sábado, 21 de setembro de 2013

A bisbilhotagem patronal na rede

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Espero que os senhores do Ministério Público e da Ordem dos Advogados ajam preventivamente contra um absurdo que foi noticiado hoje pela Folha.

Diz lá que “a Social Figures, empresa australiana que desembarcou no Brasil há três anos com uma ferramenta de monitoramento de marca nas redes sociais, agora também vai rastrear candidatos a vagas de emprego”.

Ou seja, vai fornecer aos potenciais patrões a lista e as características das relações pessoais que os pretendentes a um emprego têm, para que assim possa ser verificado “seu perfil”.

Ora, isso é um abuso inaceitável. É uma porta aberta para a discriminação social, sexual, ideológica e tudo o mais que pode ser usado para misturar a vida pessoal de alguém com sua condição de trabalhador, que vende sua força de trabalho e não suas ideias e amizades.

A empresa procura se guardar, dizendo que só o faz com autorização do candidato e se limita a observar situações potencialmente danosas como racismo.

Uma pinóia! Você acha que um candidato a emprego, se solicitado, vai poder dizer que não tem e-mail, facebook, twitter? Mesmo que finja que não tem, em determinados empregos, será cortado de cara.

O próprio diretor da empresa o admite: “A coleta só é realizada se o usuário permitir. Caso ele não autorize, é a empresa que avalia se ele deve continuar no processo seletivo ou não”.

Ora, se a intenção é bisbilhotar - e é, tanto que a Justiça do Trabalho teve de inibir buscas em seu site, porque empresas iam xeretar se candidatos a empregos tinham o “péssimo hábito” de recorrer ao Judiciário por seus direitos – quem garante o que vai ou não ser levado em conta?

É preciso agir já para deixar claro que isso é um abuso passível de punição, antes que a moda destes “obaminhas patronais” pegue. Os sindicatos e associações de classe e de direitos civis têm de agora e logo pressionar o MP.

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