Por Renato Rovai, em seu blog:
Quem imaginou que as ruas de junho seriam uma tragédia para o governo pode estar começando a perder aposta. Apesar do desgaste que o movimento causou para a presidenta Dilma Roussef num primeiro momento, agora seus efeitos parecem começar a lhe render dividendos políticos. E não por acaso, mas porque um setor do governo que estava sem espaço por conta dos altos índices de aprovação da presidenta começou a ter mais protagonismo.
Há algum tempo o Ministério da Saúde programava lançar um pacote de iniciativas que teria como eixo central a contratação de médicos de outras nacionalidades caso as vagas abertas não fossem ocupadas por brasileiros. Mas o projeto não emplacava porque ponderava-se que, como a avaliação do governo era muito boa, implementá-lo à contragosto da classe médica poderia ser um risco desnecessário.
Acontece que para que o Mais Médicos acontecer, ele teria de enfrentar a resistência do corporativismo no setor. Não era possível fazer omelete nessa área sem quebrar ovos.
Quando a presidenta decidiu que precisava fazer um pronunciamento para dialogar com o movimento que estava nas ruas, chamou quase todos os ministros para conversar. Queria definir um programa mínimo para um pronunciamento de impacto. Foi dessas conversas que surgiu, por exemplo, a proposta de uma Constituinte exclusiva para a Reforma Política.
E também foi nessas conversas que o Mais Médicos passou a fazer parte da listas dos programas que poderiam ser apresentados. Consta, porém, que ainda naquele dia do pronunciamento o ministro Padilha teria deixado uma reunião com a presidenta Dilma sem que ela houvesse batido o martelo sobre a oportunidade de lançar o programa naquele contexto.
A decisão teria sido fechada numa conversa com João Santana que, provavelmente, a partir de leitura de pesquisas de opinião, deve ter percebido que o movimento que estava nas ruas não era contra Dilma, mas principalmente por melhorias em serviços públicos. E que mesmo o transporte sendo o tema central, o setor da saúde também precisava de um grande chacoalhão. Ou melhor, de uma ação marcante.
O fato de o Mais Médicos ter sido incluído naquele pronunciamento de 21 de junho, na forma de “vamos trazer milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento no Sistema Único de Saúde” parece ter sido fundamental para marcar um novo movimento dentro do governo, o de que havia chegado a hora de sair da zona de conforto. E de fazer política escolhendo lados.
Ainda é cedo para dizer isso, mas blogar é também arriscar. Arrisco dizer que o Mais Médicos por ter sido combatido de forma tão dura pela oposição, que assumiu a luta da corporação como se ela fosse uma causa de toda a sociedade, pode vir a ser o Bolsa Família de Dilma. Qualquer melhoria na saúde, vai se tornar melhoria na avaliação da presidenta. As pessoas vão entender que se não fosse ela, isso não aconteceria. Porque a oposição era contra. E não faria isso. E a população estará certa ao avaliar dessa forma. E Aécio e companhia não terão como fazer de conta que foram entusiastas da iniciativa.
Ontem Dilma deu mais uma cartada que tem seus riscos, porque tem lado. Ela que já havia pedido votação em caráter de urgência do Marco Civil, chamou uma reunião com os representantes do CGI e anunciou a posição do governo a favor da neutralidade na rede e contra a inclusão do parágrafo segundo, artigo 15, no texto do relator Alessandro Molon (PT-RJ).
O debate do Marco Civil da Internet é tratado, infelizmente, por alguns setores da esquerda como se fosse uma questão menor. Mas se trata de algo estratégico. E muita gente sabe disso e vai entender que ao assumir posição a favor das bandeiras da sociedade civil, Dilma se diferencia de seus adversários da eleição de 2014. Dificilmente os que a enfrentarão assumiriam um posicionamento com esse teor.
Como qualquer dos que a enfrentarão em 2014 teriam a dignidade de tratar Obama e os EUA com a altivez que a presidenta e o seu governo os trataram na tarde de hoje.
Ao desmarcar a visita aos EUA por conta de o governo daquele país não ter dado uma resposta à altura das denúncias sobre as ações de espionagem recentemente denunciadas, Dilma não só marcou posição. Dilma mostrou que o Brasil de hoje não aceita ser um paiseco de meia pataca no Sul da América. E que está disposto a abrir mão até de acordos comerciais, se for o caso, em nome de sua soberania.
Pode parecer pouca coisa, mas a atitude de Dilma na tarde de hoje não é algo de menor importância. Em diplomacia esse tipo de ação traz consequências. Os EUA podem ficar putos, espernear ou mesmo fazer de conta que se trata de algo desprezível. Mas o Brasil cresceu. Ficou maior. E isso certamente será levado em conta pela comunidade internacional. Os EUA vão continuar tentando nos espionar, mas a partir de agora ao menos sabem que não somos um amontoado de babacas e babões. E que não se já faz algum tempo que não aceitamos mais tirar os sapatos para eles, agora decidimos que sabemos levantar a cabeça. E que o faremos sempre que for necessário.
Quem imaginou que as ruas de junho seriam uma tragédia para o governo pode estar começando a perder aposta. Apesar do desgaste que o movimento causou para a presidenta Dilma Roussef num primeiro momento, agora seus efeitos parecem começar a lhe render dividendos políticos. E não por acaso, mas porque um setor do governo que estava sem espaço por conta dos altos índices de aprovação da presidenta começou a ter mais protagonismo.
Há algum tempo o Ministério da Saúde programava lançar um pacote de iniciativas que teria como eixo central a contratação de médicos de outras nacionalidades caso as vagas abertas não fossem ocupadas por brasileiros. Mas o projeto não emplacava porque ponderava-se que, como a avaliação do governo era muito boa, implementá-lo à contragosto da classe médica poderia ser um risco desnecessário.
Acontece que para que o Mais Médicos acontecer, ele teria de enfrentar a resistência do corporativismo no setor. Não era possível fazer omelete nessa área sem quebrar ovos.
Quando a presidenta decidiu que precisava fazer um pronunciamento para dialogar com o movimento que estava nas ruas, chamou quase todos os ministros para conversar. Queria definir um programa mínimo para um pronunciamento de impacto. Foi dessas conversas que surgiu, por exemplo, a proposta de uma Constituinte exclusiva para a Reforma Política.
E também foi nessas conversas que o Mais Médicos passou a fazer parte da listas dos programas que poderiam ser apresentados. Consta, porém, que ainda naquele dia do pronunciamento o ministro Padilha teria deixado uma reunião com a presidenta Dilma sem que ela houvesse batido o martelo sobre a oportunidade de lançar o programa naquele contexto.
A decisão teria sido fechada numa conversa com João Santana que, provavelmente, a partir de leitura de pesquisas de opinião, deve ter percebido que o movimento que estava nas ruas não era contra Dilma, mas principalmente por melhorias em serviços públicos. E que mesmo o transporte sendo o tema central, o setor da saúde também precisava de um grande chacoalhão. Ou melhor, de uma ação marcante.
O fato de o Mais Médicos ter sido incluído naquele pronunciamento de 21 de junho, na forma de “vamos trazer milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento no Sistema Único de Saúde” parece ter sido fundamental para marcar um novo movimento dentro do governo, o de que havia chegado a hora de sair da zona de conforto. E de fazer política escolhendo lados.
Ainda é cedo para dizer isso, mas blogar é também arriscar. Arrisco dizer que o Mais Médicos por ter sido combatido de forma tão dura pela oposição, que assumiu a luta da corporação como se ela fosse uma causa de toda a sociedade, pode vir a ser o Bolsa Família de Dilma. Qualquer melhoria na saúde, vai se tornar melhoria na avaliação da presidenta. As pessoas vão entender que se não fosse ela, isso não aconteceria. Porque a oposição era contra. E não faria isso. E a população estará certa ao avaliar dessa forma. E Aécio e companhia não terão como fazer de conta que foram entusiastas da iniciativa.
Ontem Dilma deu mais uma cartada que tem seus riscos, porque tem lado. Ela que já havia pedido votação em caráter de urgência do Marco Civil, chamou uma reunião com os representantes do CGI e anunciou a posição do governo a favor da neutralidade na rede e contra a inclusão do parágrafo segundo, artigo 15, no texto do relator Alessandro Molon (PT-RJ).
O debate do Marco Civil da Internet é tratado, infelizmente, por alguns setores da esquerda como se fosse uma questão menor. Mas se trata de algo estratégico. E muita gente sabe disso e vai entender que ao assumir posição a favor das bandeiras da sociedade civil, Dilma se diferencia de seus adversários da eleição de 2014. Dificilmente os que a enfrentarão assumiriam um posicionamento com esse teor.
Como qualquer dos que a enfrentarão em 2014 teriam a dignidade de tratar Obama e os EUA com a altivez que a presidenta e o seu governo os trataram na tarde de hoje.
Ao desmarcar a visita aos EUA por conta de o governo daquele país não ter dado uma resposta à altura das denúncias sobre as ações de espionagem recentemente denunciadas, Dilma não só marcou posição. Dilma mostrou que o Brasil de hoje não aceita ser um paiseco de meia pataca no Sul da América. E que está disposto a abrir mão até de acordos comerciais, se for o caso, em nome de sua soberania.
Pode parecer pouca coisa, mas a atitude de Dilma na tarde de hoje não é algo de menor importância. Em diplomacia esse tipo de ação traz consequências. Os EUA podem ficar putos, espernear ou mesmo fazer de conta que se trata de algo desprezível. Mas o Brasil cresceu. Ficou maior. E isso certamente será levado em conta pela comunidade internacional. Os EUA vão continuar tentando nos espionar, mas a partir de agora ao menos sabem que não somos um amontoado de babacas e babões. E que não se já faz algum tempo que não aceitamos mais tirar os sapatos para eles, agora decidimos que sabemos levantar a cabeça. E que o faremos sempre que for necessário.
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