Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
O movimento black bloc adquiriu uma magnitude tal no Rio de Janeiro que não nos resta outra saída senão procurar compreendê-lo. A repressão não adiantará muito, porque se se trata realmente de uma tendência com apoio popular, qualquer violência do Estado apenas servirá para legitimá-la ainda mais e fazê-la crescer. Quando uma revolta recebe apoio popular, como está acontecendo, ela se torna bíblica.
Quando isso acontece, cidades inteiras podem ser destruídas.
Meus leitores sabem que já fiz críticas pesadas aos mascarados, à baderna e depredação enquanto tática de luta. Na manifestação das centrais, amigas minhas se sentiram diretamente agredidas pelos black blocs, que a certa altura se voltaram contra os próprios manifestantes. Tive vontade de reagir inclusive fisicamente àquela agressão covarde. Passaram-se os meses, os protestos continuaram, os próprios black blocs assumiram posições mais objetivas; politizaram-se; muitos tiraram a máscara.
Dias atrás, conversei com alguns deles, na Cinelândia. Foi algo chocante vê-los de cara limpa, sem máscara. A máscara e as roupas pretas lhes emprestam uma aura maligna e revolucionária, que atrai os olhares e o interesse de muita gente. Tem inclusive uma energia fortemente sexual, o que explica o interesse de artistas como Caetano Veloso, sempre tão pacato e democrático.
É chocante por ver como o ser humano se transforma com facilidade. Em bandos, mascarados, com adrenalina em alta, os black blocs são terríveis e ameaçadores. Abordados solitariamente, antes das confusões, sem máscara, deparamo-nos com jovens frágeis e incultos da periferia, que estão ali muito mais por instinto do que por ideologia.
Tenho lido longas dissertações sobre a origem do movimento na Europa. Pode ser que a ideia tenha vindo de lá, tudo vem de algum lugar, mas é evidente que o Brasil, como em tudo que faz, reinventa o movimento à sua maneira. Para entender os black blocs do Rio de Janeiro é preciso entender a realidade das periferias.
Talvez aí encontremos uma explicação inclusive para a agressão aos sindicalistas no dia 11 de julho, e à antipatia profunda entre setores da esquerda bon vivant (na qual eu me incluo) e os mascarados. O Rio de Janeiro não é apenas uma cidade dividida entre áreas ricas e pobres. Há uma divisão ainda mais radical e profunda que isso. A periferia do Rio tem regiões que parecem, efetivamente, sobreviventes de uma guerra nuclear acontecida há pouco.
No ano passado, procurando uma gráfica em Bonsucesso, passei pelo Buraco do Lacerda, um mergulhão que passa por baixo de uma avenida. Ruas esburacadas, destroços de prédios, muito lixo por toda parte, bueiros sempre exalando mau cheiro, cracudos desfilando segurando pedaços de pau e pedras. De vez em quando, topa-se com um aglomeração apavorante de crianças, adolescentes e adultos usando drogas numa esquina. Um cenário apocalíptico.
Esse é o Rio de Janeiro que todos tentamos esconder, inclusive eu, blogueiro de esquerda. Porque é um Rio feio, sujo, pobre, fedorento, perigoso, ameaçador.
Alguns anos atrás, Paris e outras cidades da França viveram uma série de grandes revoltas em suas periferias. Também houve muita perplexidade, visto que a França é um dos países com maior rede de proteção social. Os jovens que incendiavam carros e ônibus não passavam fome e tinham acesso a escolas públicas e hospitais de razoável qualidade (o que não é o caso dos subúrbios do Rio). A periferia pobre de Paris é feia como qualquer periferia do mundo, mas infinitamente mais organizada e mais limpa que a do Rio. Não é um cenário desolador. Os projetos de moradia popular são decentes e os serviços funcionam regularmente.
Porque então tanta revolta? Uma das explicações mais frequentes dadas pela riquíssima escola sociológica francesa era que os jovens da periferia viviam uma crise de identidade. Eles não se viam representados politicamente e, sobretudo, não se viam na TV. Sim, uma das conclusões mais repetidas pelos intelectuais era que o jovem francês da periferia, descendente de imigrantes árabes e africanos, não se via representado nos meios de comunicação. Talvez possamos transplantar alguns conceitos para o Brasil.
A revolta desorganizada muitas vezes beneficia grupos conservadores, estes sim muito bem organizados. Após as mencionadas revoltas na França, quem ganhou as eleições foi Sarkozy, que imediatamente tomou medidas ainda mais duras contra pobres e contra periferias; as turbulências estudantis de maio de 68, na mesma Paris, resultaram em muitos anos de conservadorismo político.
Entretanto, isso não é uma lei, até porque não existe esse tipo de lei em sociologia. Tudo pode acontecer. Importante observar que o conceito de periferia é bastante vago no Rio de Janeiro. Temos regiões bonitas e tranquilas nos subúrbios, e outras devastadas em áreas próximas ao centro. Mas as áreas semi-destruídas prevalecem. De qualquer forma, elocubrações acadêmicas não adiantam muito. Urge encontrar uma solução. O Rio precisa de paz, estabilidade, desenvolvimento, justamente para resolver seus gravíssimos problemas políticos, sociais, urbanísticos. O que fazer? Essa resposta talvez se tornasse paradigmática para todo o país.
Sem pretender ser o dono de nenhuma verdade, acho que a resposta tem de se dar, simultaneamente, em dois planos: um deles é o terreno simbólico e midiático. O jovem precisa de uma resposta política, e para isso os governos locais, junto com o legislativo, precisariam ousar mais. Por exemplo, os debates legislativos regionais precisam, urgentemente, ser transmitidos pela TV aberta. Em vez de assistir Malhação ou coisa que o valha, o cidadão fluminense precisa ter acesso ao que vereadores e deputados estaduais estão fazendo.
Só assim, por exemplo, um debate sobre um novo plano de carreiras e salários dos professores poderia ser aprovado ou não pela população. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirma que o plano que enviou à Câmara é muito bom, que aumenta salários, etc. O sindicato da categoria diz que não, e apresenta seus argumentos. É preciso deixar a população opinar também. A tática de usar a grande imprensa, com entrevistas da secretária de educação à Veja, cujo blogueiro Reinaldo Azevedo iniciou então uma defesa alucinada da proposta do prefeito, não dá mais resultados. Pelo contrário. A Globo, assustada com o rumo dos acontecimentos, também resolveu se alinhar caninamente a Sergio Cabral. Isso só piora as coisas. A revolta se alastra da política para a mídia.
Os governos tem de acreditar no bom senso do povo, que não é dado ao rancor político. Cabral e Paes foram eleitos com grande maioria de votos, então porque não investem na comunicação direta com o povo, ao invés de correrem para debaixo da saia da Globo?
Sei que é fácil falar. Porém, o pior que se faz é ficar parado. Nenhuma ousadia é fatal, dizia Henry Miller. Toda essa violência tem de ser canalizada para algo positivo. E a solução tem de passar pela democracia e pela política. No auge da crise de junho, Dilma foi a TV e ousou. Sua proposta foi a mais radical possível. Propôs uma assembléia constituinte para fazer uma reforma política. Ela se arriscou. O status quo, incluindo a grande mídia, rejeitou a assembléia constituinte e enterrou mais uma vez a reforma política. Mas a população aprovou a ousadia da presidente. Ela ofereceu alguma coisa. Em seguida, mandou trazer milhares de médicos cubanos para atender a população pobre. A medida é uma resposta concreta, e ao mesmo tempo é uma resposta política. Que respostas Cabral e Paes estão oferecendo à população? Manchetão do Globo sobre a nova UPP no Lins? Depois das notícias sobre o que fizeram a Amarildo de Souza na UPP da Rocinha, não me parece que seja uma ação de impacto. Eu apoio as UPPs, mas não é isso que vai resolver. O próprio Beltrame, desde o início, alertava: tem que investir no social, mais e mais; UPP sozinha não vai adiantar.
E tem a questão da Globo, que também oprime a população. Se Cabral e Paes tivessem investido na democratização da mídia, ajudando rádios e tvs comunitárias, jornais de bairro, isso também lhes ajudaria a enfrentar a crise política atual, porque uma das razões da violência que levam jovens a aderirem a táticas black blocs é a sensação de opressão. Não há nenhum meio por onde se pode protestar contra o governo, a não ser enviando cartinhas para Globo, que não são publicadas, nem lidas na TV. Não digo que essas medidas conteriam os black blocs, mas poderiam minimizar a situação. Por que o sindicato dos professores aceitou a participação dos black blocs? Não seria porque sentiram-se isolados, oprimidos, cercados, pelo governo de um lado, e pela Globo de outro?
Seja como for, Cabral e Paes não tem outra saída a não ser lembrar a lição que Mario, grande liderança da esquerda romana, ensinou a seu sobrinho, Julio Cesar: fique ao lado do povo, é nele que reside a força. Essa lição mudou o mundo, e vale até hoje. Como políticos, ambos sabem dessa verdade, mas a esqueceram enquanto administradores. Uma lei para aumentar impostos dos ricos, e tirar dinheiro e poder da Globo, por exemplo, distribuindo-os aos pobres, teria um grande impacto político junto à sociedade.
A informação de que a Secretaria de Educação da prefeitura tem um convênio com a Fundação Roberto Marinho, pela qual esta última recebe milhões de reais, causou enorme perplexidade e revolta. E revolta é um sentimento que só se expressa em sua plenitude com alguma violência, verbal ou física. Alguns tem condições intelectuais, políticas e mesmo financeiras de expressar sua revolta através de manifestações escritas ou orais.
Outros não. Quem ouvirá um jovem da periferia? Quem lerá seus manifestos? Quando ele se vê na TV, quebrando agências bancárias, incendiando latas de lixo, enfrentando a polícia, ele tem a sensação de que rompeu a dolorosa invisibilidade que a elite pretende lhe impor eternamente. Criar um subúrbio edulcorado, onde a maioria das cenas se passam no interior de uma mansão de um ex-jogador de futebol milionário, como a Globo fez numa de suas novelas, não ajuda muito a reduzir essa sensação de invisibilidade experimentada pelo jovem da periferia.
Como iniciei o texto falando no perigo da revolta no Rio se tornar bíblica, encerremos esta reflexão com um poema sombrio do Velho Testamento.
“Abaterei o orgulho dos arrogantes,
e humilharei a pretensão dos tiranos.
(…) Então Babilônia, a pérola dos reinos,
a jóia de que os caldeus tanto se orgulham,
será destruída por Deus como Sodoma e Gomorra.
Nunca mais será habitada,
nem povoada até o fim dos tempos.
(…) as feras terão aí seu covil,
(…) os chacais uivarão nos seus palácios,
e os lobos nas suas casas de prazer.
Sua hora está próxima
e seus dias estão contados.”
(Isaías, 13-14)
O movimento black bloc adquiriu uma magnitude tal no Rio de Janeiro que não nos resta outra saída senão procurar compreendê-lo. A repressão não adiantará muito, porque se se trata realmente de uma tendência com apoio popular, qualquer violência do Estado apenas servirá para legitimá-la ainda mais e fazê-la crescer. Quando uma revolta recebe apoio popular, como está acontecendo, ela se torna bíblica.
Quando isso acontece, cidades inteiras podem ser destruídas.
Meus leitores sabem que já fiz críticas pesadas aos mascarados, à baderna e depredação enquanto tática de luta. Na manifestação das centrais, amigas minhas se sentiram diretamente agredidas pelos black blocs, que a certa altura se voltaram contra os próprios manifestantes. Tive vontade de reagir inclusive fisicamente àquela agressão covarde. Passaram-se os meses, os protestos continuaram, os próprios black blocs assumiram posições mais objetivas; politizaram-se; muitos tiraram a máscara.
Dias atrás, conversei com alguns deles, na Cinelândia. Foi algo chocante vê-los de cara limpa, sem máscara. A máscara e as roupas pretas lhes emprestam uma aura maligna e revolucionária, que atrai os olhares e o interesse de muita gente. Tem inclusive uma energia fortemente sexual, o que explica o interesse de artistas como Caetano Veloso, sempre tão pacato e democrático.
É chocante por ver como o ser humano se transforma com facilidade. Em bandos, mascarados, com adrenalina em alta, os black blocs são terríveis e ameaçadores. Abordados solitariamente, antes das confusões, sem máscara, deparamo-nos com jovens frágeis e incultos da periferia, que estão ali muito mais por instinto do que por ideologia.
Tenho lido longas dissertações sobre a origem do movimento na Europa. Pode ser que a ideia tenha vindo de lá, tudo vem de algum lugar, mas é evidente que o Brasil, como em tudo que faz, reinventa o movimento à sua maneira. Para entender os black blocs do Rio de Janeiro é preciso entender a realidade das periferias.
Talvez aí encontremos uma explicação inclusive para a agressão aos sindicalistas no dia 11 de julho, e à antipatia profunda entre setores da esquerda bon vivant (na qual eu me incluo) e os mascarados. O Rio de Janeiro não é apenas uma cidade dividida entre áreas ricas e pobres. Há uma divisão ainda mais radical e profunda que isso. A periferia do Rio tem regiões que parecem, efetivamente, sobreviventes de uma guerra nuclear acontecida há pouco.
No ano passado, procurando uma gráfica em Bonsucesso, passei pelo Buraco do Lacerda, um mergulhão que passa por baixo de uma avenida. Ruas esburacadas, destroços de prédios, muito lixo por toda parte, bueiros sempre exalando mau cheiro, cracudos desfilando segurando pedaços de pau e pedras. De vez em quando, topa-se com um aglomeração apavorante de crianças, adolescentes e adultos usando drogas numa esquina. Um cenário apocalíptico.
Esse é o Rio de Janeiro que todos tentamos esconder, inclusive eu, blogueiro de esquerda. Porque é um Rio feio, sujo, pobre, fedorento, perigoso, ameaçador.
Alguns anos atrás, Paris e outras cidades da França viveram uma série de grandes revoltas em suas periferias. Também houve muita perplexidade, visto que a França é um dos países com maior rede de proteção social. Os jovens que incendiavam carros e ônibus não passavam fome e tinham acesso a escolas públicas e hospitais de razoável qualidade (o que não é o caso dos subúrbios do Rio). A periferia pobre de Paris é feia como qualquer periferia do mundo, mas infinitamente mais organizada e mais limpa que a do Rio. Não é um cenário desolador. Os projetos de moradia popular são decentes e os serviços funcionam regularmente.
Porque então tanta revolta? Uma das explicações mais frequentes dadas pela riquíssima escola sociológica francesa era que os jovens da periferia viviam uma crise de identidade. Eles não se viam representados politicamente e, sobretudo, não se viam na TV. Sim, uma das conclusões mais repetidas pelos intelectuais era que o jovem francês da periferia, descendente de imigrantes árabes e africanos, não se via representado nos meios de comunicação. Talvez possamos transplantar alguns conceitos para o Brasil.
A revolta desorganizada muitas vezes beneficia grupos conservadores, estes sim muito bem organizados. Após as mencionadas revoltas na França, quem ganhou as eleições foi Sarkozy, que imediatamente tomou medidas ainda mais duras contra pobres e contra periferias; as turbulências estudantis de maio de 68, na mesma Paris, resultaram em muitos anos de conservadorismo político.
Entretanto, isso não é uma lei, até porque não existe esse tipo de lei em sociologia. Tudo pode acontecer. Importante observar que o conceito de periferia é bastante vago no Rio de Janeiro. Temos regiões bonitas e tranquilas nos subúrbios, e outras devastadas em áreas próximas ao centro. Mas as áreas semi-destruídas prevalecem. De qualquer forma, elocubrações acadêmicas não adiantam muito. Urge encontrar uma solução. O Rio precisa de paz, estabilidade, desenvolvimento, justamente para resolver seus gravíssimos problemas políticos, sociais, urbanísticos. O que fazer? Essa resposta talvez se tornasse paradigmática para todo o país.
Sem pretender ser o dono de nenhuma verdade, acho que a resposta tem de se dar, simultaneamente, em dois planos: um deles é o terreno simbólico e midiático. O jovem precisa de uma resposta política, e para isso os governos locais, junto com o legislativo, precisariam ousar mais. Por exemplo, os debates legislativos regionais precisam, urgentemente, ser transmitidos pela TV aberta. Em vez de assistir Malhação ou coisa que o valha, o cidadão fluminense precisa ter acesso ao que vereadores e deputados estaduais estão fazendo.
Só assim, por exemplo, um debate sobre um novo plano de carreiras e salários dos professores poderia ser aprovado ou não pela população. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirma que o plano que enviou à Câmara é muito bom, que aumenta salários, etc. O sindicato da categoria diz que não, e apresenta seus argumentos. É preciso deixar a população opinar também. A tática de usar a grande imprensa, com entrevistas da secretária de educação à Veja, cujo blogueiro Reinaldo Azevedo iniciou então uma defesa alucinada da proposta do prefeito, não dá mais resultados. Pelo contrário. A Globo, assustada com o rumo dos acontecimentos, também resolveu se alinhar caninamente a Sergio Cabral. Isso só piora as coisas. A revolta se alastra da política para a mídia.
Os governos tem de acreditar no bom senso do povo, que não é dado ao rancor político. Cabral e Paes foram eleitos com grande maioria de votos, então porque não investem na comunicação direta com o povo, ao invés de correrem para debaixo da saia da Globo?
Sei que é fácil falar. Porém, o pior que se faz é ficar parado. Nenhuma ousadia é fatal, dizia Henry Miller. Toda essa violência tem de ser canalizada para algo positivo. E a solução tem de passar pela democracia e pela política. No auge da crise de junho, Dilma foi a TV e ousou. Sua proposta foi a mais radical possível. Propôs uma assembléia constituinte para fazer uma reforma política. Ela se arriscou. O status quo, incluindo a grande mídia, rejeitou a assembléia constituinte e enterrou mais uma vez a reforma política. Mas a população aprovou a ousadia da presidente. Ela ofereceu alguma coisa. Em seguida, mandou trazer milhares de médicos cubanos para atender a população pobre. A medida é uma resposta concreta, e ao mesmo tempo é uma resposta política. Que respostas Cabral e Paes estão oferecendo à população? Manchetão do Globo sobre a nova UPP no Lins? Depois das notícias sobre o que fizeram a Amarildo de Souza na UPP da Rocinha, não me parece que seja uma ação de impacto. Eu apoio as UPPs, mas não é isso que vai resolver. O próprio Beltrame, desde o início, alertava: tem que investir no social, mais e mais; UPP sozinha não vai adiantar.
E tem a questão da Globo, que também oprime a população. Se Cabral e Paes tivessem investido na democratização da mídia, ajudando rádios e tvs comunitárias, jornais de bairro, isso também lhes ajudaria a enfrentar a crise política atual, porque uma das razões da violência que levam jovens a aderirem a táticas black blocs é a sensação de opressão. Não há nenhum meio por onde se pode protestar contra o governo, a não ser enviando cartinhas para Globo, que não são publicadas, nem lidas na TV. Não digo que essas medidas conteriam os black blocs, mas poderiam minimizar a situação. Por que o sindicato dos professores aceitou a participação dos black blocs? Não seria porque sentiram-se isolados, oprimidos, cercados, pelo governo de um lado, e pela Globo de outro?
Seja como for, Cabral e Paes não tem outra saída a não ser lembrar a lição que Mario, grande liderança da esquerda romana, ensinou a seu sobrinho, Julio Cesar: fique ao lado do povo, é nele que reside a força. Essa lição mudou o mundo, e vale até hoje. Como políticos, ambos sabem dessa verdade, mas a esqueceram enquanto administradores. Uma lei para aumentar impostos dos ricos, e tirar dinheiro e poder da Globo, por exemplo, distribuindo-os aos pobres, teria um grande impacto político junto à sociedade.
A informação de que a Secretaria de Educação da prefeitura tem um convênio com a Fundação Roberto Marinho, pela qual esta última recebe milhões de reais, causou enorme perplexidade e revolta. E revolta é um sentimento que só se expressa em sua plenitude com alguma violência, verbal ou física. Alguns tem condições intelectuais, políticas e mesmo financeiras de expressar sua revolta através de manifestações escritas ou orais.
Outros não. Quem ouvirá um jovem da periferia? Quem lerá seus manifestos? Quando ele se vê na TV, quebrando agências bancárias, incendiando latas de lixo, enfrentando a polícia, ele tem a sensação de que rompeu a dolorosa invisibilidade que a elite pretende lhe impor eternamente. Criar um subúrbio edulcorado, onde a maioria das cenas se passam no interior de uma mansão de um ex-jogador de futebol milionário, como a Globo fez numa de suas novelas, não ajuda muito a reduzir essa sensação de invisibilidade experimentada pelo jovem da periferia.
Como iniciei o texto falando no perigo da revolta no Rio se tornar bíblica, encerremos esta reflexão com um poema sombrio do Velho Testamento.
“Abaterei o orgulho dos arrogantes,
e humilharei a pretensão dos tiranos.
(…) Então Babilônia, a pérola dos reinos,
a jóia de que os caldeus tanto se orgulham,
será destruída por Deus como Sodoma e Gomorra.
Nunca mais será habitada,
nem povoada até o fim dos tempos.
(…) as feras terão aí seu covil,
(…) os chacais uivarão nos seus palácios,
e os lobos nas suas casas de prazer.
Sua hora está próxima
e seus dias estão contados.”
(Isaías, 13-14)
Uma pequena e modesta sugestão :
ResponderExcluir" DIAZ, Política e Violência ", película impar da excelente diretora Daniele Vicari ...
Os black blocs são inimigos do estados e tem que ser combatidos como vem acontecendo.
ResponderExcluiro seu blog é um pouco decepcionante. acredito que já deva ter ido a algumas das manifestações deste e de outros passados anos, mas pouco do que escreveu me pareceu refletir o que eu vi nas manifestações deste ano (as únicas que fui). e quando isso acontece com um texto jornalístico decepciona.
ResponderExcluirQuem financia os Black Blocks, os Anonimous?
ResponderExcluirSegundo muitas fontes jornalisticas, sua organiza tem como base os conspiradores internacionais, o capital estrangeiro.
Estes usam artifícios para especularem contra o Brasil. 2014 será o ano dos especuladores, vão quebrar tudo!!!