Do sítio da Adital:
Um dos grandes desafios de quem faz comunicação independente hoje no Brasil é a sustentação. A Agência de Comunicação Frei Tito de Alencar para a América Latina (Adital) não fica atrás e, atualmente, passa mais uma vez por sérios problemas de sustentação, com redução de produção e novo risco de encerrar suas atividades. Esta não é a primeira vez que acontece. É a quinta em seus 12 anos e sete meses de funcionamento. Hoje, a direção luta para que não seja a última. A partir de 1º de novembro de 2013 reduzirá drasticamente sua produção, iniciou a demissão massiva de todos os funcionários e, até dezembro, ficará praticamente sem pessoal para enfrentar a incerteza da continuidade.
O objetivo da Adital quando foi fundada, em fevereiro de 2001, era informar, não só à sua lista de assinantes que crescia diariamente (hoje são 95 mil leitores-assinantes, com mais de 3 milhões de page views ao mês e mais de 7 mil na fanpage do Facebook), como à população em geral, pautando a grande mídia. A ideia é que sempre haverá espaço para movimentos sociais e direitos humanos na mídia, desde que a notícia seja bem cuidada, com critérios de noticiabilidade em conformidade com o que o público se habituou a considerar a estética jornalística, com o cuidado de dar um novo enfoque, com a ousadia de pensar que um outro mundo é possível.
Modelo de negócio em crise
Mas tudo isso precisa de dinheiro. Quer seja para custear visitas às fontes, para as coberturas normais e especiais, para correspondentes, para jornalistas competentes e bilíngues, para estagiários, para tradutores, para revisores, para o pessoal de administração, para a coordenação, para pesquisa de campo e até para pagar técnicos de informática, para a manutenção de equipamentos e compra de material de escritório. Mesmo pela internet, informação de qualidade custa muito caro.
Como a cada dia que passa, a sociedade quer pagar menos pela notícia que consome, se agrava uma crise global no modelo de negócio, pois ainda não se encontraram fórmulas mágicas de autossustentação na internet sem uma dependência de muitos anunciantes que, historicamente, não têm interesse na linha editorial da Adital. Submeter-se a esta dependência econômica severa, poderia significar também a dependência de ideias, mudança de linha editorial e até mesmo de gerência do site.
Dessa forma, a Adital optou, desde o princípio, nos idos da década de 2000, por financiamentos de agências estrangeiras de fomento ao desenvolvimento do terceiro mundo (hoje, países em desenvolvimento), por campanhas de autossustentação, com assinantes, além de alguns banners governamentais, dentro da verba regular de mídia que existe no Brasil. Contudo, os financiamentos dessas agências estão migrando para o continente africano, entendido como mais necessitado do que o Brasil, visto de fora como em franca ascensão econômica, embora ainda com desigualdades solucionáveis, para os investidores sociais.
A verba que chega como contribuição de leitores está em torno de 1 mil reais mensais, algo em torno de 500 dólares ao mês, o que não supre as despesas anuais da Adital, que giram em torno de 250 mil dólares ano. Uma conta rápida, para sobreviver de doações, seria necessário aumentar em 4 mil vezes esse valor de contribuição. Em entrevista à reportagem da Adital, o diretor executivo padre Ermanno Allegri, fala da decisão de reduzir a produção ao mínimo e quais as perspectivas para o futuro.
O que vai ser da Adital daqui por diante?
Tivemos que desistir dos últimos dois jornalistas da redação. Agora, nós vamos trabalhar com apenas o editor e dois estagiários até o fim do ano, com a produção mínima de quatro matérias por dia, quando fecharemos para o recesso. Porque quem fica vai trabalhar meio período. Até lá, manteremos uma produção com a hibridização das matérias da Adital e Adital Jovem, enviando somente um boletim, mas mantendo as duas páginas. Os artigos serão apenas quatro por dia. É o que ainda podemos oferecer até o fim do ano.
E como será em 2014?
Estamos tentando conseguir alguns financiamentos com agências estrangeiras e com os amigos que temos na Igreja Católica. Até o momento, ainda temos dois pequenos financiamentos internacionais, que não chegam a 15 mil euros ao ano (20.500 dólares), o que deve dar para pagar os impostos e manutenção de equipamentos em 2014. Uma base mínima para conseguir procurar novos projetos de financiamento. Um desses financiamentos acaba em 2015 e o outro em 2016. Depois disso, não temos mais nada.
E as campanhas de autossustentação com apoio de atores e personalidades famosas?
Estas não chegam a mil reais (500 dólares) por mês. Acho que os leitores entendem que, como temos uma página bonita e informação de qualidade, não precisamos de nenhuma ajuda. Ninguém para e pensa: "Como eles conseguem isso sem estarem ligados a nenhuma instituição maior?” E não entendo porque as pessoas que nos leem todos os dias não se sensibilizam. Se 10 mil dos 95 leitores que recebem diariamente o boletim colaborassem anualmente com 50 reais, já resolveríamos as dificuldades. Se as entidades das quais nós propagamos suas reivindicações e lutas cotidianas colaborassem com 200 reais por ano, não teríamos mais preocupações.
E se as contribuições não aparecerem?
Vamos vender a sede, pagar as dívidas e torcer para que outra boa ideia de comunicação que supra essa lacuna de conteúdo latino-americano bilíngue, atento aos problemas sociais da América Latina e do Caribe e encontre um modelo de sustentação viável. Mas não vamos desistir. Estou regularmente pedindo à Secretaria de Comunicação do Governo Dilma que reconsidera a sua política de distribuição de financiamento de propaganda, e redirecione alguma verba para a comunicação independente, assim como buscando financiamentos na Europa e no Brasil.
Já pensaram em crowdfunding, que é o financiamento coletivo que consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes?
Já conhecemos a experiência do site da Catarse, mas é um financiamento para projeto pontuais. É preciso ainda ter uma campanha forte e específica para cada projeto, assim como prestação de contas. Ou seja, um núcleo bem preparado para pensar e executar uma infinidade de projetos, é isso que a Agência Pública faz. Ela não tem informação diária e a equipe que a organiza o faz a partir de material independente que selecionam. É outra dinâmica e proposta. Porém, guardadas as devidas proporções, fazemos a mesma coleta, com um projeto mais amplo e permanente, e não temos muitas contribuições? A que se atribui isto?
E se alguém quiser ajudar, como faz?
Entra no site e clica no banner onde se podem fazer doações com cartão de crédito via Paypal, via depósito ou transferência, assim como boleto bancário. Não há dificuldade, além da disposição e condições do doador. Em caso de financiamentos maiores, publicidade ou proposta de novos projetos, pode enviar e-mail para adital@adital.com.br.
Um dos grandes desafios de quem faz comunicação independente hoje no Brasil é a sustentação. A Agência de Comunicação Frei Tito de Alencar para a América Latina (Adital) não fica atrás e, atualmente, passa mais uma vez por sérios problemas de sustentação, com redução de produção e novo risco de encerrar suas atividades. Esta não é a primeira vez que acontece. É a quinta em seus 12 anos e sete meses de funcionamento. Hoje, a direção luta para que não seja a última. A partir de 1º de novembro de 2013 reduzirá drasticamente sua produção, iniciou a demissão massiva de todos os funcionários e, até dezembro, ficará praticamente sem pessoal para enfrentar a incerteza da continuidade.
O objetivo da Adital quando foi fundada, em fevereiro de 2001, era informar, não só à sua lista de assinantes que crescia diariamente (hoje são 95 mil leitores-assinantes, com mais de 3 milhões de page views ao mês e mais de 7 mil na fanpage do Facebook), como à população em geral, pautando a grande mídia. A ideia é que sempre haverá espaço para movimentos sociais e direitos humanos na mídia, desde que a notícia seja bem cuidada, com critérios de noticiabilidade em conformidade com o que o público se habituou a considerar a estética jornalística, com o cuidado de dar um novo enfoque, com a ousadia de pensar que um outro mundo é possível.
Modelo de negócio em crise
Mas tudo isso precisa de dinheiro. Quer seja para custear visitas às fontes, para as coberturas normais e especiais, para correspondentes, para jornalistas competentes e bilíngues, para estagiários, para tradutores, para revisores, para o pessoal de administração, para a coordenação, para pesquisa de campo e até para pagar técnicos de informática, para a manutenção de equipamentos e compra de material de escritório. Mesmo pela internet, informação de qualidade custa muito caro.
Como a cada dia que passa, a sociedade quer pagar menos pela notícia que consome, se agrava uma crise global no modelo de negócio, pois ainda não se encontraram fórmulas mágicas de autossustentação na internet sem uma dependência de muitos anunciantes que, historicamente, não têm interesse na linha editorial da Adital. Submeter-se a esta dependência econômica severa, poderia significar também a dependência de ideias, mudança de linha editorial e até mesmo de gerência do site.
Dessa forma, a Adital optou, desde o princípio, nos idos da década de 2000, por financiamentos de agências estrangeiras de fomento ao desenvolvimento do terceiro mundo (hoje, países em desenvolvimento), por campanhas de autossustentação, com assinantes, além de alguns banners governamentais, dentro da verba regular de mídia que existe no Brasil. Contudo, os financiamentos dessas agências estão migrando para o continente africano, entendido como mais necessitado do que o Brasil, visto de fora como em franca ascensão econômica, embora ainda com desigualdades solucionáveis, para os investidores sociais.
A verba que chega como contribuição de leitores está em torno de 1 mil reais mensais, algo em torno de 500 dólares ao mês, o que não supre as despesas anuais da Adital, que giram em torno de 250 mil dólares ano. Uma conta rápida, para sobreviver de doações, seria necessário aumentar em 4 mil vezes esse valor de contribuição. Em entrevista à reportagem da Adital, o diretor executivo padre Ermanno Allegri, fala da decisão de reduzir a produção ao mínimo e quais as perspectivas para o futuro.
O que vai ser da Adital daqui por diante?
Tivemos que desistir dos últimos dois jornalistas da redação. Agora, nós vamos trabalhar com apenas o editor e dois estagiários até o fim do ano, com a produção mínima de quatro matérias por dia, quando fecharemos para o recesso. Porque quem fica vai trabalhar meio período. Até lá, manteremos uma produção com a hibridização das matérias da Adital e Adital Jovem, enviando somente um boletim, mas mantendo as duas páginas. Os artigos serão apenas quatro por dia. É o que ainda podemos oferecer até o fim do ano.
E como será em 2014?
Estamos tentando conseguir alguns financiamentos com agências estrangeiras e com os amigos que temos na Igreja Católica. Até o momento, ainda temos dois pequenos financiamentos internacionais, que não chegam a 15 mil euros ao ano (20.500 dólares), o que deve dar para pagar os impostos e manutenção de equipamentos em 2014. Uma base mínima para conseguir procurar novos projetos de financiamento. Um desses financiamentos acaba em 2015 e o outro em 2016. Depois disso, não temos mais nada.
E as campanhas de autossustentação com apoio de atores e personalidades famosas?
Estas não chegam a mil reais (500 dólares) por mês. Acho que os leitores entendem que, como temos uma página bonita e informação de qualidade, não precisamos de nenhuma ajuda. Ninguém para e pensa: "Como eles conseguem isso sem estarem ligados a nenhuma instituição maior?” E não entendo porque as pessoas que nos leem todos os dias não se sensibilizam. Se 10 mil dos 95 leitores que recebem diariamente o boletim colaborassem anualmente com 50 reais, já resolveríamos as dificuldades. Se as entidades das quais nós propagamos suas reivindicações e lutas cotidianas colaborassem com 200 reais por ano, não teríamos mais preocupações.
E se as contribuições não aparecerem?
Vamos vender a sede, pagar as dívidas e torcer para que outra boa ideia de comunicação que supra essa lacuna de conteúdo latino-americano bilíngue, atento aos problemas sociais da América Latina e do Caribe e encontre um modelo de sustentação viável. Mas não vamos desistir. Estou regularmente pedindo à Secretaria de Comunicação do Governo Dilma que reconsidera a sua política de distribuição de financiamento de propaganda, e redirecione alguma verba para a comunicação independente, assim como buscando financiamentos na Europa e no Brasil.
Já pensaram em crowdfunding, que é o financiamento coletivo que consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes?
Já conhecemos a experiência do site da Catarse, mas é um financiamento para projeto pontuais. É preciso ainda ter uma campanha forte e específica para cada projeto, assim como prestação de contas. Ou seja, um núcleo bem preparado para pensar e executar uma infinidade de projetos, é isso que a Agência Pública faz. Ela não tem informação diária e a equipe que a organiza o faz a partir de material independente que selecionam. É outra dinâmica e proposta. Porém, guardadas as devidas proporções, fazemos a mesma coleta, com um projeto mais amplo e permanente, e não temos muitas contribuições? A que se atribui isto?
E se alguém quiser ajudar, como faz?
Entra no site e clica no banner onde se podem fazer doações com cartão de crédito via Paypal, via depósito ou transferência, assim como boleto bancário. Não há dificuldade, além da disposição e condições do doador. Em caso de financiamentos maiores, publicidade ou proposta de novos projetos, pode enviar e-mail para adital@adital.com.br.
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