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Hoje é um dia decisivo.
Há duas grandes questões que estarão definidas ao final desta quinta-feira.
O TSE julgará a causa da Rede, se aceita ou não o seu registro. A tendência é não aceitar. Mas convêm esperar uma definição antes de fazer análises mais elaboradas.
Outra questão é o troca-troca partidário. Esta se estende até o sábado, mas hoje é o dia decisivo, porque os parlamentares costumam viajar para suas bases na sexta-feira e sábado é sábado. É hoje, portanto, que a maioria das migrações serão realizadas.
Amanhã será possível, portanto, fazer uma análise mais completa da situação, mas hoje já é possível adiantar algumas observações preliminares.
E a mais importante é que o tiro saiu pela culatra.
A oposição estimulou a criação do Solidariedade, presidido pelo deputado Paulinho da Força, porque havia expectativa de que ele se uniria à campanha do PSDB em 2014. Expectativa esta criada pelo próprio Paulinho, que deu declarações agressivas contra Dilma, a quem chamou de “inimiga”.
Pois bem, alguns dias depois de criado, o Solidariedade dá um pinote e a maioria de seus novos membros rechaça aderir à oposição. Antes, tendem a apoiar Dilma.
A coluna de Merval Pereira de hoje, intitulada “A atração do poder”, expressa bem a perplexidade da oposição com esta reviravolta.
Toda aquela ladainha contra um suposto “casuísmo” do congresso, que quis vetar a transferência de tempo e dinheiro do parlamentar que migra para outro partido, agora se volta contra a oposição. PPS e PSB, que reagiram com ira à medida, perderam esta semana 2 e 6 deputados, que carregarão consigo seu tempo de tv e recursos partidários.
O outro partido novo, o Pros, já nasceu governista e assim deve ficar.
O levantamento feito até o momento pela imprensa indica que a oposição, mais uma vez, é a principal vítima da infidelidade partidária. E refiro-me não apenas à oposição partidária, mas às alas oposicionistas dentro dos partidos da base.
O quadro até o momento é este, segundo o Globo:
Com Marina fora do páreo, a única terceira via com alguma chance de crescer em 2014 é o PSB.
Entretanto, o partido apostou alto e já perdeu muitas fichas. No Rio, o PSB perdeu a segunda economia do estado, com a desfiliação de Alexandre Cardoso, prefeito de Caxias. Vários deputados estaduais do PSB-RJ estão migrando para o PMDB, insatisfeitos com a decisão da Executiva Nacional de não apoiar a reeleição da presidenta. Perdeu também um governador, Cid Gomes, e um quadro estratégico, Ciro Gomes.
Apesar da alegada vontade de alçar vôo próprio, o PSB, na prática, está se alinhando à oposição, conforme revela este infográfico da Folha:
O PSB pratica uma jogada de alto risco, porque o seu crescimento aconteceu sob os auspícios de sua aliança com o lulismo. Ao inverter sua estratégia e se aliar preferencialmente com o PSDB, os socialistas podem se tornar um novo PPS.
Na minha opinião, Eduardo Campos está cometendo um erro. Se ele apoiasse a reeleição de Dilma, poderia fazer seu partido crescer ainda mais, e vir com muito mais força em 2018, quando o PT deverá enfrentar, provavelmente, uma crise de cansaço do eleitor.
Por outro lado, eu entendo e respeito a decisão de Campos. Ele quer viver a aventura, certamente incomparável, de uma eleição presidencial, que lhe conferirá um recall importante para pleito seguinte. Ele está entrando no pleito não para ganhar, mas para acumular capital político para 2018.
A presença de Campos, de qualquer forma, enriquecerá o debate eleitoral, assim como a de Marina Silva também o faria.
Os horizontes voltaram a se azular para Dilma Rousseff, mas a presidenta terá de lembrar o verso de um poeta francês, que temia o inverno por ser a “estação do conforto”. Com a oposição enfraquecida e as ruas mais sossegadas (com exceção do Rio), o maior adversário de Dilma volta a ser o seu próprio governo.
O governo não pode dormir no ponto. Tem que oferecer à sociedade, em especial à juventude, uma plataforma política sólida, confiável e coerente, sobretudo no campo da educação. A aprovação popular ao programa Mais Médicos e à vinda de cubanos ajudou a desmascarar um mito: as ruas não são conservadoras. Nas “jornadas de junho”, houve um momento em que a direita ocupou bastante espaço, mas foi breve. A direita se empolgou com o sentimento antigovernista que aflorou nas ruas, mas logo em seguida se decepcionou ao constatar que era um antigovernismo igualmente anticonservador.
O jovem apartidário, por um momento visto como um herói pela mídia, o elemento que salvaria o país das garras do PT, revelou-se tão ou mais crítico à mídia do que ao governo.
Quem poderia imaginar que teríamos enormes e criativas manifestações contra a Globo acontecendo em todo país?
Lula já percebeu que a bandeira da democratização da mídia é a única que une todas as esquerdas, além de ligar-se umbilicalmente aos debates sobre a reforma política. Sem um sistema de jornalismo e informação mais democrático e mais plural, uma reforma política poderia degenerar em retrocesso.
A blogosfera tem conseguido algumas importantes vitórias políticas sobre a mídia corporativa, mas será um erro se o governo entender, com isso, que não precisa mais debater mudanças no marco legal das comunicações. Até porque não se trata mais somente de uma questão política. A democratização da mídia pode ser o que o Brasil precisa para acordar forças adormecidas por décadas de cultura televisiva narcotizante, liberando forças econômicas e culturais aprisionadas por muito tempo.
Dilma pode até ganhar, com relativa facilidade, as eleições de 2014. Mas uma coisa é ganhar eleições, muito mais difícil é governar. A tensão de classe promete explodir nos próximos anos, e os estratos superiores tendem a radicalizar. Os pobres vão querer mais serviços e os ricos, menos impostos. A única maneira de lidar com isso é oferecendo ao país uma plataforma de debate mais democrática e plural, porque a gente sabe muito bem de que lado estão e estarão os grandes meios de comunicação.
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