Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
"Nós não éramos assim", constata o amigo Washington Olivetto. Além de grande mestre da publicidade brasileira, ele é um livre pensador corintiano sempre atento ao que acontece à sua volta e preocupado com os rumos do país.
Tanto que, em plena manhã de sábado de dezembro, quando todo mundo vai às compras e às festinhas de fim de ano, Washington estava lá firme no auditório da Fnac de Pinheiros, em São Paulo, de bermudas e alpargatas, participando de uma entrevista aberta no encontro anual do "Jornalirismo", uma iniciativa do jovem Guilherme Azevedo, que procura aproximar os grandes nomes da comunicação dos profissionais e estudantes da área.
Com algum desalento e dor no seu coração de eterno otimista, tanto que nunca deixou de ser corintiano, Washington fez a constatação acima sobre as mudanças no comportamento do brasileiro ao comentar que ultimamente estamos ficando mais grosseiros _ agressivos e intolerantes, eu acrescentaria _ quando lhe perguntei o que dava e o que não lhe dava esperanças no futuro do Brasil.
Pai de dois filhos pequenos, claro que como todos nós ele espera entregar um país melhor a eles, mas o grande entrave que vê para isso é a falta de uma Educação de qualidade, que acaba sendo a causa principal das nossas deficiências e mazelas atuais e, ao mesmo tempo, caso melhore um dia, a maior das esperanças no futuro.
Já estava pensando em escrever sobre esta onda de grosseria que se espalha como uma onda pelo País em todas as áreas da sociedade, quando estourou neste final de semana a selvageria das duas torcidas nas arquibancadas da Arena Joinville, onde jogavam neste domingo Atlético Paranaense e Vasco pela última rodada do Brasileirão.
Vocês já devem ter visto as inacreditáveis imagens de torcedores literalmente se trucidando uns aos outros, correndo para todos os lados e atropelando quem encontravam pela frente, como se os "black blocs" tivessem chegado ao futebol sem máscaras. Não bastava derrubar o inimigo. Era preciso chutar-lhe a cabeça, esmagar-lhe os testítulos a pontapés, humilhá-lo e exterminá-lo, se possível.
Nunca tinha visto nada parecido, a não ser nos comentários do Fla-Flu político na internet, embora seja crescente a violência nos nossos estádios, tanto que muitos deles estão interditados, o que levou o jogo do Atlético Paranaense contra o carioca Vasco para Joinville, em Santa Catarina.
Ali se chegou ao limite da estupidez humana e de um quadro de total descontrole dos que deveriam zelar pela nossa segurança, mas as pequenas agressões, grosserias e baixarias cotidianas estão por toda parte, da internet ao shopping, do trânsito congestionado das ruas aos aeroportos em colapso, das praias às padarias, todo mundo querendo passar na frente do outro e levar alguma vantagem, nem que seja a golpes de buzinadas ou cotoveladas.
Senhoras finas em seus carrões off-road que circulam soberanas pelas alamedas dos Jardins empunham o dedo médio a três por quatro e soltam palavrões dignos das arquibancadas cada vez que algo as incomoda no trânsito, já que as ruas não são mais só delas e ainda por cima estão sendo tomadas por faixas exclusivas de ônibus, dividindo o espaço com carros lentos e velhos, dirigidos por motoristas de primeira viagem.
O que aconteceu no estádio de Joinville neste domingo, onde quatro torcedores ficaram feridos - um deles em estado grave, com fratura no craneo - e seis acabaram presos é apenas o reflexo da deterioração das relações humanas numa sociedade que já foi cordata e gentil, pedia com licença, por favor, dizia obrigado, dava bom dia, boa tarde e boa noite, e se desculpava quando esbarrava sem querer em alguém.
Um exemplo disso foi o que aconteceu comigo outro dia quando estava chegando ao dentista. Ao tentar descer no terceiro andar, uma senhora robusta colocou-se diante da porta e ameaçou avançar em cima de mim. Disse-lhe com toda educação: "Se a senhora não sair da frente, eu não consigo descer e a senhora não vai conseguir entrar". Fez cara feia, mas, mesmo contrariada, acabou dando um passo atrás. Evitou-se assim um conflito de maiores proporções e o elevador continuou circulando normalmente. Quantas cenas semelhantes a essa não estarão acontecendo neste momento em sua cidade, meu caro leitor?
Se você tiver outros casos destas cenas de incivilidade que campeiam por aí nos dias que antecedem o jingle-bells, e que deveriam nos tornar mais fraternos e tolerantes, pode mandar aqui para o Balaio. Bons exemplos, se os há, também serão bem recebidos. Não podemos nunca perder as esperanças.
Espero que todos cheguem sãos e salvos pelo menos até o Natal. O Brasileirão já acabou, mas nunca se sabe o que pode nos acontecer na próxima esquina.
Tanto que, em plena manhã de sábado de dezembro, quando todo mundo vai às compras e às festinhas de fim de ano, Washington estava lá firme no auditório da Fnac de Pinheiros, em São Paulo, de bermudas e alpargatas, participando de uma entrevista aberta no encontro anual do "Jornalirismo", uma iniciativa do jovem Guilherme Azevedo, que procura aproximar os grandes nomes da comunicação dos profissionais e estudantes da área.
Com algum desalento e dor no seu coração de eterno otimista, tanto que nunca deixou de ser corintiano, Washington fez a constatação acima sobre as mudanças no comportamento do brasileiro ao comentar que ultimamente estamos ficando mais grosseiros _ agressivos e intolerantes, eu acrescentaria _ quando lhe perguntei o que dava e o que não lhe dava esperanças no futuro do Brasil.
Pai de dois filhos pequenos, claro que como todos nós ele espera entregar um país melhor a eles, mas o grande entrave que vê para isso é a falta de uma Educação de qualidade, que acaba sendo a causa principal das nossas deficiências e mazelas atuais e, ao mesmo tempo, caso melhore um dia, a maior das esperanças no futuro.
Já estava pensando em escrever sobre esta onda de grosseria que se espalha como uma onda pelo País em todas as áreas da sociedade, quando estourou neste final de semana a selvageria das duas torcidas nas arquibancadas da Arena Joinville, onde jogavam neste domingo Atlético Paranaense e Vasco pela última rodada do Brasileirão.
Vocês já devem ter visto as inacreditáveis imagens de torcedores literalmente se trucidando uns aos outros, correndo para todos os lados e atropelando quem encontravam pela frente, como se os "black blocs" tivessem chegado ao futebol sem máscaras. Não bastava derrubar o inimigo. Era preciso chutar-lhe a cabeça, esmagar-lhe os testítulos a pontapés, humilhá-lo e exterminá-lo, se possível.
Nunca tinha visto nada parecido, a não ser nos comentários do Fla-Flu político na internet, embora seja crescente a violência nos nossos estádios, tanto que muitos deles estão interditados, o que levou o jogo do Atlético Paranaense contra o carioca Vasco para Joinville, em Santa Catarina.
Ali se chegou ao limite da estupidez humana e de um quadro de total descontrole dos que deveriam zelar pela nossa segurança, mas as pequenas agressões, grosserias e baixarias cotidianas estão por toda parte, da internet ao shopping, do trânsito congestionado das ruas aos aeroportos em colapso, das praias às padarias, todo mundo querendo passar na frente do outro e levar alguma vantagem, nem que seja a golpes de buzinadas ou cotoveladas.
Senhoras finas em seus carrões off-road que circulam soberanas pelas alamedas dos Jardins empunham o dedo médio a três por quatro e soltam palavrões dignos das arquibancadas cada vez que algo as incomoda no trânsito, já que as ruas não são mais só delas e ainda por cima estão sendo tomadas por faixas exclusivas de ônibus, dividindo o espaço com carros lentos e velhos, dirigidos por motoristas de primeira viagem.
O que aconteceu no estádio de Joinville neste domingo, onde quatro torcedores ficaram feridos - um deles em estado grave, com fratura no craneo - e seis acabaram presos é apenas o reflexo da deterioração das relações humanas numa sociedade que já foi cordata e gentil, pedia com licença, por favor, dizia obrigado, dava bom dia, boa tarde e boa noite, e se desculpava quando esbarrava sem querer em alguém.
Um exemplo disso foi o que aconteceu comigo outro dia quando estava chegando ao dentista. Ao tentar descer no terceiro andar, uma senhora robusta colocou-se diante da porta e ameaçou avançar em cima de mim. Disse-lhe com toda educação: "Se a senhora não sair da frente, eu não consigo descer e a senhora não vai conseguir entrar". Fez cara feia, mas, mesmo contrariada, acabou dando um passo atrás. Evitou-se assim um conflito de maiores proporções e o elevador continuou circulando normalmente. Quantas cenas semelhantes a essa não estarão acontecendo neste momento em sua cidade, meu caro leitor?
Se você tiver outros casos destas cenas de incivilidade que campeiam por aí nos dias que antecedem o jingle-bells, e que deveriam nos tornar mais fraternos e tolerantes, pode mandar aqui para o Balaio. Bons exemplos, se os há, também serão bem recebidos. Não podemos nunca perder as esperanças.
Espero que todos cheguem sãos e salvos pelo menos até o Natal. O Brasileirão já acabou, mas nunca se sabe o que pode nos acontecer na próxima esquina.
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