Por Emir Sader, no sítio Carta Maior:
Depois de ter passado séculos como um bastião do conservadorismo em escala mundial, há cerca de meio século, a eleição de João XXIII trouxe um ar fresco e renovado, com as suas Encíclicas e, paralelamente, a teologia da liberação.
Foi um tempo curto, que teve uma nova virada radical com o papado de João Paulo II. Este levou a Igreja a alinhar-se de forma aberta, no período final da guerra fria, com o bloco ocidental, dividindo o comando com Reagan e Thatcher. Com isto, atacou fortemente à teologia da liberação, destruindo assim a galinha dos ovos de ouro da Igreja, sua versão popular, deixando aberto o caminho para o avanço dos evangélicos e para a maior perda de fieis da historia da Igreja.
Este é o primeiro problema a enfrentar – como recuperar fieis, para o que não basta a imagem simpática do Papa e sua primeira visita à América Latina, o continente que era considerado o mais católico do mundo. Já vimos aqui no Brasil como essas viagens tem um efeito momentâneo e muito superficial, mostrando-se incapazes de levar a religiosidade aos jovens, os preferidos pela pregação papal e menos ainda mudar a imagem da Igreja.
Nos problemas mais de fundo, o primeiro, a corrupção, representa em toda sua dimensão, a mudança da Igreja. No começo do capitalismo, a Igreja católica condenava os juros e, com eles, os banqueiros. Em primeiro lugar, porque com os juros a pessoa ganha com o suor do rosto alheio e não com o seu próprio suor. Em segundo, porque o tempo pertenceria a Deus e não ao banqueiro, que lucra apenas com o passar do tempo.
Hoje a Igreja tem bancos – inclusive um que se chama Banco do Espirito Santo – que vive dos juros, especula, e entra nas negociatas financeiras. Essa a fonte da corrupção do Vaticano, com escândalos que se estenderam pelas ultimas décadas. Ontem mesmo o balanço de um dos bancos demonstrou que ele se enriqueceu como todos os outros, apesar da recessão atual na Europa.
A única forma de combater a corrupção, seria terminar com os bancos do Vaticano, o que tiraria a instituição das fontes fundamentais dos enormes recursos que necessita para sua caríssima manutenção. É possível diminuí-la, mas não ataca-la nas suas fontes. Para isso a Igreja deveria depender da contribuição dos seus fieis, no que ela não confia.
Por outro lado, os escândalos sexuais são uma manifestação clara que é impossível uma grande quantidade de pessoas se absterem de atividades sexuais. No caso da Igreja – uma instituição sumamente conservadora nos temas ligados à mulher, ao casamento, ao aborto, ao homossexualismo – se refletiu nas modalidades mais cruéis de vida sexual – a pedofilia. Um fenômeno que se revelou de forma generalizada, não havendo um pais importante para a Igreja em que não se tivessem revelado escândalos dessa ordem.
O novo Papa diz que gostaria de mudar a atitude diante das mulheres, mas não mencionou, até agora, o tema do casamento dos religiosos, que poderia amainar o fenômeno.
Em suma, os problemas da Igreja são estruturais – os bancos, a sexualidade -, e parece não bastar a boa vontade do Papa para poder enfrenta-los. Ainda que o faça, não seria suficiente para recuperar a imagem da Igreja e seu vigor espiritual, a ponto de chegar aos jovens e aos a deixaram para buscar outras alternativas.
O papel da Igreja Católica entrou em declínio no mundo e nada parece indicar que essa tendência possa ser revertida.
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