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O grau de cumplicidade ideológica entre Fernando Henrique Cardoso e os barões da mídia brasileira é enternecedor. O sociólogo tem passe livre: espaço assegurado para apresentar suas ideias em colunas, entrevistas, artigos de opinião.
Esta identidade foi forjada numa suposta necessidade de “modernizar” o Brasil, “arejar suas ideias”, desfazer-se do legado estatista e atrasado do trabalhismo getulista.
O que os militares pós-golpe de 64 fizeram pela força ao combater a “república sindicalista” FHC faria pelo consenso midiático em busca de livrar das amarras o espírito animal do capitalista brasileiro.
Conversa para boi dormir: foi o dinheiro público injetado nas privatizações que permitiu a sobrevivência daquele “animal”, às custas do patrimônio de todos. Ganhou o capital internacional, o capital nacional associado a ele e, obviamente, a mídia, seja por benefícios econômicos diretos ou indiretos - a seus patrocinadores.
Esta cumplicidade entre FHC e os barões da mídia só fez crescer depois do início da era Lula. O sociólogo passou a ser, a partir de 2002, um instrumento ao qual se recorreu com frequência com o objetivo de desconhecer os avanços sociais obtidos pelo Brasil sob o lulismo.
O PT teria apenas colhido os frutos de políticas adotadas anteriormente, sua grande virtude teria sido administrar o legado de FHC - é o que ouvimos no passado e continuamos ouvindo no presente, obedecendo a padrões mais ou menos sutis de distorção na apresentação de estatísticas.
O cômico da situação acima narrada é que o “povo”, supostamente beneficiado pelo legado de FHC, se nega terminantemente a reconhecer o sociólogo - num fracasso que deixa óbvia, também, a incapacidade da própria mídia de falar para fora dos “seus”.
É como se os estratos excludentes da sociedade brasileira vivessem num universo paralelo, como o cachorro que morde o próprio rabo.
Um glorioso abraço de afogados.
O quadro da pesquisa Datafolha foi reproduzido pelo Miguel do Rosário:
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