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O episódio batizado de Mensalão e atribuído ao PT teria desviado R$ 73 milhões dos cofres públicos. Já o caso intitulado Cartel do Metrô e atribuído ao PSDB envolveria valores de, no mínimo, R$ 557 milhões. O primeiro segue sendo classificado, pela imprensa tradicional, de “o maior escândalo de corrupção da história do país”. E o segundo, como se pode classificar?
A rigor, desviar um real ou R$ 1 bilhão seria o mesmo ato infrator, se a ética fosse uma ciência exata como a matemática. Especialmente quando aplicada às finanças públicas.
Mas estamos falando da política, do mundo dos interesses representados e em permanente conflito. Do mundo da construção de discursos para a busca do convencimento e a formação de hegemonias. Do jogo democrático objetivo, real. Que não existe sem imprensa livre.
Quando elege “o maior escândalo de corrupção da história do país”, a mídia faz essa ponderação. Não toma apenas o valor financeiro do Mensalão, mas sua dimensão simbólica: ministros, secretários, presidentes da Câmara, deputados, gente de alto escalão envolvida. Seria o maior escândalo, nessa visão, pelo alcance dentro do Estado e a dimensão da ofensa institucional.
Mas, peguemos o trem para São Paulo. Já são quase oito vagões a mais que o Mensalão, no quesito grana.
Não temos também um senador citado no Cartel do Metrô? Deputados? Ex-ministros, secretários, eminentes personalidades da oposição brasileira? E tudo não aconteceu sob a responsabilidade de três governadores, um deles atualmente no cargo e todos ex-candidatos à presidência da República?
Não é tamanho suficiente? Ofensa equivalente?
Se o poder federal tem dimensão maior que o estadual, nesse caso o estadual é o núcleo da oposição federal. Há, portanto, senão empate técnico, perfeito empate moral.
E se há essa equivalência entre os dois escândalos, caberia, em primeiro lugar, dar publicidade ao caso paulista com a mesma eloquência espetacular concedida ao caso federal. Depois, refazer os cálculos, para definir quem ocupa o pódio da corrupção.
Mas existe o alinhamento político dos veículos, esse que eles gostam tanto de negar. E então apresenta-se a inevitável “dosimetria de pauta”, muito praticada nas redações, mas bem menos conhecida do grande público do que a sua congênere judicial.
O Mensalão petista vale um trem carregadinho de otários e circula de norte a sul, fazendo piuí em alto volume, em todas as páginas e telas. Já o pobre Cartel do Metrô tucano… O que, quem, quando, onde, como, alguém viu? O escândalo paulista é a típica pauta gelada, focada nas laterais do assunto, diversionista, evasiva. Não informa nem, muito menos, irrita ou mobiliza ninguém.
Se um assunto é tão menor que o outro na percepção do público – percepção que é construída nas fontes onde ele se informa -, como pretender que o Cartel seja valorado objetivamente como um “malfeito” maior que o Mensalão e receba a faixa de máximo caso de corrupção no país? Impossível.
É dessa forma que se produzem os recordes de corrupção: atribuindo-os a quem interessa. A quem de esquerda ora ocupa o trono e dele deve ser apeado. A balança dos critérios está inapelavelmente chumbada. A única matemática financeira envolvida é a do cálculo eleitoral.
Não é exatamente justo, equilibrado, imparcial e isento esse comportamento noticioso, como reza o manual instituído pelos próprios noticiantes. Mas é como é. Dessa forma procede a veneranda instituição da imprensa, à sombra das palavras vazias que gosta muito de cultivar.
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