Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Uma conjunção de manifestações de protesto transformou a região central de São Paulo num campo de batalha na noite de terça-feira (11/6), paralisando o trânsito em algumas das principais vias da cidade e deixando um rastro de destruição como há muito tempo não se via na capital paulista.
Além dos jovens integrantes do Movimento Passe Livre, que haviam passado a manhã arregimentando estudantes em várias escolas para uma passeata marcada para a área da Avenida Paulista, convergiram para o local, durante a tarde, servidores da Secretaria de Estado da Saúde e delegados da Polícia Civil, que estão em campanha salarial.
Os jornais fizeram a crônica do evento em suas edições digitais, registrando as primeiras concentrações, que começaram logo após o almoço, e descrevendo as providências tomadas pela Polícia Militar e pelo serviço de segurança do Metrô. Durante a tarde, os grupos de interesses diversos foram se aglomerando até que uma pista da Avenida Paulista foi bloqueada e a massa começou a se movimentar.
A multidão se deslocou por avenidas do centro, onde grupos de vândalos passaram a atacar sedes de bancos e casas de comércio. Além de vitrinas despedaçadas, automóveis destruídos e ônibus incendiados, houve agressões e tentativas de linchamento.
Na cobertura que se originou em boletins na internet e culmina com os textos e imagens selecionados para as edições de papel, na quarta-feira (12/6), os jornais evitam ponderar sobre as responsabilidades específicas do governador do estado e do prefeito da capital, apenas registrando que ambos se encontram ausentes no momento da crise porque estão representando a candidatura de São Paulo a sede da Exposição Mundial de 2020, em Paris. Depois da Copa do Mundo e da Olimpíada, a Expo 2020 é considerada outra grande oportunidade para atrair investimentos para o Brasil.
Uma situação de instabilidade social pode prejudicar as intenções brasileiras? Depende de como isso vai repercutir na imprensa internacional. Mais interessante é observar como a imprensa nacional trabalha esse conjunto de descontentamentos e o relaciona com deslocamentos nos indicadores de aprovação da presidente da República, do governador do estado e do prefeito da capital.
Massa de manobra
Nesta “era da incerteza” – para citar o pensamento de John Kenneth Galbraith que editorialistas adoram usar como explicação para tudo que é indefinido – torna-se tarefa complicada identificar as origens de cada protesto. Mas os jornais divergem até mesmo quanto ao número de manifestantes: o Estado de S.Paulo diz que a polícia calculou entre dez mil e doze mil pessoas, a Folha de S. Paulo fica numa conta imprecisa, entre 2.500 e “mais de 5 mil”.
Em busca de uma suposta objetividade no varejo, o noticiário perde o rumo da análise sobre a natureza do evento. Para abordar essas questões de maneira mais ampla, seria preciso que a imprensa fosse menos direcionada para os fatos específicos e mais interessada nas problemáticas que esses acontecimentos representam. Uma imprensa assim estaria, curiosamente, mais próxima do ideal da objetividade, porque seria obrigada a expor as múltiplas facetas de cada evento que se apresenta com valor de notícia – e, como se sabe, a verdade nem sempre está onde é buscada, o que faz com que seja mais facilmente encontrada na diversidade.
Essa diversidade deve incluir, por exemplo, o fato evidente de que os organizadores do Movimento Passe Livre perderam o controle de sua própria iniciativa, e que mesmo os grupos mais organizados, como os de militantes do Partido dos Trabalhadores, do PSOL, PCO e PSTU acabaram alijados da liderança. A massa se transformou em turba, que promete eclodir novas ações nos próximos dias.
Os jornais enxergam à frente dos grupos, além de representantes de partidos “de esquerda”, punks, anarquistas, feministas, sem-teto e outros agrupamentos de interesses diversos. Os descontentamentos individuais têm razões impossíveis de identificar, e na soma deles o que sai às ruas é um bando de rebeldes sem causa comum, massa de manobra à disposição de aventureiros.
O caráter difuso das motivações pode ampliar indefinidamente o número de participantes de futuras manifestações, mas reduz a força do movimento que lhes deu origem. Assim, quanto mais se ampliam os protestos, mais espaços se abrem para os oportunistas de todos os tipos e mais distante fica o movimento original de alcançar seu objetivo.
Já não se pode afirmar que as próximas manifestações serão contra a tarifa dos ônibus.
Além dos jovens integrantes do Movimento Passe Livre, que haviam passado a manhã arregimentando estudantes em várias escolas para uma passeata marcada para a área da Avenida Paulista, convergiram para o local, durante a tarde, servidores da Secretaria de Estado da Saúde e delegados da Polícia Civil, que estão em campanha salarial.
Os jornais fizeram a crônica do evento em suas edições digitais, registrando as primeiras concentrações, que começaram logo após o almoço, e descrevendo as providências tomadas pela Polícia Militar e pelo serviço de segurança do Metrô. Durante a tarde, os grupos de interesses diversos foram se aglomerando até que uma pista da Avenida Paulista foi bloqueada e a massa começou a se movimentar.
A multidão se deslocou por avenidas do centro, onde grupos de vândalos passaram a atacar sedes de bancos e casas de comércio. Além de vitrinas despedaçadas, automóveis destruídos e ônibus incendiados, houve agressões e tentativas de linchamento.
Na cobertura que se originou em boletins na internet e culmina com os textos e imagens selecionados para as edições de papel, na quarta-feira (12/6), os jornais evitam ponderar sobre as responsabilidades específicas do governador do estado e do prefeito da capital, apenas registrando que ambos se encontram ausentes no momento da crise porque estão representando a candidatura de São Paulo a sede da Exposição Mundial de 2020, em Paris. Depois da Copa do Mundo e da Olimpíada, a Expo 2020 é considerada outra grande oportunidade para atrair investimentos para o Brasil.
Uma situação de instabilidade social pode prejudicar as intenções brasileiras? Depende de como isso vai repercutir na imprensa internacional. Mais interessante é observar como a imprensa nacional trabalha esse conjunto de descontentamentos e o relaciona com deslocamentos nos indicadores de aprovação da presidente da República, do governador do estado e do prefeito da capital.
Massa de manobra
Nesta “era da incerteza” – para citar o pensamento de John Kenneth Galbraith que editorialistas adoram usar como explicação para tudo que é indefinido – torna-se tarefa complicada identificar as origens de cada protesto. Mas os jornais divergem até mesmo quanto ao número de manifestantes: o Estado de S.Paulo diz que a polícia calculou entre dez mil e doze mil pessoas, a Folha de S. Paulo fica numa conta imprecisa, entre 2.500 e “mais de 5 mil”.
Em busca de uma suposta objetividade no varejo, o noticiário perde o rumo da análise sobre a natureza do evento. Para abordar essas questões de maneira mais ampla, seria preciso que a imprensa fosse menos direcionada para os fatos específicos e mais interessada nas problemáticas que esses acontecimentos representam. Uma imprensa assim estaria, curiosamente, mais próxima do ideal da objetividade, porque seria obrigada a expor as múltiplas facetas de cada evento que se apresenta com valor de notícia – e, como se sabe, a verdade nem sempre está onde é buscada, o que faz com que seja mais facilmente encontrada na diversidade.
Essa diversidade deve incluir, por exemplo, o fato evidente de que os organizadores do Movimento Passe Livre perderam o controle de sua própria iniciativa, e que mesmo os grupos mais organizados, como os de militantes do Partido dos Trabalhadores, do PSOL, PCO e PSTU acabaram alijados da liderança. A massa se transformou em turba, que promete eclodir novas ações nos próximos dias.
Os jornais enxergam à frente dos grupos, além de representantes de partidos “de esquerda”, punks, anarquistas, feministas, sem-teto e outros agrupamentos de interesses diversos. Os descontentamentos individuais têm razões impossíveis de identificar, e na soma deles o que sai às ruas é um bando de rebeldes sem causa comum, massa de manobra à disposição de aventureiros.
O caráter difuso das motivações pode ampliar indefinidamente o número de participantes de futuras manifestações, mas reduz a força do movimento que lhes deu origem. Assim, quanto mais se ampliam os protestos, mais espaços se abrem para os oportunistas de todos os tipos e mais distante fica o movimento original de alcançar seu objetivo.
Já não se pode afirmar que as próximas manifestações serão contra a tarifa dos ônibus.
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