Por Eduardo Sales, Marcelo Netto Rodrigues e Renato Godoy de Toledo, no jornal Brasil de Fato:
O Brasil parou. Cerca de um milhão de pessoas foram às ruas simultaneamente em 12 capitais e diversas cidades do país na última segunda-feira, 17 de junho. A frase do Movimento Passe Livre “Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar” se provou não ser apenas um slogan.
Outra surpresa foi que, ao menos em São Paulo (SP), pela primeira vez o número de confirmados em um evento marcado pelo Facebook praticamente se equiparou com o número de pessoas nas ruas. Das 285 mil que haviam dito que participariam do Quinto Ato contra o aumento das passagens, 250 mil pessoas tomaram as ruas. A marcha, que saiu do Largo da Batata, num determinado momento, se subdividiu em três colunas principais. A maior subiu a avenida Brigadeiro Luiz Antônio até a Paulista, percorrendo ao todo 8 km. Uma outra se encaminhou rumo ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, enquanto uma terceira seguiu em direção à sede da Rede Globo, no Brooklin.
Aos gritos de “Que coincidência, sem a polícia, não tem violência”, “Brasil, vamos acordar, o professor vale mais do que o Neymar” e “Vem pra rua, vem, contra o aumento”, os manifestantes da maior coluna caminharam ao longo de todo o trajeto sem que um carro da polícia fosse avistado. O mesmo aconteceu com os helicópteros das redes de TV que estranhamente não sobrevoavam a manifestação. Havia apenas um helicóptero da polícia.
Perigo conservador
Inicialmente, a mídia condenou veementemente as manifestações, classificou os jovens como vândalos e ressaltou a presença de uma classe média sem motivos para revolta. Aos poucos, sobretudo após a brutal ação dos policiais paulistas que feriu 8 jornalistas e centenas de manifestantes, a imprensa começou a demonstrar simpatia e tentou contagiar o movimento com suas pautas, como a condenação de “mensaleiros”, o repúdio à PEC 37 e a violência urbana.
O comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor, foi um dos primeiros a condenar a ação dos “vândalos”, porém, uma semana depois, voltou atrás e disse estar equivocado. Defendeu os jovens e lhes sugeriu bandeiras como a questão da corrupção e a celeridade em obras do PAC. Outros comentaristas conservadores, como Luiz Felipe Pondé, também passaram a mostrar interesse pelo levante dos jovens. A própria revista Veja estampou na capa uma sugestão para os próximos passos da “revolta dos jovens” - a corrupção e a violência urbana.
Membros do movimento pela tarifa zero demonstraram-se preocupados com a inclusão de temas defendidos por conservadores. Para eles, isto pode enfraquecer a luta pela revogação imediata do aumento das tarifas. De fato, nas manifestações de São Paulo, algumas das pautas preferidas pela mídia desfilaram nas ruas, como a redução da maioridade penal e o pedido de prisão para “mensaleiros”, ainda que dispersas em meio a uma maioria que bradava pela redução da tarifa e até mesmo exibia cartazes contrários aos meios de comunicação. Alguns portadores de cartazes, já percebendo essa manobra de transformar um protesto legítimo em uma ação despolitizante “contra a corrupção”, de luta “por direitos” e de que finalmente o Brasil “acordou”, traziam consigo frases como “Se você acordou agora, saiba que a periferia nunca dormiu” ou “Saiba que já têm brasileiros acordados há tempos, você que não dava bola”.
Rio e Brasília
No Rio de Janeiro (RJ) as manifestações contaram com com mais de 150 mil pessoas. Para proteger a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), policiais militares utilizaram fuzis e pistolas contra as pessoas.
Em Brasília (DF), 5 mil jovens ocuparam a laje do Congresso Nacional. Além de São Paulo, Rio e Brasília, houve protestos nas seguintes capitais: Belo Horizonte, Fortaleza, Vitória, Maceió, Belém, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Recife.
Manifestações simultâneas e com esses números não ocorriam no país desde o movimento que derrubou Fernando Collor, em 1992.
Os protestos contra o aumento da tarifa de ônibus somaram-se às críticas aos gastos e remoções promovidos pela Copa das Confederações, evento teste para a Copa do Mundo de 2014.
Em mais de 27 cidades no mundo, manifestantes se solidarizaram com os movimentos do Brasil e da Turquia – que passa por um momento de resistência na praça Gezi, em Istambul.
O Brasil parou. Cerca de um milhão de pessoas foram às ruas simultaneamente em 12 capitais e diversas cidades do país na última segunda-feira, 17 de junho. A frase do Movimento Passe Livre “Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar” se provou não ser apenas um slogan.
Outra surpresa foi que, ao menos em São Paulo (SP), pela primeira vez o número de confirmados em um evento marcado pelo Facebook praticamente se equiparou com o número de pessoas nas ruas. Das 285 mil que haviam dito que participariam do Quinto Ato contra o aumento das passagens, 250 mil pessoas tomaram as ruas. A marcha, que saiu do Largo da Batata, num determinado momento, se subdividiu em três colunas principais. A maior subiu a avenida Brigadeiro Luiz Antônio até a Paulista, percorrendo ao todo 8 km. Uma outra se encaminhou rumo ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, enquanto uma terceira seguiu em direção à sede da Rede Globo, no Brooklin.
Aos gritos de “Que coincidência, sem a polícia, não tem violência”, “Brasil, vamos acordar, o professor vale mais do que o Neymar” e “Vem pra rua, vem, contra o aumento”, os manifestantes da maior coluna caminharam ao longo de todo o trajeto sem que um carro da polícia fosse avistado. O mesmo aconteceu com os helicópteros das redes de TV que estranhamente não sobrevoavam a manifestação. Havia apenas um helicóptero da polícia.
Perigo conservador
Inicialmente, a mídia condenou veementemente as manifestações, classificou os jovens como vândalos e ressaltou a presença de uma classe média sem motivos para revolta. Aos poucos, sobretudo após a brutal ação dos policiais paulistas que feriu 8 jornalistas e centenas de manifestantes, a imprensa começou a demonstrar simpatia e tentou contagiar o movimento com suas pautas, como a condenação de “mensaleiros”, o repúdio à PEC 37 e a violência urbana.
O comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor, foi um dos primeiros a condenar a ação dos “vândalos”, porém, uma semana depois, voltou atrás e disse estar equivocado. Defendeu os jovens e lhes sugeriu bandeiras como a questão da corrupção e a celeridade em obras do PAC. Outros comentaristas conservadores, como Luiz Felipe Pondé, também passaram a mostrar interesse pelo levante dos jovens. A própria revista Veja estampou na capa uma sugestão para os próximos passos da “revolta dos jovens” - a corrupção e a violência urbana.
Membros do movimento pela tarifa zero demonstraram-se preocupados com a inclusão de temas defendidos por conservadores. Para eles, isto pode enfraquecer a luta pela revogação imediata do aumento das tarifas. De fato, nas manifestações de São Paulo, algumas das pautas preferidas pela mídia desfilaram nas ruas, como a redução da maioridade penal e o pedido de prisão para “mensaleiros”, ainda que dispersas em meio a uma maioria que bradava pela redução da tarifa e até mesmo exibia cartazes contrários aos meios de comunicação. Alguns portadores de cartazes, já percebendo essa manobra de transformar um protesto legítimo em uma ação despolitizante “contra a corrupção”, de luta “por direitos” e de que finalmente o Brasil “acordou”, traziam consigo frases como “Se você acordou agora, saiba que a periferia nunca dormiu” ou “Saiba que já têm brasileiros acordados há tempos, você que não dava bola”.
Rio e Brasília
No Rio de Janeiro (RJ) as manifestações contaram com com mais de 150 mil pessoas. Para proteger a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), policiais militares utilizaram fuzis e pistolas contra as pessoas.
Em Brasília (DF), 5 mil jovens ocuparam a laje do Congresso Nacional. Além de São Paulo, Rio e Brasília, houve protestos nas seguintes capitais: Belo Horizonte, Fortaleza, Vitória, Maceió, Belém, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Recife.
Manifestações simultâneas e com esses números não ocorriam no país desde o movimento que derrubou Fernando Collor, em 1992.
Os protestos contra o aumento da tarifa de ônibus somaram-se às críticas aos gastos e remoções promovidos pela Copa das Confederações, evento teste para a Copa do Mundo de 2014.
Em mais de 27 cidades no mundo, manifestantes se solidarizaram com os movimentos do Brasil e da Turquia – que passa por um momento de resistência na praça Gezi, em Istambul.
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