Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Em meio a este longo e rigoroso inverno de más notícias, fomos surpreendidos nesta segunda-feira com uma ótima novidade: nos últimos 20 anos, o desenvolvimento humano no Brasil cresceu 47,5%, saindo da avaliação "muito baixo" para "alto", segundo o IDHM medido pela ONU em 185 países.
Nem seria uma grande novidade para quem costuma viajar pelos quatro cantos do país e pode ver a olho nu como a vida do brasileiro melhorou neste período. Quem se informa apenas pela grande imprensa, porém, deve ter levado um susto, já que está habituado a encontrar apenas tragédias, crises e desgraças em geral, como se o nosso país estivesse a um passo do abismo.
Posso imaginar a dificuldade dos editores para lidar com os novos números calculados com base nos censos de 1991, 2000 e 2010, mostrando que, em apenas duas décadas, a percentagem de municípios brasileiros com índice "muito baixo", que era de 85,8% no início dos anos 90, caiu para 0,6%.
Para não dar o braço a torcer, meus colegas pinçaram números ainda negativos em várias áreas e regiões do país, gastando todo o estoque de conjunções adversativas. É raro encontrar um título ou texto que não contenha as palavras "mas, todavia, embora, entretanto, contudo..."
"Cidades avançam, mas educação é ponto fraco", mancheteia a Folha de S. Paulo em sua na primeira página.
O carioca O Globo, ainda às voltas com o Papa, que não deu manchete para o assunto na capa, e só publicou uma chamada no pé de página sobre os indicadores do Rio, afirma exatamente o contrário do jornal paulista:
"Avanços na educação puxam melhora dos municípios do país", publica o jornal na página 27, acrescentando: No quesito, salto foi de 128%, contra avanço médio de 47%. Mas indicador ainda está aquém de renda e saúde".
E daí?, pergunto. O índice de Desenvolvimento Humano Municipal mede diversos fatores: riqueza, alfabetização, educação, expectativa de vida, entre outros. Claro que nem todos se desenvolvem da mesma forma em todos os municípios, mas importante é o que disse o pesquisador Jorge Chefiek, representante no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), órgão da ONU, ao anunciar os números de 2013:
"O Brasil tem mostrado ao mundo que é possível, em pouco tempo, mudar a situação de um país".
O índice brasileiro subiu de 0,499, em 1991, para 0,727, em 2010, ainda bem longe da Noruega (0.955), que tem o melhor padrão de vida do mundo, mas não era possível imaginar que sairíamos da condição de pobre país do terceiro mundo para os níveis dos países nórdicos num país tão desigual e ainda injusto como é o nosso.
É evidente que Norte e Nordeste ainda apresentam os índices mais baixos, mas o que a pesquisa mostrou de mais importante foi a diminuição das desigualdades, tanto de uma região para outra, como entre uma classe social e outra, com a renda dos mais pobres crescendo bem acima da média dos mais ricos.
Pude ver de perto estas mudanças ao fazer uma longa reportagem no Nordeste para a revista "Brasileiros", uns três anos atrás, quando encontrei muitos moradores que antes viviam sem água e sem luz e agora tinham pelo menos o básico para a sobrevivência, as cisternas se multiplicando por todo o sertão e os prédios residenciais e industriais pipocando nas capitais da região. "Lembro-me que o título da matéria foi "O Brasil que cresce mais do que o Brasil". Em vez de emigrar para o sul, constatei que muitos nordestinos estavam voltando para suas terras de origem, invertendo o processo migratório.
O maior problema é que, com todo o noticiário da grande mídia, geralmente negativo, concentrado em Brasília, Rio e São Paulo, o Brasil não conhece o Brasil - é preciso vir um PNUD da vida para nos mostrar que o Brasil vem avançando em todas as áreas e que a expectativa de vida, em consequência destas melhorias, já é de 79 anos. Espero chegar lá, mesmo não sendo norueguês...
Nem seria uma grande novidade para quem costuma viajar pelos quatro cantos do país e pode ver a olho nu como a vida do brasileiro melhorou neste período. Quem se informa apenas pela grande imprensa, porém, deve ter levado um susto, já que está habituado a encontrar apenas tragédias, crises e desgraças em geral, como se o nosso país estivesse a um passo do abismo.
Posso imaginar a dificuldade dos editores para lidar com os novos números calculados com base nos censos de 1991, 2000 e 2010, mostrando que, em apenas duas décadas, a percentagem de municípios brasileiros com índice "muito baixo", que era de 85,8% no início dos anos 90, caiu para 0,6%.
Para não dar o braço a torcer, meus colegas pinçaram números ainda negativos em várias áreas e regiões do país, gastando todo o estoque de conjunções adversativas. É raro encontrar um título ou texto que não contenha as palavras "mas, todavia, embora, entretanto, contudo..."
"Cidades avançam, mas educação é ponto fraco", mancheteia a Folha de S. Paulo em sua na primeira página.
O carioca O Globo, ainda às voltas com o Papa, que não deu manchete para o assunto na capa, e só publicou uma chamada no pé de página sobre os indicadores do Rio, afirma exatamente o contrário do jornal paulista:
"Avanços na educação puxam melhora dos municípios do país", publica o jornal na página 27, acrescentando: No quesito, salto foi de 128%, contra avanço médio de 47%. Mas indicador ainda está aquém de renda e saúde".
E daí?, pergunto. O índice de Desenvolvimento Humano Municipal mede diversos fatores: riqueza, alfabetização, educação, expectativa de vida, entre outros. Claro que nem todos se desenvolvem da mesma forma em todos os municípios, mas importante é o que disse o pesquisador Jorge Chefiek, representante no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), órgão da ONU, ao anunciar os números de 2013:
"O Brasil tem mostrado ao mundo que é possível, em pouco tempo, mudar a situação de um país".
O índice brasileiro subiu de 0,499, em 1991, para 0,727, em 2010, ainda bem longe da Noruega (0.955), que tem o melhor padrão de vida do mundo, mas não era possível imaginar que sairíamos da condição de pobre país do terceiro mundo para os níveis dos países nórdicos num país tão desigual e ainda injusto como é o nosso.
É evidente que Norte e Nordeste ainda apresentam os índices mais baixos, mas o que a pesquisa mostrou de mais importante foi a diminuição das desigualdades, tanto de uma região para outra, como entre uma classe social e outra, com a renda dos mais pobres crescendo bem acima da média dos mais ricos.
Pude ver de perto estas mudanças ao fazer uma longa reportagem no Nordeste para a revista "Brasileiros", uns três anos atrás, quando encontrei muitos moradores que antes viviam sem água e sem luz e agora tinham pelo menos o básico para a sobrevivência, as cisternas se multiplicando por todo o sertão e os prédios residenciais e industriais pipocando nas capitais da região. "Lembro-me que o título da matéria foi "O Brasil que cresce mais do que o Brasil". Em vez de emigrar para o sul, constatei que muitos nordestinos estavam voltando para suas terras de origem, invertendo o processo migratório.
O maior problema é que, com todo o noticiário da grande mídia, geralmente negativo, concentrado em Brasília, Rio e São Paulo, o Brasil não conhece o Brasil - é preciso vir um PNUD da vida para nos mostrar que o Brasil vem avançando em todas as áreas e que a expectativa de vida, em consequência destas melhorias, já é de 79 anos. Espero chegar lá, mesmo não sendo norueguês...
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