Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil |
Capacidade de mobilização, luta pela democracia e compromisso com o desenvolvimento do Brasil. Foram essas as características mais exaltadas por diversas organizações e lideranças políticas em ato de apoio ao MST, realizado na noite desta quinta-feira (13/02), em Brasília. O encontro ocorreu no penúltimo dia do VI Congresso Nacional do movimento, que também celebra os 30 anos de sua fundação.
“O povo brasileiro é devedor do MST. Se em algum momento o movimento popular teve influência nas ações do Estado, o MST foi liderança nesse processo. Os movimentos que tem programa, direção e rosto tem a a capacidade de fazer a revolução democrática que queremos”, afirmou o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT).
Para D. Maurício Andrade, da Confederação Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), foi marcante a marcha protagonizada por mais de 16 mil pessoas na tarde de quarta-feira (12/02), em Brasília.
“Foi um momento de eternidade ver o povo assim organizado”. Ele ainda defendeu um papel político para as instituições religiosas. “As igrejas também precisam lutar pela transformação das estruturas injustas desse país”.
A capacidade de mobilização do movimento foi ressaltada pelo promotor de Justiça do Ministério Público Agrário de Minas Gerais, Alfonso Henrique. “O recado que vocês deram para aqueles que acham que vão impedir a Reforma Agrária é esse: 'estamos vivos'”.
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou que “as classes dominantes, no esforço de coagir setores da classe média, faz entender que revolução é sinônimo de violência. Mas a única violência é a da exploração do povo. Para eles, a ordem natural das coisas é a submissão das classes populares”.
Apoio de partidos
Vários representantes de partidos políticos participaram do ato e ressaltaram a trajetória do MST. “Valorizamos a forma de luta dos Sem Terra, que vai para além dos limites do corporativismo e do movimentismo”, destacou Lenina, do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Não faltaram críticas ao governo federal pela (não) política de Reforma Agrária. Ao mencionar o baixo número de desapropriações ocorridas nos últimos anos, Luiz Araújo, presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), foi duro.
“A Reforma Agrária saiu das prioridades do governo. Construir Belo Monte, usar metade do orçamento público para pagar juros da dívida, confraternizar com a bancada ruralista, nada disso contribui com a Reforma Agrária”.
Entre os participantes do ato, estava o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, que recebeu lideranças do movimento na tarde desta quinta com a presidente Dilma Rousseff. Ele não discursou.
Pelo Partido dos Trabalhadores (PT), falou o seu presidente, Rui Falcão. O dirigente lembrou que a luta social “está no DNA” do partido e que a atual correlação de forças no parlamento e na sociedade impede o avanço das reformas democráticas.
Falcão também destacou que é preciso combater os vários latifúndios brasileiros, que além do campo, incluem o “latifúndio nas cidades, do monopólio dos meios de comunicação, do controle da economia pelas multinacionais, o capital financeiro e o latifúndio do poder econômico sobre o sistema político”.
João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, destacou a ampla gama de partidos e organizações que apoiam o MST, mas enfatizou a necessidade da unidade em torno das bandeiras populares. “Reunimos aqui do PSTU ao Gilberto Carvalho (PT). A divergência de ideologia é natural, mas a diferença na luta concreta do povo é burrice”.
Reforma Agrária Popular: alimentos saudáveis e preservação ambiental
Na fala de saudação e agradecimento pela direção nacional do MST, Stedile afirmou para os apoiadores que todos “nos reconhecemos na mesma causa. Não é um congresso do MST, é um congresso do povo brasileiro que luta pela Reforma Agrária”.
Ele explicou que o congresso culminou um processo de dois anos de reflexão sobre a realidade brasileira, e o movimento teria chegado a várias conclusões, forjando um programa de Reforma Agrária Popular para o país. “Não acrescentamos esse adjetivo por acaso. O Popular é no sentido que a Reforma Agrária interessa a todo o povo brasileiro”, frisou.
Segundo Stedile, o capital financeiro e as multinancionais dominam a agricultura, explorando os recursos naturais ao limite, produzindo pobreza no campo e a perda da biodiversidade. “A Reforma Agrária Popular propõe democratizar a terra, a água, as sementes, a biodiversidade. Os recursos da natureza devem produzir alimentos saudáveis para o povo”.
O governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), também reforçou que a estratégia de desenvolver o campo por meio da agricultura familiar é a mais justa, porque “protege o meio ambiente”. Na mesma linha discursou Márcio Astrini, do Greenpeace. “A luta do MST e Greenpeace é a mesma em defesa do meio ambiente e das populações do campo e da floresta”.
O bispo D. Guilherme, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lamentou que nenhum governo do período democrático tenha realizado a Reforma Agrária e defendeu um limite máximo para a propriedade da terra no Brasil.
“Mas só conseguiremos isso por meio de um projeto de iniciativa popular”, sugeriu. Stedile concordou que nunca houve Reforma Agrária no país. “Todos os assentamentos criados nesse país foram fruto de luta do povo, não de um programa de Reforma Agrária”.
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