Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O presidente Lula teria 51% de votos, diz o Datafolha, e Fernando Rodrigues sublinha: só Lula venceria no primeiro turno.
Lula deixou o Planalto em janeiro de 2011. Passa boa parte de sua agenda fora do País, recusa a maioria dos pedidos de entrevista. Perseguido por notícias falsas sobre a saúde, amplificadas por um interesse político que ignora pareceres médicos, desconhecendo todo e qualquer escrúpulo moral na esperança desgastar e diminuir o ex-presidente, Lula seria eleito presidente – no primeiro turno.
Este aspecto faz dele um personagem único.
Seus 51% são uma proeza, reforçada pelo fato de que ele nega qualquer plano de disputar a sucessão. Não é candidato, diz que não é e não gosta que falem do assunto nem em tom de brincadeira. Fui testemunha disso.
Mas seu nome sobrevive na memória do eleitor e, de certa forma, em artimanhas de adversários.
Na falta de ideia melhor para abrir caminho para um concorrente de oposição, os meios de comunicação parecem ter estabelecido um namoro provisório com o ex-presidente. Obviamente não querem que Lula seja candidato e fariam um escândalo apocalíptico se ele viesse a anunciar a decisão. Voltariam a falar de chavismo – daí a importância de lembrar do câncer – e outras coisas mais.
Mas cultivam e alimentam essa possibilidade, hoje, porque este é um meio de enfraquecer Dilma, a candidata real do bloco político que chegou ao Planalto em 2003.
Imagino até que a presidente teria alguns pontinhos a mais na pesquisa se não houvesse um número razoável de eleitores que, preferindo Lula, torcendo por ele, evitam cravar o nome Dilma nas pesquisas de intenção de voto. Eleitores são inteligentíssimos.
Mas há novidades no ar das pesquisas.
O Datafolha lembra que Dilma Rousseff cresceu seis pontos e continua à frente das pesquisas para 2014. Ninguém sabe até onde a presidente pode avançar, mas está na cara que ela se encontra em recuperação. Inverteu a curva. Mais um motivo para os adversários lembrarem o Volta, Lula.
Diante dos números de Dilma, pergunto até quando nossos observadores políticos irão fingir que, novamente, não foram capazes de enxergar o óbvio em suas diversas manifestações.
Considerando o Datafolha de hoje, é divertido lembrar que as diversas compilações de nossos sábios, que procuravam mostrar respostas supostamente erradas, erráticas, distorcidas, irracionais, que o Planalto teria oferecido às manifestações.
Os números mostram que foi preciso cultivar um grau elevadíssimo de má vontade com o adversário para não perceber a relação entre os protestos contra “os políticos” e a proposta de reforma política elaborada pelo Planalto.
Claro que sempre se quis transformar protestos gerais contra instituições num ataque a Dilma, num "fora Dilma" – mas a política ensina que nunca é demais desconfiar de análises convenientes demais aos próprios interesses. É uma versão atualizada do ditado que diz que quando a esmola é demais, o santo deve desconfiar.
O saldo está aí. O Ibope informa que 85% da população quer a reforma. Virou uma proposta com mais aprovação do que a presidente. A reforma pode nem sair, mas é fácil perceber quem ganhou e quem perdeu no debate. E quem vai se desgastar toda vez que abrir a boca para falar mal dela.
No campo social, o programa de levar médicos para áreas carentes deixou de ser um problema para virar uma solução depois que o governo desistiu de falar que queria aumentar o número de médicos no País e, ao mesmo tempo, elevar em dois anos o prazo para que possam ser formados nas universidades.
Quando abandonou essa ideia dupla, o Planalto deixou o debate no foco necessário, que é o atendimento urgente a quem não tem a quem pedir socorro quando o filho está com dor de barriga, a mulher está em trabalho de parto e o marido foi atropelado.
Depois de tratar o protesto das entidades médicas como se fosse um movimento baseado no altruísmo, os meios de comunicação já exibem outra posição. Editorial do Globo alerta que o corporativismo dos médicos não pode sobrepor-se às necessidades da população.
Na economia, nem é bom comentar. Os leitores deste blog já foram lembrados, há meses, que a inflação estava em queda. Caiu todos os meses, a cada levantamento do IBGE.
A inflação também estava caindo quando os protestos de junho começaram. Mesmo assim, um numero razoável de observadores culpava “a alta dos preços” pelo comportamento da população, num exercício retórico que permitia sustentar que o governo federal era o principal responsável pelas vidraças quebradas, pelos pneus incendiados e pelo Itamaraty invadido.
Sabemos que o esforço para apresentar a inflação como um dragão fora de controle obedece a finalidades políticas e não econômicas. Desse ponto de vista, os números não têm importância.
O que importa é uma interpretação capaz de pressionar o governo pela mudança nas opções feitas por Dilma para tentar manter algum nível de crescimento num cenário internacional horroroso.
O que se quer é que ela siga elevando os juros. O resultado inevitável será mudar a faixa do emprego, que permanece no melhor patamar da história. Depois que se obtiveram desonerações bilionárias, pretende-se denunciar que as contas do governo ficaram ruins e que será preciso fazer cortes em investimentos e na área social.
Parece absurdo e até brincadeira, mas não é.
É política. No curto prazo, o plano é inviabilizar a reeleição de Dilma com um conjunto de medidas impopulares.
No longo prazo, o que se quer é retomar o controle da economia, recuperando ideias de austeridade e Estado mínimo em vigor na Europa e nos Estados Unidos de hoje. Por isso o coro sobre o dragão da inflação irá se manter, mesmo que ela continue baixa.
O desempenho sofrível dos adversários declarados de Dilma demonstra sua falta de contato com a vida real dos eleitores.
Aécio perdeu pontos, na última pesquisa, depois de aderir, justamente, à crítica de que o governo não controla gastos nem impede a alta da inflação. Caiu nos protestos e não conseguiu oferecer nenhuma resposta que lhe permita reerguer-se.
Com o propinoduto tucano, que deverá ocupar as atenções do mundo político nos próximos meses, a candidatura de Aécio pode perder mais musculatura.
Até porque já enfrenta outro grande escândalo tucano, o mensalão PSDB-MG, que ocorreu justamente em seu Estado.
Será possível criminalizar o adversário nesta situação e fazer silêncio sobre a principal fortaleza tucana?
Bem avaliado em Pernambuco, Eduardo Campos ainda não atravessou a fronteira que lhe permitiria ser competitivo no plano nacional, diz o levantamento.
Marina Silva cresceu e seria hoje a adversária de Dilma num segundo turno. Convém reparar que, a cada levantamento, Marina reforça a convicção de que não disputa o Planalto – mas é candidata a mito.
Não ouve, não fala e não vê. Não tem propostas para economia, nem se sabe se é a favor ou contra o Mais Médicos, a Reforma Política ou lá o que seja.
Diz que não é candidata de oposição nem de situação, recurso bisonho para agradar a todos, mas que pode ser de alto risco num país polarizado.
Para decepção de tantos aliados tão charmosos que surgiram em seu caminho, Marina está com dificuldade de formar seu partido político. Apoios prometidos não vieram e alianças quase consolidadas foram desfeitas.
Sou a favor de uma campanha com confronto de ideias e discussão de propostas. Com 20% dos votos em 2010, Marina Silva fala em nome de uma parcela real de brasileiros e sua candidatura é legítima.
Mas a opção por construir-se como uma candidata acima de tudo e de todos pode ter um preço. O maior deles é a dificuldade para articular aliados e parceiros para organizar o melhor instrumento já criado pelas democracias para defender ideais e projetos – um partido político.
Só espero que, se não aparecer peixe em sua rede, os amigos que Marina acumulou desde que deixou o governo Lula não apareçam mais uma vez para apresentá-la como vítima da truculência adversária, pedindo para mudar regras no meio do jogo.
Isso não seria bom para ninguém, certo?
O presidente Lula teria 51% de votos, diz o Datafolha, e Fernando Rodrigues sublinha: só Lula venceria no primeiro turno.
Lula deixou o Planalto em janeiro de 2011. Passa boa parte de sua agenda fora do País, recusa a maioria dos pedidos de entrevista. Perseguido por notícias falsas sobre a saúde, amplificadas por um interesse político que ignora pareceres médicos, desconhecendo todo e qualquer escrúpulo moral na esperança desgastar e diminuir o ex-presidente, Lula seria eleito presidente – no primeiro turno.
Este aspecto faz dele um personagem único.
Seus 51% são uma proeza, reforçada pelo fato de que ele nega qualquer plano de disputar a sucessão. Não é candidato, diz que não é e não gosta que falem do assunto nem em tom de brincadeira. Fui testemunha disso.
Mas seu nome sobrevive na memória do eleitor e, de certa forma, em artimanhas de adversários.
Na falta de ideia melhor para abrir caminho para um concorrente de oposição, os meios de comunicação parecem ter estabelecido um namoro provisório com o ex-presidente. Obviamente não querem que Lula seja candidato e fariam um escândalo apocalíptico se ele viesse a anunciar a decisão. Voltariam a falar de chavismo – daí a importância de lembrar do câncer – e outras coisas mais.
Mas cultivam e alimentam essa possibilidade, hoje, porque este é um meio de enfraquecer Dilma, a candidata real do bloco político que chegou ao Planalto em 2003.
Imagino até que a presidente teria alguns pontinhos a mais na pesquisa se não houvesse um número razoável de eleitores que, preferindo Lula, torcendo por ele, evitam cravar o nome Dilma nas pesquisas de intenção de voto. Eleitores são inteligentíssimos.
Mas há novidades no ar das pesquisas.
O Datafolha lembra que Dilma Rousseff cresceu seis pontos e continua à frente das pesquisas para 2014. Ninguém sabe até onde a presidente pode avançar, mas está na cara que ela se encontra em recuperação. Inverteu a curva. Mais um motivo para os adversários lembrarem o Volta, Lula.
Diante dos números de Dilma, pergunto até quando nossos observadores políticos irão fingir que, novamente, não foram capazes de enxergar o óbvio em suas diversas manifestações.
Considerando o Datafolha de hoje, é divertido lembrar que as diversas compilações de nossos sábios, que procuravam mostrar respostas supostamente erradas, erráticas, distorcidas, irracionais, que o Planalto teria oferecido às manifestações.
Os números mostram que foi preciso cultivar um grau elevadíssimo de má vontade com o adversário para não perceber a relação entre os protestos contra “os políticos” e a proposta de reforma política elaborada pelo Planalto.
Claro que sempre se quis transformar protestos gerais contra instituições num ataque a Dilma, num "fora Dilma" – mas a política ensina que nunca é demais desconfiar de análises convenientes demais aos próprios interesses. É uma versão atualizada do ditado que diz que quando a esmola é demais, o santo deve desconfiar.
O saldo está aí. O Ibope informa que 85% da população quer a reforma. Virou uma proposta com mais aprovação do que a presidente. A reforma pode nem sair, mas é fácil perceber quem ganhou e quem perdeu no debate. E quem vai se desgastar toda vez que abrir a boca para falar mal dela.
No campo social, o programa de levar médicos para áreas carentes deixou de ser um problema para virar uma solução depois que o governo desistiu de falar que queria aumentar o número de médicos no País e, ao mesmo tempo, elevar em dois anos o prazo para que possam ser formados nas universidades.
Quando abandonou essa ideia dupla, o Planalto deixou o debate no foco necessário, que é o atendimento urgente a quem não tem a quem pedir socorro quando o filho está com dor de barriga, a mulher está em trabalho de parto e o marido foi atropelado.
Depois de tratar o protesto das entidades médicas como se fosse um movimento baseado no altruísmo, os meios de comunicação já exibem outra posição. Editorial do Globo alerta que o corporativismo dos médicos não pode sobrepor-se às necessidades da população.
Na economia, nem é bom comentar. Os leitores deste blog já foram lembrados, há meses, que a inflação estava em queda. Caiu todos os meses, a cada levantamento do IBGE.
A inflação também estava caindo quando os protestos de junho começaram. Mesmo assim, um numero razoável de observadores culpava “a alta dos preços” pelo comportamento da população, num exercício retórico que permitia sustentar que o governo federal era o principal responsável pelas vidraças quebradas, pelos pneus incendiados e pelo Itamaraty invadido.
Sabemos que o esforço para apresentar a inflação como um dragão fora de controle obedece a finalidades políticas e não econômicas. Desse ponto de vista, os números não têm importância.
O que importa é uma interpretação capaz de pressionar o governo pela mudança nas opções feitas por Dilma para tentar manter algum nível de crescimento num cenário internacional horroroso.
O que se quer é que ela siga elevando os juros. O resultado inevitável será mudar a faixa do emprego, que permanece no melhor patamar da história. Depois que se obtiveram desonerações bilionárias, pretende-se denunciar que as contas do governo ficaram ruins e que será preciso fazer cortes em investimentos e na área social.
Parece absurdo e até brincadeira, mas não é.
É política. No curto prazo, o plano é inviabilizar a reeleição de Dilma com um conjunto de medidas impopulares.
No longo prazo, o que se quer é retomar o controle da economia, recuperando ideias de austeridade e Estado mínimo em vigor na Europa e nos Estados Unidos de hoje. Por isso o coro sobre o dragão da inflação irá se manter, mesmo que ela continue baixa.
O desempenho sofrível dos adversários declarados de Dilma demonstra sua falta de contato com a vida real dos eleitores.
Aécio perdeu pontos, na última pesquisa, depois de aderir, justamente, à crítica de que o governo não controla gastos nem impede a alta da inflação. Caiu nos protestos e não conseguiu oferecer nenhuma resposta que lhe permita reerguer-se.
Com o propinoduto tucano, que deverá ocupar as atenções do mundo político nos próximos meses, a candidatura de Aécio pode perder mais musculatura.
Até porque já enfrenta outro grande escândalo tucano, o mensalão PSDB-MG, que ocorreu justamente em seu Estado.
Será possível criminalizar o adversário nesta situação e fazer silêncio sobre a principal fortaleza tucana?
Bem avaliado em Pernambuco, Eduardo Campos ainda não atravessou a fronteira que lhe permitiria ser competitivo no plano nacional, diz o levantamento.
Marina Silva cresceu e seria hoje a adversária de Dilma num segundo turno. Convém reparar que, a cada levantamento, Marina reforça a convicção de que não disputa o Planalto – mas é candidata a mito.
Não ouve, não fala e não vê. Não tem propostas para economia, nem se sabe se é a favor ou contra o Mais Médicos, a Reforma Política ou lá o que seja.
Diz que não é candidata de oposição nem de situação, recurso bisonho para agradar a todos, mas que pode ser de alto risco num país polarizado.
Para decepção de tantos aliados tão charmosos que surgiram em seu caminho, Marina está com dificuldade de formar seu partido político. Apoios prometidos não vieram e alianças quase consolidadas foram desfeitas.
Sou a favor de uma campanha com confronto de ideias e discussão de propostas. Com 20% dos votos em 2010, Marina Silva fala em nome de uma parcela real de brasileiros e sua candidatura é legítima.
Mas a opção por construir-se como uma candidata acima de tudo e de todos pode ter um preço. O maior deles é a dificuldade para articular aliados e parceiros para organizar o melhor instrumento já criado pelas democracias para defender ideais e projetos – um partido político.
Só espero que, se não aparecer peixe em sua rede, os amigos que Marina acumulou desde que deixou o governo Lula não apareçam mais uma vez para apresentá-la como vítima da truculência adversária, pedindo para mudar regras no meio do jogo.
Isso não seria bom para ninguém, certo?
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