Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
E a Globo piscou.
Admitiu que foi obrigada a pagar 615 milhões de reais à Receita Federal depois de ter sido pilhada numa trapaça fiscal.
A admissão veio numa nota oficial de extraordinário poder desmoralizante para a Globo. Mas o caso não terminou aí. A mesma fonte da Receita que vazou a informação voltou à carga com uma nova acusação explosiva: ao contrário do que a Globo disse, o acerto com o fisco não teria sido feito.
A dívida, portanto, perduraria.
O caso sensacional nasceu, como seria previsível, de um blog, e não de nenhum veículo da ‘mídia independente’.
Segundo documentos publicados pelo blog O Cafezinho, do jornalista Miguel do Rosário, a Globo tratou a compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002 como se fosse um investimento no exterior.
Para completar, se utilizou, na fraude, de um paraíso fiscal, as Ilhas Virgens.
Um caso tão importante foi tratado em regime de sigilo na justiça.
Como isso pôde ocorrer? Como a sociedade não teve acesso a informações tão relevantes?
É sempre assim? Ou a Globo goza de alguma proteção especial?
E o Ministério Público, como se comportou nesse caso?
Mesmo com um passivo tão forte por uma ação que daria cadeia em outros países a Globo continuou e continua a receber bilhões de publicidade dos cofres públicos: tudo bem? Não há defesa para os cofres públicos em circunstâncias assim? Nos últimos dez anos, mesmo com audiências cadentes em todas as suas plataformas, a Globo recebeu 6 bilhões de reais de publicidade oficial.
É assim mesmo que as coisas funcionam?
Há uma série de questões que devem ser respondidas, como se vê.
Até aqui, o maior mérito vai para Rosário, do Cafezinho.
Mas também deve ser elogiado o trabalho do repórter Ricardo Feltrin, do UOL, que a partir das informações do blog fez o que a mídia deveria fazer caso estivesse realmente interessada no bem do Brasil: foi atrás do caso.
Feltrin procurou a Globo com a força do UOL.
Recebeu inicialmente uma resposta-fantasia, “um eufemismo”, segundo ele.
Não havia mais nenhuma pendência.
Ele retornou. Disse que queria confirmar se a Globo pagara de fato uma multa de mais de 200 milhões de reais pelo que foi classificado como uma operação irregular.
A Globo então admitiu que sim.
E publicou uma nota.
É presumível que, diante das novas informações de O Cafezinho, Feltrin retorne ao assunto.
Tudo Isso não pode ficar assim, naturalmente. A complexa (e amplamente conhecida) relação da Globo com os impostos tem que ser submetida ao desinfetante da transparência.
É o interesse público que está em jogo.
Cadê a Folha, por exemplo, que diz ser um jornal a serviço do Brasil? Por que ela não cobre esse tipo de assunto?
Não é todo dia que aparece uma história que envolva tanto dinheiro na Receita Federal.
Há alguns meses, uma nota cifrada da coluna Radar, da Veja, falou numa outra disputa da Globo com a Receita na casa de 2,1 bilhões de reais.
Ninguém foi atrás. Nem a própria Veja, que deu a informação. Nem o editor do Radar, Lauro Jardim.
Que jornalismo é esse?
Um país em que as corporações acham que podem lidar com a Receita do jeito que querem não pode funcionar.
Onde o dinheiro para construir escolas ou hospitais, ou portos e aeroportos, se a Globo e outras companhias não pagam o imposto devido?
O contribuinte tem que saber mais sobre este caso e outro.
A Globo já se pronunciou, e a fonte da Receita a desmentiu.
A Receita agora tem que se manifestar oficialmente. As circunstâncias exigem.
Termino aqui com uma frase de dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias, no Rio.
Numa entrevista que o Diário publicou hoje no Essencial, dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias, disse uma frase que deveria entrar na alma de cada brasileiro.
Dom Mauro falava sobre as manifestações.
Não há maior corrupção, disse ele, do que um sistema que estimula a desigualdade social.
A Globo, como se viu no caso publicado pelo Cafezinho e seguido pelo UOL, é a expressão maior desse sistema de que falou o bispo.
Admitiu que foi obrigada a pagar 615 milhões de reais à Receita Federal depois de ter sido pilhada numa trapaça fiscal.
A admissão veio numa nota oficial de extraordinário poder desmoralizante para a Globo. Mas o caso não terminou aí. A mesma fonte da Receita que vazou a informação voltou à carga com uma nova acusação explosiva: ao contrário do que a Globo disse, o acerto com o fisco não teria sido feito.
A dívida, portanto, perduraria.
O caso sensacional nasceu, como seria previsível, de um blog, e não de nenhum veículo da ‘mídia independente’.
Segundo documentos publicados pelo blog O Cafezinho, do jornalista Miguel do Rosário, a Globo tratou a compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002 como se fosse um investimento no exterior.
Para completar, se utilizou, na fraude, de um paraíso fiscal, as Ilhas Virgens.
Um caso tão importante foi tratado em regime de sigilo na justiça.
Como isso pôde ocorrer? Como a sociedade não teve acesso a informações tão relevantes?
É sempre assim? Ou a Globo goza de alguma proteção especial?
E o Ministério Público, como se comportou nesse caso?
Mesmo com um passivo tão forte por uma ação que daria cadeia em outros países a Globo continuou e continua a receber bilhões de publicidade dos cofres públicos: tudo bem? Não há defesa para os cofres públicos em circunstâncias assim? Nos últimos dez anos, mesmo com audiências cadentes em todas as suas plataformas, a Globo recebeu 6 bilhões de reais de publicidade oficial.
É assim mesmo que as coisas funcionam?
Há uma série de questões que devem ser respondidas, como se vê.
Até aqui, o maior mérito vai para Rosário, do Cafezinho.
Mas também deve ser elogiado o trabalho do repórter Ricardo Feltrin, do UOL, que a partir das informações do blog fez o que a mídia deveria fazer caso estivesse realmente interessada no bem do Brasil: foi atrás do caso.
Feltrin procurou a Globo com a força do UOL.
Recebeu inicialmente uma resposta-fantasia, “um eufemismo”, segundo ele.
Não havia mais nenhuma pendência.
Ele retornou. Disse que queria confirmar se a Globo pagara de fato uma multa de mais de 200 milhões de reais pelo que foi classificado como uma operação irregular.
A Globo então admitiu que sim.
E publicou uma nota.
É presumível que, diante das novas informações de O Cafezinho, Feltrin retorne ao assunto.
Tudo Isso não pode ficar assim, naturalmente. A complexa (e amplamente conhecida) relação da Globo com os impostos tem que ser submetida ao desinfetante da transparência.
É o interesse público que está em jogo.
Cadê a Folha, por exemplo, que diz ser um jornal a serviço do Brasil? Por que ela não cobre esse tipo de assunto?
Não é todo dia que aparece uma história que envolva tanto dinheiro na Receita Federal.
Há alguns meses, uma nota cifrada da coluna Radar, da Veja, falou numa outra disputa da Globo com a Receita na casa de 2,1 bilhões de reais.
Ninguém foi atrás. Nem a própria Veja, que deu a informação. Nem o editor do Radar, Lauro Jardim.
Que jornalismo é esse?
Um país em que as corporações acham que podem lidar com a Receita do jeito que querem não pode funcionar.
Onde o dinheiro para construir escolas ou hospitais, ou portos e aeroportos, se a Globo e outras companhias não pagam o imposto devido?
O contribuinte tem que saber mais sobre este caso e outro.
A Globo já se pronunciou, e a fonte da Receita a desmentiu.
A Receita agora tem que se manifestar oficialmente. As circunstâncias exigem.
Termino aqui com uma frase de dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias, no Rio.
Numa entrevista que o Diário publicou hoje no Essencial, dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias, disse uma frase que deveria entrar na alma de cada brasileiro.
Dom Mauro falava sobre as manifestações.
Não há maior corrupção, disse ele, do que um sistema que estimula a desigualdade social.
A Globo, como se viu no caso publicado pelo Cafezinho e seguido pelo UOL, é a expressão maior desse sistema de que falou o bispo.
O que se poderia esperar de um "império midiático" que cresceu à sombra de uma ditadura?
ResponderExcluir