Por Maria Luisa Mendonça, no jornal Brasil de Fato:
O impasse que se instalou nas últimas semanas no Congresso e no Senado dos Estados Unidos em relação às votações sobre o orçamento da União e ao teto da dívida pública demonstra a vulnerabilidade do atual cenário de crise econômica mundial. Superficialmente, o debate entre os partidos Democrata e Republicano ocorre em meio a disputas de projetos políticos, mas é necessário compreender o contexto mais amplo que revela o estágio atual da economia capitalista.
O governo de Barack Obama tem demonstrado ambiguidade e, mais do que isso, tem abandonado muitas promessas feitas durante a campanha eleitoral, o que gera fortes críticas por parte de setores de esquerda. Ao mesmo tempo, a direita fundamentalista representada pela ala do partido Republicano conhecida como “tea party” faz oposição raivosa a qualquer tentativa de se avançar em uma pauta progressista.
O caso mais emblemático ocorre em torno da nova lei que regula os seguros de saúde, conhecida como “Obama Care”. A legislação não estabelece um sistema público de saúde, como era defendido originalmente. Porém, esta nova política garante o subsídio governamental para que pessoas de baixa renda tenham acesso a seguros de saúde por um preço mais acessível. Apesar de limitada e de estar longe de garantir o direito à saúde pública e universal, somente o fato de se instituir minimamente a regulamentação da poderosa indústria das seguradoras privadas gerou a ira da ala radical conservadora no Congresso Nacional.
Um grupo minoritário de parlamentares fundamentalistas bloqueou a votação do orçamento da União e paralisou o funcionamento de diversos órgãos do governo Federal, desde assistência social até parques nacionais. O impacto econômico dessas duas semanas de paralisação foi estimado em $24 bilhões de dólares. Mas a ameaça principal estava marcada para 17 de outubro, quando terminaria o prazo para o Congresso aprovar o aumento do teto da dívida pública do país.
Dados do Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) revelam que a dívida ultrapassou o limite imposto anteriormente de 16 trilhões de dólares. A maior parte desses papéis, estimada em cerca de $10 trilhões de dólares, é controlada por empresas multinacionais e por governos de outros países. A maior detentora individual da dívida dos Estados Unidos é a China, que coleciona papéis no valor de $1,2 trilhão de dólares.
Este é o principal elemento que justifica a atual conjuntura de controle “bilateral” que Estados Unidos e China exercem em relação à economia global. Enquanto os produtos manufaturados na China são exportados com tarifas preferenciais para o mercado estadunidense, os chineses garantem a emissão de papel-moeda em dólar que move a economia fictícia mundial.
Nas últimas décadas, muitas empresas estadunidenses se instalaram na China em busca de maior extração de mais-valia através da exploração do trabalho e de recursos naturais. Este processo de desindustrialização nos Estados Unidos deixou a economia em um estado permanente de vulnerabilidade, já que a impossibilidade de atingir taxas aceitáveis de lucro através da exploração do trabalho significou o aprofundamento da dependência em relação ao mercado financeiro.
A predominância do capital financeiro que determina o funcionamento da economia mundial está baseada na emissão de papéis que são negociados a partir da “crença” na estabilidade do dólar como moeda internacional. Este é o sentido do chamado capital fictício, que possui a “milagrosa” capacidade de se reproduzir sem passar pelo processo produtivo. Na verdade, o mercado de dinheiro, nas diversas formas de derivativos financeiros como mercados de futuro, de câmbio, de bônus e de ações está intrinsecamente ligado aos setores considerados “produtivos”, pois no atual estágio do capitalismo tanto empresas privadas quanto governos estimulam as determinações do capital fictício.
Esta é a principal razão para o pânico gerado nas elites financeiras e empresariais diante da possibilidade de um “calote” por parte do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, caso o Congresso não aprovasse novas emissões de dinheiro. E, por este mesmo motivo, estava claro que nenhum partido político iria desagradar os senhores de Wall Street. Este episódio recente é emblemático no sentido de revelar a vulnerabilidade do modo de produção capitalista e suas ramificações demonstradas em crises constantes e contínuas.
* Maria Luisa Mendonça é jornalista e coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
O impasse que se instalou nas últimas semanas no Congresso e no Senado dos Estados Unidos em relação às votações sobre o orçamento da União e ao teto da dívida pública demonstra a vulnerabilidade do atual cenário de crise econômica mundial. Superficialmente, o debate entre os partidos Democrata e Republicano ocorre em meio a disputas de projetos políticos, mas é necessário compreender o contexto mais amplo que revela o estágio atual da economia capitalista.
O governo de Barack Obama tem demonstrado ambiguidade e, mais do que isso, tem abandonado muitas promessas feitas durante a campanha eleitoral, o que gera fortes críticas por parte de setores de esquerda. Ao mesmo tempo, a direita fundamentalista representada pela ala do partido Republicano conhecida como “tea party” faz oposição raivosa a qualquer tentativa de se avançar em uma pauta progressista.
O caso mais emblemático ocorre em torno da nova lei que regula os seguros de saúde, conhecida como “Obama Care”. A legislação não estabelece um sistema público de saúde, como era defendido originalmente. Porém, esta nova política garante o subsídio governamental para que pessoas de baixa renda tenham acesso a seguros de saúde por um preço mais acessível. Apesar de limitada e de estar longe de garantir o direito à saúde pública e universal, somente o fato de se instituir minimamente a regulamentação da poderosa indústria das seguradoras privadas gerou a ira da ala radical conservadora no Congresso Nacional.
Um grupo minoritário de parlamentares fundamentalistas bloqueou a votação do orçamento da União e paralisou o funcionamento de diversos órgãos do governo Federal, desde assistência social até parques nacionais. O impacto econômico dessas duas semanas de paralisação foi estimado em $24 bilhões de dólares. Mas a ameaça principal estava marcada para 17 de outubro, quando terminaria o prazo para o Congresso aprovar o aumento do teto da dívida pública do país.
Dados do Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) revelam que a dívida ultrapassou o limite imposto anteriormente de 16 trilhões de dólares. A maior parte desses papéis, estimada em cerca de $10 trilhões de dólares, é controlada por empresas multinacionais e por governos de outros países. A maior detentora individual da dívida dos Estados Unidos é a China, que coleciona papéis no valor de $1,2 trilhão de dólares.
Este é o principal elemento que justifica a atual conjuntura de controle “bilateral” que Estados Unidos e China exercem em relação à economia global. Enquanto os produtos manufaturados na China são exportados com tarifas preferenciais para o mercado estadunidense, os chineses garantem a emissão de papel-moeda em dólar que move a economia fictícia mundial.
Nas últimas décadas, muitas empresas estadunidenses se instalaram na China em busca de maior extração de mais-valia através da exploração do trabalho e de recursos naturais. Este processo de desindustrialização nos Estados Unidos deixou a economia em um estado permanente de vulnerabilidade, já que a impossibilidade de atingir taxas aceitáveis de lucro através da exploração do trabalho significou o aprofundamento da dependência em relação ao mercado financeiro.
A predominância do capital financeiro que determina o funcionamento da economia mundial está baseada na emissão de papéis que são negociados a partir da “crença” na estabilidade do dólar como moeda internacional. Este é o sentido do chamado capital fictício, que possui a “milagrosa” capacidade de se reproduzir sem passar pelo processo produtivo. Na verdade, o mercado de dinheiro, nas diversas formas de derivativos financeiros como mercados de futuro, de câmbio, de bônus e de ações está intrinsecamente ligado aos setores considerados “produtivos”, pois no atual estágio do capitalismo tanto empresas privadas quanto governos estimulam as determinações do capital fictício.
Esta é a principal razão para o pânico gerado nas elites financeiras e empresariais diante da possibilidade de um “calote” por parte do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, caso o Congresso não aprovasse novas emissões de dinheiro. E, por este mesmo motivo, estava claro que nenhum partido político iria desagradar os senhores de Wall Street. Este episódio recente é emblemático no sentido de revelar a vulnerabilidade do modo de produção capitalista e suas ramificações demonstradas em crises constantes e contínuas.
* Maria Luisa Mendonça é jornalista e coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
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