Por Nirlando Beirão, na revista CartaCapital:
A tevê no Brasil daria inveja à Inquisição espanhola. Talvez até obrigasse o Marquês de Sade, imerso em maquinações malignas na reclusão de Charenton, a reconhecer sua incapacidade de competir, em pé de igualdade, com programas destinados a explorar a miséria humana e a vulnerabilidade alheia.
Escrevi “no Brasil”, mas desconfio que o repertório de aberrações, humilhações e agressividade não seja atributo apenas nosso, esgueira-se por nichos de emissoras mesmo do mundo dito civilizado – embora não haja a menor dúvida de que a tevê brasileira se esmerou em aperfeiçoar a fórmula. Do histórico Geraldo made in USA ao rombudo Datena dos crepúsculos tropicais, a tevê procedeu a uma longa trajetória de especialização.
É sobre isso que se debruça Silvia Viana, professora de sociologia da Fundação Getulio Vargas, em tese de doutorado na USP agora publicada como livro com título que não deixa dúvidas: Rituais de Sofrimento (Editora Boitempo, 190 páginas, 37 reais).
Silvia foca, em especial, nos reality shows, com o sadismo explícito das eliminações pactuadas com a audiência, à moda do Coliseu romano. Para aliviar a mauvaise conscience dos BBBs e das Fazendas, acena-se com o argumento de que ali o sofrimento é voluntário, o preço a ser alegremente pago por mamutes e peladonas no investimento em uma carreira de subcelebridade.
Para além desses picadeiros onde exibicionismo e voyeurismo se entrelaçam, espetáculos estridentes que fazem o apanágio de Pedro Bial e assemelhados, prosperam outros territórios de crueldade mitigada, que se dissimulam no humor tosco dos flagras e das “pegadinhas”. Aí, o Pânico, na Band, se supera, com o requinte de um deboche que não poupa sequer seus próprios protagonistas. Sabrina Sato que o diga.
A tevê no Brasil daria inveja à Inquisição espanhola. Talvez até obrigasse o Marquês de Sade, imerso em maquinações malignas na reclusão de Charenton, a reconhecer sua incapacidade de competir, em pé de igualdade, com programas destinados a explorar a miséria humana e a vulnerabilidade alheia.
Escrevi “no Brasil”, mas desconfio que o repertório de aberrações, humilhações e agressividade não seja atributo apenas nosso, esgueira-se por nichos de emissoras mesmo do mundo dito civilizado – embora não haja a menor dúvida de que a tevê brasileira se esmerou em aperfeiçoar a fórmula. Do histórico Geraldo made in USA ao rombudo Datena dos crepúsculos tropicais, a tevê procedeu a uma longa trajetória de especialização.
É sobre isso que se debruça Silvia Viana, professora de sociologia da Fundação Getulio Vargas, em tese de doutorado na USP agora publicada como livro com título que não deixa dúvidas: Rituais de Sofrimento (Editora Boitempo, 190 páginas, 37 reais).
Silvia foca, em especial, nos reality shows, com o sadismo explícito das eliminações pactuadas com a audiência, à moda do Coliseu romano. Para aliviar a mauvaise conscience dos BBBs e das Fazendas, acena-se com o argumento de que ali o sofrimento é voluntário, o preço a ser alegremente pago por mamutes e peladonas no investimento em uma carreira de subcelebridade.
Para além desses picadeiros onde exibicionismo e voyeurismo se entrelaçam, espetáculos estridentes que fazem o apanágio de Pedro Bial e assemelhados, prosperam outros territórios de crueldade mitigada, que se dissimulam no humor tosco dos flagras e das “pegadinhas”. Aí, o Pânico, na Band, se supera, com o requinte de um deboche que não poupa sequer seus próprios protagonistas. Sabrina Sato que o diga.
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