Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os jornais do final de semana dão repercussão à pesquisa Datafolha que mostra importantes mudanças no cenário de intenções de voto para a Presidência da República em 2014. O principal destaque da Folha de S.Paulo no domingo (30/6) era a queda na aprovação do governo da presidente Dilma Rousseff e um quadro de incertezas quanto às chances de cada um dos supostos candidatos dos demais partidos.
Na segunda-feira (1/7), o jornal traz na manchete resultados de pesquisas também sobre o governo paulista e a prefeitura da capital, bem como sobre a popularidade do governador fluminense e do prefeito do Rio.
Num recorte geral, pode-se afirmar que a onda de manifestações atingiu principalmente o poder Executivo nas suas três instâncias – federal, estadual e municipal – mas nada garante que a situação seja melhor em relação aos demais poderes da República.
O que essas pesquisas estão indicando, e alguns analistas registram, não é apenas o desgaste dos políticos, mas da política em geral. Personagens identificados com mudanças nas práticas do poder, como o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, e a ex-senadora Marina Silva, aparecem como os principais beneficiários da queda na popularidade da presidente, mas a verdadeira estrela da pesquisa ainda é o ex-presidente Lula da Silva. Mesmo não sendo cotado como candidato em 2014, ele aparece como o único capaz de vencer a eleição presidencial no primeiro turno.
Pesquisas, pelo menos no tipo de consulta que costuma ser feita pelo Datafolha, altamente influenciada pelo noticiário do próprio jornal que criou o instituto, são um instantâneo que não revela necessariamente uma tendência ou um fluxo de opiniões de longo prazo.
No caso da insatisfação com o governo federal, pode bastar uma troca de ministros e algumas medidas pontuais, principalmente nas questões econômicas, e um pouco de ar fresco nas relações com o Congresso, para reverter expectativas. No caso do governador paulista, a ocorrência de um crime chocante, como o assassinato do menino boliviano de cinco anos de idade, na sexta-feira (28/6), pode induzir uma grande porcentagem de cidadãos a engrossar o coro dos descontentes.
No rastro dos indicadores, a imprensa também aproveita para reafirmar suas preferências.
“Tudo isso que está aí”
O fato real, pano de fundo dos indicadores que enchem de preocupação candidatos e seus assessores de campanha, é certo descontentamento difuso que se expressou nas manifestações massivas das últimas três semanas. No entanto, parte dessa insatisfação pode ser superada por eventos que nada têm a ver com a política, como a vitória da seleção brasileira na Copa das Confederações, associados a um longo período sem crimes de grande repercussão e bonança na economia.
A rigor, ninguém sabe exatamente o que tem levado as multidões às ruas, além de um indefinido sentimento de insatisfação “com tudo isso que está aí”. Acontece que “tudo que está aí” só está aí porque vivemos numa democracia, e o desafio da imprensa é noticiar as manifestações de descontentamento, sem colocar em risco a própria democracia.
Na semana passada, a passeata dos que defendem a volta da ditadura militar não passou de trinta pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, que acabaram dissolvidas no desencontro de pequenos grupos que saíram às ruas com pautas variadas. Ainda há quem pretenda cancelar a Copa do Mundo, assim como aqueles que querem simplesmente tirar da cena o deputado Marco Feliciano, e o risco maior ainda é o da ação de oportunistas, sempre dispostos a embarcar nos movimentos majoritários com suas pautas nem sempre legítimas.
Em alguns lugares, pode-se observar claramente que os transtornos causados pelos manifestantes misturam interesses de todos os tipos com certa inoperância das autoridades encarregadas de reduzir as perdas da população que não participa do movimento.
No domingo (30), em Belo Horizonte, cerca de 50 moradores da cidade de Vespasiano fecharam o principal acesso ao aeroporto de Confins, prejudicando centenas de passageiros que precisavam viajar. Eles reclamavam contra a falta de ônibus na região e por problemas no abastecimento de água. Quando a polícia desviou o trânsito, cinco adolescentes tentaram bloquear também a rodovia MG-424, agravando o congestionamento.
Num país emergente, assim como nos países pobres ou nas nações desenvolvidas que passam por crises, sempre há motivos para protesto, mas, ao juntar tudo num mesmo balaio, a imprensa faz parecer que o Brasil inteiro está conflagrado.
Na segunda-feira (1/7), o jornal traz na manchete resultados de pesquisas também sobre o governo paulista e a prefeitura da capital, bem como sobre a popularidade do governador fluminense e do prefeito do Rio.
Num recorte geral, pode-se afirmar que a onda de manifestações atingiu principalmente o poder Executivo nas suas três instâncias – federal, estadual e municipal – mas nada garante que a situação seja melhor em relação aos demais poderes da República.
O que essas pesquisas estão indicando, e alguns analistas registram, não é apenas o desgaste dos políticos, mas da política em geral. Personagens identificados com mudanças nas práticas do poder, como o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, e a ex-senadora Marina Silva, aparecem como os principais beneficiários da queda na popularidade da presidente, mas a verdadeira estrela da pesquisa ainda é o ex-presidente Lula da Silva. Mesmo não sendo cotado como candidato em 2014, ele aparece como o único capaz de vencer a eleição presidencial no primeiro turno.
Pesquisas, pelo menos no tipo de consulta que costuma ser feita pelo Datafolha, altamente influenciada pelo noticiário do próprio jornal que criou o instituto, são um instantâneo que não revela necessariamente uma tendência ou um fluxo de opiniões de longo prazo.
No caso da insatisfação com o governo federal, pode bastar uma troca de ministros e algumas medidas pontuais, principalmente nas questões econômicas, e um pouco de ar fresco nas relações com o Congresso, para reverter expectativas. No caso do governador paulista, a ocorrência de um crime chocante, como o assassinato do menino boliviano de cinco anos de idade, na sexta-feira (28/6), pode induzir uma grande porcentagem de cidadãos a engrossar o coro dos descontentes.
No rastro dos indicadores, a imprensa também aproveita para reafirmar suas preferências.
“Tudo isso que está aí”
O fato real, pano de fundo dos indicadores que enchem de preocupação candidatos e seus assessores de campanha, é certo descontentamento difuso que se expressou nas manifestações massivas das últimas três semanas. No entanto, parte dessa insatisfação pode ser superada por eventos que nada têm a ver com a política, como a vitória da seleção brasileira na Copa das Confederações, associados a um longo período sem crimes de grande repercussão e bonança na economia.
A rigor, ninguém sabe exatamente o que tem levado as multidões às ruas, além de um indefinido sentimento de insatisfação “com tudo isso que está aí”. Acontece que “tudo que está aí” só está aí porque vivemos numa democracia, e o desafio da imprensa é noticiar as manifestações de descontentamento, sem colocar em risco a própria democracia.
Na semana passada, a passeata dos que defendem a volta da ditadura militar não passou de trinta pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, que acabaram dissolvidas no desencontro de pequenos grupos que saíram às ruas com pautas variadas. Ainda há quem pretenda cancelar a Copa do Mundo, assim como aqueles que querem simplesmente tirar da cena o deputado Marco Feliciano, e o risco maior ainda é o da ação de oportunistas, sempre dispostos a embarcar nos movimentos majoritários com suas pautas nem sempre legítimas.
Em alguns lugares, pode-se observar claramente que os transtornos causados pelos manifestantes misturam interesses de todos os tipos com certa inoperância das autoridades encarregadas de reduzir as perdas da população que não participa do movimento.
No domingo (30), em Belo Horizonte, cerca de 50 moradores da cidade de Vespasiano fecharam o principal acesso ao aeroporto de Confins, prejudicando centenas de passageiros que precisavam viajar. Eles reclamavam contra a falta de ônibus na região e por problemas no abastecimento de água. Quando a polícia desviou o trânsito, cinco adolescentes tentaram bloquear também a rodovia MG-424, agravando o congestionamento.
Num país emergente, assim como nos países pobres ou nas nações desenvolvidas que passam por crises, sempre há motivos para protesto, mas, ao juntar tudo num mesmo balaio, a imprensa faz parecer que o Brasil inteiro está conflagrado.
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