Foto: Roberto Stuckert Filho/PR |
"Contundente", "virulento", "dura", "áspera": estes foram alguns dos adjetivos empregados pela imprensa internacional para qualificar o discurso da presidente Dilma Rousseff nesta terça-feira na abertura da Assembleia-Geral da ONU, em que ela acusou a espionagem dos Estados Unidos de "afronta aos outros países".
Em seu discurso de 22 minutos, a presidente brasileira dedicou um terço do tempo a denunciar a espionagem americana e foi mais Dilma do que nunca ao classificar as ações do governo de Barack Obama como "uma ilegalidade inadmissível, que provocou repúdio e indignação", entre outras acusações diretas contra os Estados Unidos.
O pouco caso do governo americano e de Obama nas duas conversas que os presidentes tiveram pessoalmente após as denúncias não deixaram outra saída para Dilma: adiar a viagem oficial aos Estados Unidos marcada para outubro e usar a tribuna da ONU para ir à luta diante de todo mundo.
Dilma classificou a espionagem como invasão de privacidade, ataque à soberania nacional e aos direitos humanos. "Governos e sociedades amigas não podem permitir que ações ilegais, recorrentes, tenham curso como se fossem normais. Elas são inadmissíveis".
Depois de anunciar "propostas para o estabelecimento de um marco civil multilateral para governança e uso da internet", Dilma disse que "não se sustentam argumentos de que a interceptação ilegal de informações e dados destina-se a proteger as nações contra o terrorismo".
A resposta de Obama, que não assistiu ao discurso de Dilma no plenário, veio em seguida, quando o presidente americano afirmou que o resultado desse trabalho de espionagem é "um mundo mais estável do que há cinco anos". E informou que os Estados Unidos estão revendo o sistema utilizado para reunir informações de inteligência. Só não deu prazo para este trabalho ser concluído.
Firme em defender suas posições lá fora, a presidente Dilma só se esqueceu de olhar para o próprio quintal: por aqui, o projeto que trata do marco regulatório da internet dorme nas gavetas do Congresso e um projeto de Política Nacional de Inteligência com medidas para o Brasil se prevenir contra ações de espionagem está empacado no Palácio do Planalto há quase três anos.
Como de hábito, a repercussão do discurso de Dilma foi mais favorável na mídia internacional do que na imprensa nativa, onde os mesmos cientistas políticos e especialistas em geral de sempre criticaram a presidente por falar mais para o público interno, de olho nas eleições de 2014.
Se o barulho foi grande, deve se esgotar no evento em si mesmo, já que ninguém pode esperar resultados práticos destes embates na ONU, uma entidade cada vez mais desacreditada em que todos jogam para uma torcida que não parece se interessar muito pelo que acontece no gramado.
Agora é a vez dos diplomatas bombeiros conversarem para restabelecer as boas relações entre o Brasil e os Estados Unidos, ainda um grande parceiro comercial, que leva uma vantagem de 7 bilhões de dólares por ano nos negócios entre os dois países.
Entre mortos e feridos, que não houve, vida que segue.
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