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O texto abaixo é trecho de um post publicado pelo Eduardo Guimarães a respeito da ação da mídia para punir os punidos, ou seja, retirar supostas “regalias” que os condenados do mensalão teriam recebido na penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, dentre elas a possibilidade de ler:
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A leitura pode ser um bálsamo para o encarcerado que a aprecie. Deveria ser estimulada, aliás. Tira a mente do que não presta. Contudo, a “regalia” que permitia que condenados do mensalão lessem à vontade foi revogada por estarem “lendo mais do que o permitido”.
A tortura psicológica costuma ser vista como até mais intensa e penosa do que a tortura física, que, após algum tempo, o torturado aprende a suportar, até por seu corpo e seus sentidos não resistirem. Já a psique humana é um parque de diversões para o sádico; permite supliciar sem limites.
Se a mídia não quer “regalias” para os condenados do mensalão tais como ler um livro, tampouco quer algum direito constitucional como o de um condenado cumprir sua pena tal como foi preconizada – e nunca de forma mais dura ou mais branda.
O objetivo que excita o sadismo midiático é o de minar o espírito dos dois petistas e o dos companheiros que partilham a dor deles não só por sabê-los condenados injustamente, mas por cumprirem uma pena mais dura do que aquela que deveriam estar cumprindo.
Sob essa sanha pervertida, os sádicos midiáticos já encontraram mais direitos a suprimir enquanto os direitos a preservar são ignorados: os condenados do mensalão poderão ficar com a luz acesa até às 24 horas do dia 24 de dezembro. E, escândalo dos escândalos, após receberem uma “ceia de natal”.
Dizem os instrumentos de tortura conformados em papel impresso que os “mensaleiros” receberão “quentinhas” contendo com arroz, feijão, carne, legumes e verduras. E o luxo é tanto que terão acesso à cantina do presídio, onde poderão comprar cigarros e refrigerante.
Esses “mensaleiros” não se emendam, não é mesmo?
As “regalias” de que desfrutariam os petistas que atiçam a perversidade midiática, porém, não são regalias coisa alguma. Eles ainda dispõem de alguma diferenciação dos condenados ao regime fechado simplesmente porque estão padecendo sob ele ilegalmente, pois deveriam estar no regime semiaberto.
Isso em um país em que traficantes, estupradores, assassinos e até políticos corruptos conseguem ficar em liberdade contando com a sabida e consabida leniência que o dinheiro ou a influência da mídia podem comprar da Justiça.*****
Digo eu, Azenha, que desde que O Globo e a Folha, especialmente, passaram a prever rebelião iminente na Papuda, dado o descontentamento de presos com supostos privilégios dos petistas, era óbvio o desenrolar: as autoridades seriam forçadas a agir. Se não agissem e houvesse uma rebelião, seriam condenadas. Se agissem impedindo a rebelião imaginada por O Globo… bem, conseguiram impedir a rebelião, certo?
O que nos choca acima de tudo é que essa gente tente se passar por defensora:
1. Da aplicação rigorosa da lei;
2. Dos presos mais humildes, que não teriam os supostos privilégios dos petistas.
Ora, se é assim, a mídia deveria, em defesa dos presos desprotegidos, denunciar com toda a força o domínio que o PCC tem sobre a maior parte dos presídios paulistas, onde a facção protege alguns, mas explora a maioria.
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Trecho de texto publicado por Vasconcelo Quadros no IG:
“O PCC é uma organização criminosa armada, de caráter permanente”, afirmam 22 promotores do Ministério Público paulista na denúncia de 876 páginas – resultado da maior investigação já feita no Brasil e que esquadrinhou a estrutura da quadrilha – em que o Estado brasileiro reconhece, pela primeira vez, a existência da organização.
[...]
As investigações oficiais confirmam: a organização controla 169.085 dos 201.699 presos paulistas, 137 das 152 unidades prisionais; tem mais de seis mil integrantes trabalhando dentro dos presídios mediando conflitos e 1.800 “soldados” nas ruas da capital. Outros 2.398 detentos filiados estão esparramados por presídios de outros estados.
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Qual seria a consequência de um aperto sobre o PCC nestas 137 unidades prisionais controladas pela facção em São Paulo? Uma explosão em ano eleitoral, complicando a reeleição de Geraldo Alckmin.
O acordo é tácito, não declarado. Decidiram até não falar o nome do PCC, para ver se ele desaparece.
No Presídio Central de Porto Alegre o acordo entre o Estado e as facções locais pelo menos é explícito: cada uma controla uma das galerias, em troca de não matar, nem “virar” a cadeia.
Foi o que contamos na reportagem abaixo. O arranjo é sustentado pelas famílias de todos os presos e implica em enriquecer os líderes das facções dentro do presídio:
Um arranjo que custa caro às famílias de presos from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.
Se a mídia está realmente preocupada com os presos mais simples, que não contam com os supostos privilégios dos petistas, deveria denunciar também a situação do complexo penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, uma das cadeias mais violentas do Brasil, onde mais de 40 presos foram mortos só em 2013, alguns dos quais degolados e esquartejados.
A segurança foi terceirizada, numa daquelas soluções tão caras aos que defendem o “ajuste do Estado”. Por conta da falta de segurança, o borracheiro Elson, condenado pela receptação de quatro pneus que alegava não saber terem sido produto de furto, foi preso junto com homicidas e ladrões de banco e morreu decapitado num confronto entre facções:
Selvageria no Maranhão from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.
No entanto, não se vê, a não ser com raras exceções – como a de Vasconcelo Quadros, no IG – uma tentativa de expor as mazelas do sistema prisional equivalente às manchetes indignadas com o suposto tratamento privilegiado dado a petistas.
Mesmo que houvesse um petista preso em cada uma das penitenciárias brasileiras, justificando a atenção da mídia, dificilmente isso aconteceria.
O motivo é óbvio: na onda dos que acreditam em “direitos humanos para humanos direitos”, ou seja, vale tudo contra quem não é “direito”, a mídia nunca de fato se preocupou com os presos a ponto de atingir a apoplexia causada pela leitura fora de hora dos “mensaleiros”.
O Globo não é porta voz da massa carcerária, como agora se pretende. Quer apenas ter certeza de que os petistas presos vão sofrer tanto — ou mais que os outros. É, como escreveu Eduardo Guimarães, puro sadismo. Só isso.
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