sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A falta de memória e a vaidade de FHC

Do blog de José Dirceu:

Nesta semana de pré-campanha para seu candidato ao Planalto, senador Aécio Neves (PSDB-MG) – candidatura lançada por ele há mais de um ano -, o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso foi mais ambicioso e pretensioso que o próprio candidato. Para FHC, conforme ele deixa claro em toda a sua movimentação política, de artigos a entrevistas, passando pelas articulações, (nos governos do PT) tudo é propaganda. E o que não é foi ele que criou – da distribuição de renda à estabilidade fiscal no país.

Lógico, FHC deixa de lado – e a equipe do blog de José Dirceu cobra isto porque o ex-ministro o fazia com frequência aqui – o fato histórico de que ele, depois de oito anos de governo (1995-2002) deixou o país em crise, endividado, quebrado, na verdade, de pires na mão no portão do FMI. Como herança legou, além disso, o alto desemprego, uma elevada inflação e a crise energética. Mais que isso, legou-nos um país derrotado.

Partido de elite, o PSDB tem sonhos com as manifestações de junho passado. FHC reconhece que elas não foram dirigidas ao PT e ao governo Dilma, mas ele e os caciques tucanos que o acompanham inventam uma tese nova: como o governo Dilma propôs os cinco pactos (pela saúde, educação, transportes, reforma política e combate à corrupção) para enfrentar as causas da insatisfação popular, eles dizem que o governo vestiu a carapuça.

Sociólogo, FHC também não percebeu que o chão é outro

Ora, propalam isto quando a realidade, o chão, é outro. O fato é que o governo e o Congresso Nacional implementaram os pactos com os royalties do petróleo para a educação e a saúde, com o programa Mais Médicos, com o plano de investimento em mobilidade urbana e com medidas legais contra a corrupção. E o governo só não fez a reforma política porque o parlamento, PSDB à frente, não aprovou o plebiscito sobre ela, confirmando a natureza elitista tucana.

Antes de falar no futuro, FHC repete as platitudes elitistas sobre Lisboa e Cuba – que tanto impressionaram Aécio Neves, que as distorceu – e pasmem, concorda com a política burra de seu pupilo e candidato ao Planalto, contra o financiamento de exportações. Depois sem nenhum pudor FHC fala de insegurança pública. É, ele mesmo, morador de São Paulo, Estado governado pelos tucanos há mais de 20 anos. E onde a segurança pública – melhor dizendo, a insegurança – é o que se vê…

E aí, FHC critica a saúde pública e o programa Minha Casa Minha vida, para depois pontificar na arena favorita do tucanato a redução de impostos. Não fala da redução do número de ministérios e nem da reforma política e eleitoral. Bate na tecla do desperdício e incompetência administrativas e não deixa passar em branco a corrupção. Consegue fazê-lo sem falar dos escândalos mineiros e paulistas, do mensalão tucano mineiro e do trensalão paulista – aqui, na verdade, dois escândalos gerados pela formação de cartéis permitidos pelos governos do PSDB paulista, nas áreas de energia e de transportes públicos.

O irrealismo e a falta de alternativas da oposição

As manifestações de FHC na pré-campanha presidencial do PSDB – em que as vezes assume papel até mais destacado que o candidato Aécio – comprovam o irrealismo tucano e a falta de alternativas da oposição. Em pré-campanha, numa semana inteira que enceramos hoje, nenhuma palavra sobre câmbio e juros, sobre política industrial e de defesa industrial, sobre a questão fiscal. Tampouco uma proposta sequer, por exemplo, sobre a desindexação na poupança e de nossa dívida interna com o câmbio valorizado.

Estariam os tucanos dispostos a uma administração de câmbio, a uma desindexação da economia, a enfrentar o problema da redefinição do tempo e do cálculo de inflação? Dispostos a desindexar a dívida interna com base na taxa Selic de juros?

Olha, tucanos, é difícil vencer um adversário sem reconhecer onde residem suas fortaleza e defesa principais. FHC e Aécio insistem em negar ou taxar como propaganda enganosa as mudanças que o Brasil viveu nos últimos 12 anos. Daí não entenderem as manifestações de junho e suas razões. Não entenderem a nova classe trabalhadora e sua realidade, não apenas social e econômica, mas também política, ideológica e cultural, nascendo e se impondo.

E não basta entendê-la, é preciso fazer parte dela e do processo que a move, disputar seu apoio e direção. Essa é a questão política que decidirá quem governará o Brasil que nasce agora, como aquele que nasceu no final da década de 60 na confluência da oposição liberal, democrática e de esquerda da ditadura com os movimentos sociais cujas maiores expressões são o presidente Lula e o PT.

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