ao público é que o enxugamento, "para o seu próprio bem", visa cortar custos de papel, de mão de obra (jornalistas) e de tempo de gráfica.
As edições de sábado da Folha, nas quais se desdobram cadernos, mostram que a defesa do jornal compacto fica de lado sempre que é necessário atender as exigências do mercado publicitário. No último dia 20, havia "Poder 2", "Mundo 2", "Cotidiano 2" e "Mercado 2", num jornal com 40 anúncios de imóveis.
O dilema para os jornais hoje, e não só no Brasil, é encontrar um novo ponto de equilíbrio. Se as pessoas têm pouco tempo para ler, vamos escrever menos, mas, se o jornal ficar fino e superficial demais, para que comprá-lo, já que há informação de graça na rede?
Nos EUA, onde a perda de receita publicitária do impresso é dramática, a discussão sobre o futuro dos jornais se faz mais premente. Lá, as energias se concentram na tentativa de rentabilizar os sites, fazendo o possível para convencer os internautas de que vale a pena pagar por notícia de qualidade.
É o que o "New York Times", ao anunciar mais uma queda de lucro, chamou de "reposicionamento da empresa para a era digital".
Talvez o caminho do futuro seja mesmo no sentido de um jornal cada vez mais sintético, mas é um percurso bastante perigoso, a ser percorrido com toda a cautela.
Oferecer menos conteúdo precisa ter necessariamente como contrapartida uma melhoria significativa na qualidade do que é publicado. Poucos assuntos, mas apurados com precisão e profundidade e editados com inteligência. Se não for assim, estaremos apenas apressando o passo rumo à irrelevância.
*****
De fato, a revolução informacional dos últimos anos gerou uma profunda crise no modelo de negócios da mídia – e não apenas da mídia impressa. As emissoras de tevê também já sentem os efeitos da migração, principalmente da juventude, para a internet. Esta crise é mundial e já resultou na falência de inúmeros jornais e revistas. Mas este não é o único fator que explica a drástica queda de tiragem e de vendas – e, como efeito, das verbas publicitárias – dos jornalões.
Há também, como sempre alerta o professor Emir Sader, uma violenta crise de credibilidade da velha mídia, cada vez mais partidarizada e editorializada. Pesquisas recentes confirmam que os leitores confiam cada vez menos no que é impresso. A perda da qualidade jornalística e a visível manipulação também espantam os leitores. Não é só o Estadão que está com seus dias contados. A Folha caminha para o mesmo precipício.
Ou a Veja/Época/Folha/Estadão, enfim todo o pig se reposiciona a favor do BRASIL, ou vão para o buraco...ou também podem pedir para o cerra/alquimico fazer milhões de assinatura de toda esta bagulhada para todas as repartições públicas de são paulo.
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