sexta-feira, 31 de maio de 2013

Os “bons meninos” do Banco Central

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Ontem cedo, escrevi aqui que a elevação dos juros para 8%, decidida pelo Banco Central não era resultado de uma decisão técnica da instituição, mas um posicionamento político para agradar o mercado. Leia-se, claro, o mercado financeiro.

À tarde, o veterano comentarista econômico do Estadão, João Paulo Kupfer, um dos poucos que não é um “jurista militante” postou, em sua coluna, uma análise muito interessante sobre a medida.

Diz ele, como se disse aqui:

“Depois de conhecidos os números da economia entre janeiro e março, haveria, de fato, alguma lógica em moderar a alta da taxa básica. Se a função da política monetária é equilibrar a trajetória da demanda à dinâmica da oferta, pelo manejo da taxa básica de juros (taxa Selic), o cenário prospectivo não sugeria a necessidade de mão mais pesada na sua fixação pelos próximos 45 dias.

As revisões para baixo no ritmo de expansão da economia em 2013, praticamente consensuais depois dos números do primeiro trimestre, estão aí para indicar que pelo menos parte da tarefa de esfriar o ambiente não necessitaria da colaboração de uma elevação mais agressiva dos juros".


Ele argumenta que a economia dá sinais de que “as pressões inflacionárias, ainda que permaneçam em níveis relativamente altos, mais perto do teto do que do centro da meta de inflação, tendem a aliviar”.

Então, por que o BC empurrou com força os juros para cima?

Kupfer conclui:

Tudo indica, porém, que prevaleceram outros elementos, na formação da decisão do Copom. Poderia haver mais abalos na sua credibilidade se a alta de juros não fosse forte o suficiente para se alinhar com a sequência de pronunciamentos mais duros do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e de alguns de seus diretores, em contraponto às acusações de leniência com a alta de preços.

Ou seja, mostraram ao “deus-mercado” que são bons fiéis, pessoas “confiáveis” que, entre o país e a divindade, não hesitam em imolar o cordeiro.

Curioso é que, há um ano e meio, os papagaios do mercado acusaram o BC por estar tomando uma “decisão política”, não técnica. Agora, que o BC toma uma decisão claramente política, o silêncio, salvo raríssimas exceções, é geral.

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