Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Os índices do Datafolha mostram que o país entrou em novo ambiente político quando faltam 16 meses para a eleição presidencial de 2014.
Para o governo Dilma, acabou a estratégia do piloto automático, de quem poderia, com base em altos índices de aprovação popular, apenas administrar o governo até o momento da votação.
Ao cair 27 pontos, Dilma permanece em posição de favoritismo - pelo menos até o primeiro turno - mas já enfrenta concorrentes de verdade.
Uma leitura cuidadosa do levantamento mostra que a presidente teve uma boa iniciativa ao assumir a direção dos debates sobre a reforma política. O mesmo eleitor que jogou sua aprovação para baixo aplaude a ideia de plebiscito, por 68%.
Mas é bom ver o que os números dizem sobre os candidatos.
Marina Silva deu o salto mais respeitável.
Joaquim Barbosa demonstrou que tem seu lugar entre uma parcela de eleitores, em especial de renda mais alta.
Aécio Neves cresceu mas paga o preço de ser o mais "político" dos concorrentes num ambiente de rejeição a tudo que representa a categoria.
Eduardo Campos ficou estatisticamente no mesmo lugar, situação que, se não se modificar rapidamente, coloca em questão o chamado espaço vital de sua candidatura.
Se essa situação for mantida até outubro de 2014, teremos eleição em dois turnos, o que é o pior cenário para Dilma.
Está claro que, após três derrotas consecutivas a partir de 2002, a oposição não escolherá candidato, prioritariamente. Sua prioridade é retirar o PT do Planalto, de qualquer maneira. Para isso, mesmo uma quarta (ou quinta) candidatura, de José Serra, pode ser benvinda.
A queda de Dilma ocorreu após três semanas de protestos imensos, que colocaram reivindicações legítimas.
Mas é obvio que a queda foi amplificada de modo gigantesco pelo comportamento da maioria dos meios de comunicação. Eles trataram as mobilizações com inédita simpatia, chegando a minimizar momentos de baderna e violência para não criar grande rejeição entre os espectadores.
Determinados analistas comparam a queda de Dilma com a queda que Fernando Collor enfrentou logo confisco de depósitos bancários, no distante ano de 1990. Mas, apesar do imenso prejuízo causado às famílias, por um plano que provocou comentários irônicos mesmo por parte de Fidel Castro, em seus primeiros momentos o confisco recebeu o apoio resignado da maior parte dos meios de comunicação. Foi elogiado pela ousadia, pela audácia, porque não havia outro jeito, sei mais o que.
Dilma não teve direito a nenhum tipo de refresco. Politizados, ajudando a construir o discurso oposicionista, os meios de comunicação atuaram como parte de uma máquina ocupada em usar gritos e faixas das manifestações de rua para desgastar o governo pela direita e pela esquerda, por cima e por baixo, exibindo uma tolerância despudorada pela desordem que nem todos souberam compreender e aceitar no devido tempo.
Numa operação universal, até veteranos apresentadores de programa de auditório entraram na dança.
Jovens humoristas também.
A internet mostrou uma oposição mais ativa e organizada do que o governo. Estava pronta para o combate, com palavras-de-ordem que capturaram um movimento espontâneo, com alvos da vida cotidiana, para a denuncia global contra o governo federal. Colou o Fora Dilma aos 0,20 dos ônibus.
Numa atitude colonial, que demonstra até onde determinados adversários podem chegar, chegou-se a empregar até vídeos em inglês, com legendas em português, num recurso que tinha uma finalidade dupla.
Externamente, ajudavam a criar um ambiente de alarme e boicote, num esforço que poderia permitir, num segundo momento, ações concretas de governos estrangeiros contra o governo brasileiro.
Internamente, buscava-se produzir uma ilusão de ótica - a de que o país se encontra internacionalmente isolado, o que é errado e até ridículo após vitórias recentes, como a direção da OMC e a conquista de uma cadeira na Comissão de Direitos Humanos da OEA.
Nem tudo pode resumir-se a um conflito de máquinas de propaganda, porém. Os protestos trouxeram questões reais e reivindicações legítimas, muito além da motivação inicial, que era revogar o aumento da passagem de ônibus.
O dado da pesquisa é que Dilma não perdeu terreno entre os mais pobres mas entre os cidadãos com renda média e mais alta.
Conforme o DataFolha, a maioria dos brasileiros aponta a saúde pública como principal problema de sua existência. Isso quer dizer alguma coisa.
Estamos falando do ponto essencial do Estado de Bem-Estar, que o Brasil começou a colocar de pé, muito embrionariamente, após a Constituição de 1988 e, em especial, após a posse do governo Lula, quando os gastos sociais assumiram uma proporção inédita no orçamento federal.
Ao produzir uma evolução reconhecida na distribuição de renda, o desenvolvimento dos últimos anos jogou uma massa de milhões de famílias para aquele universo da chamada nova classe média, classe C, o que for. São pessoas com novas preocupações e prioridades. Uma delas é que, com uma renda maior, as vezes só um pouco maior, passam a pagar impostos maiores - e sentem-se, corretamente, no direito de fazer exigências mais elevadas junto aos poderes públicos.
São pessoas que com mais dinheiro no bolso, escaparam da má qualidade do SUS para cair nas arapucas dos planos privados, tão eficientes para cobrar mensalidades como incompetentes para prestar serviços prometidos.
Para fugir da má qualidade do ensino público, pagam mensalidades de escolas privadas - muitas de qualidade duvidosa, igualmente.
Esta é, a meu ver, a questão de fundo que irá dominar o debate nos próximos meses. O apoio ao plebiscito mostra que o governo Dilma tem um espaço para caminhar na ampliação do bem-estar.
Ao fugir, de qualquer maneira, de uma consulta popular, a oposição já deixou claro a imensa distancia que mantém em relação às exigências democráticas colocadas pelas ruas.
A eleição não será resolvida no debate sobre formas de governo ou financiamento de campanha mas em respostas concretas para a maioria da população.
Para o governo, a pergunta é o que fazer para recuperar o eleitor perdido.
Para a oposição, agora com nova audiência, a pergunta é que fazer para atrapalhar essa recuperação e consolidar uma situação que pode ser favorável em 2014.
A mensagem é esta.
Comprometida, de forma cada vez mais clara, com programas de enxugamento de gastos que conduzem, necessariamente, ao desmanche de serviços públicos, a oposição tem pouco a oferecer neste terreno. Seus candidatos podem variar, mas o eixo de suas preocupações é outro.
Trata-se de construir um Estado mínimo, que nem de longe será capaz de atender àquilo que a rua reclama. Não há como fingir: seu programa é a versão, verde-amarela, da austeridade que hoje conduz a Europa a ruína.
Vamos falar com clareza maior. A oposição brasileira tem evoluído para uma visão radicalizada e extremista de seu próprio conservadorismo.
Não convive com meias medidas nem reformismos leves, como o PMDB que fez a carta de 1988 ou mesmo o PSDB e sua fatia desenvolvimentista.
Se é possível fazer inúmeras críticas a condução da política econômica do governo Dilma, não custa lembrar que as principais ideias da oposição eram, invariavelmente, muito piores.
Em nome de uma prioridade duvidosa ao combate à inflação, defendiam medidas que fariam o desemprego explodir e o crescimento, já baixo, transformar-se em recessão.
Em vez de ir as ruas protestar por novos direitos, como agora, a população estaria mobilizada para defender o que possui.
Este é o debate que se inicia.
Os índices do Datafolha mostram que o país entrou em novo ambiente político quando faltam 16 meses para a eleição presidencial de 2014.
Para o governo Dilma, acabou a estratégia do piloto automático, de quem poderia, com base em altos índices de aprovação popular, apenas administrar o governo até o momento da votação.
Ao cair 27 pontos, Dilma permanece em posição de favoritismo - pelo menos até o primeiro turno - mas já enfrenta concorrentes de verdade.
Uma leitura cuidadosa do levantamento mostra que a presidente teve uma boa iniciativa ao assumir a direção dos debates sobre a reforma política. O mesmo eleitor que jogou sua aprovação para baixo aplaude a ideia de plebiscito, por 68%.
Mas é bom ver o que os números dizem sobre os candidatos.
Marina Silva deu o salto mais respeitável.
Joaquim Barbosa demonstrou que tem seu lugar entre uma parcela de eleitores, em especial de renda mais alta.
Aécio Neves cresceu mas paga o preço de ser o mais "político" dos concorrentes num ambiente de rejeição a tudo que representa a categoria.
Eduardo Campos ficou estatisticamente no mesmo lugar, situação que, se não se modificar rapidamente, coloca em questão o chamado espaço vital de sua candidatura.
Se essa situação for mantida até outubro de 2014, teremos eleição em dois turnos, o que é o pior cenário para Dilma.
Está claro que, após três derrotas consecutivas a partir de 2002, a oposição não escolherá candidato, prioritariamente. Sua prioridade é retirar o PT do Planalto, de qualquer maneira. Para isso, mesmo uma quarta (ou quinta) candidatura, de José Serra, pode ser benvinda.
A queda de Dilma ocorreu após três semanas de protestos imensos, que colocaram reivindicações legítimas.
Mas é obvio que a queda foi amplificada de modo gigantesco pelo comportamento da maioria dos meios de comunicação. Eles trataram as mobilizações com inédita simpatia, chegando a minimizar momentos de baderna e violência para não criar grande rejeição entre os espectadores.
Determinados analistas comparam a queda de Dilma com a queda que Fernando Collor enfrentou logo confisco de depósitos bancários, no distante ano de 1990. Mas, apesar do imenso prejuízo causado às famílias, por um plano que provocou comentários irônicos mesmo por parte de Fidel Castro, em seus primeiros momentos o confisco recebeu o apoio resignado da maior parte dos meios de comunicação. Foi elogiado pela ousadia, pela audácia, porque não havia outro jeito, sei mais o que.
Dilma não teve direito a nenhum tipo de refresco. Politizados, ajudando a construir o discurso oposicionista, os meios de comunicação atuaram como parte de uma máquina ocupada em usar gritos e faixas das manifestações de rua para desgastar o governo pela direita e pela esquerda, por cima e por baixo, exibindo uma tolerância despudorada pela desordem que nem todos souberam compreender e aceitar no devido tempo.
Numa operação universal, até veteranos apresentadores de programa de auditório entraram na dança.
Jovens humoristas também.
A internet mostrou uma oposição mais ativa e organizada do que o governo. Estava pronta para o combate, com palavras-de-ordem que capturaram um movimento espontâneo, com alvos da vida cotidiana, para a denuncia global contra o governo federal. Colou o Fora Dilma aos 0,20 dos ônibus.
Numa atitude colonial, que demonstra até onde determinados adversários podem chegar, chegou-se a empregar até vídeos em inglês, com legendas em português, num recurso que tinha uma finalidade dupla.
Externamente, ajudavam a criar um ambiente de alarme e boicote, num esforço que poderia permitir, num segundo momento, ações concretas de governos estrangeiros contra o governo brasileiro.
Internamente, buscava-se produzir uma ilusão de ótica - a de que o país se encontra internacionalmente isolado, o que é errado e até ridículo após vitórias recentes, como a direção da OMC e a conquista de uma cadeira na Comissão de Direitos Humanos da OEA.
Nem tudo pode resumir-se a um conflito de máquinas de propaganda, porém. Os protestos trouxeram questões reais e reivindicações legítimas, muito além da motivação inicial, que era revogar o aumento da passagem de ônibus.
O dado da pesquisa é que Dilma não perdeu terreno entre os mais pobres mas entre os cidadãos com renda média e mais alta.
Conforme o DataFolha, a maioria dos brasileiros aponta a saúde pública como principal problema de sua existência. Isso quer dizer alguma coisa.
Estamos falando do ponto essencial do Estado de Bem-Estar, que o Brasil começou a colocar de pé, muito embrionariamente, após a Constituição de 1988 e, em especial, após a posse do governo Lula, quando os gastos sociais assumiram uma proporção inédita no orçamento federal.
Ao produzir uma evolução reconhecida na distribuição de renda, o desenvolvimento dos últimos anos jogou uma massa de milhões de famílias para aquele universo da chamada nova classe média, classe C, o que for. São pessoas com novas preocupações e prioridades. Uma delas é que, com uma renda maior, as vezes só um pouco maior, passam a pagar impostos maiores - e sentem-se, corretamente, no direito de fazer exigências mais elevadas junto aos poderes públicos.
São pessoas que com mais dinheiro no bolso, escaparam da má qualidade do SUS para cair nas arapucas dos planos privados, tão eficientes para cobrar mensalidades como incompetentes para prestar serviços prometidos.
Para fugir da má qualidade do ensino público, pagam mensalidades de escolas privadas - muitas de qualidade duvidosa, igualmente.
Esta é, a meu ver, a questão de fundo que irá dominar o debate nos próximos meses. O apoio ao plebiscito mostra que o governo Dilma tem um espaço para caminhar na ampliação do bem-estar.
Ao fugir, de qualquer maneira, de uma consulta popular, a oposição já deixou claro a imensa distancia que mantém em relação às exigências democráticas colocadas pelas ruas.
A eleição não será resolvida no debate sobre formas de governo ou financiamento de campanha mas em respostas concretas para a maioria da população.
Para o governo, a pergunta é o que fazer para recuperar o eleitor perdido.
Para a oposição, agora com nova audiência, a pergunta é que fazer para atrapalhar essa recuperação e consolidar uma situação que pode ser favorável em 2014.
A mensagem é esta.
Comprometida, de forma cada vez mais clara, com programas de enxugamento de gastos que conduzem, necessariamente, ao desmanche de serviços públicos, a oposição tem pouco a oferecer neste terreno. Seus candidatos podem variar, mas o eixo de suas preocupações é outro.
Trata-se de construir um Estado mínimo, que nem de longe será capaz de atender àquilo que a rua reclama. Não há como fingir: seu programa é a versão, verde-amarela, da austeridade que hoje conduz a Europa a ruína.
Vamos falar com clareza maior. A oposição brasileira tem evoluído para uma visão radicalizada e extremista de seu próprio conservadorismo.
Não convive com meias medidas nem reformismos leves, como o PMDB que fez a carta de 1988 ou mesmo o PSDB e sua fatia desenvolvimentista.
Se é possível fazer inúmeras críticas a condução da política econômica do governo Dilma, não custa lembrar que as principais ideias da oposição eram, invariavelmente, muito piores.
Em nome de uma prioridade duvidosa ao combate à inflação, defendiam medidas que fariam o desemprego explodir e o crescimento, já baixo, transformar-se em recessão.
Em vez de ir as ruas protestar por novos direitos, como agora, a população estaria mobilizada para defender o que possui.
Este é o debate que se inicia.
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