Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Tão certo como 2 e 2 são 4, o Bolsa Família voltará a ser assunto na eleição presidencial de 2014. Desde a reeleição de Lula, há oito anos, o programa é personagem do debate eleitoral. Agora, seu papel talvez seja fundamental.
Os dois principais candidatos oposicionistas já deixaram claro que não permitirão que Dilma Rousseff seja sua única “dona”. Especialmente Aécio Neves, que sabe quanto o cidadão comum duvida das reais intenções do PSDB de mantê-lo.
Como mostram as pesquisas, o PSDB perdeu a guerra pela paternidade do programa. Na verdade, nunca chegou a ameaçar a primazia de Lula como seu criador, por mais que tenha tentado se apresentar como responsável por ele.
Ninguém comprou a tese de que “tudo começou” em Campinas, onde a prefeitura tucana, em 1994, lançou um modesto programa local de complementação de renda. Se o argumento fosse bom, não seria difícil dizer que foi Alziro Zarur, com seu “sopão”, o verdadeiro início.
Para o PSDB, o problema é que o Bolsa Família não tem a “cara” tucana, não se parece com aquilo que o eleitor associa a suas ideias e políticos. Por isso, toda vez que um candidato peessedebista o defende, soa artificial – para não dizer falso. Daí a ênfase que Aécio precisa empregar para afirmar que não apenas o continuaria, mas o “melhoraria”, sem que nunca fique muito claro em quê.
É o mesmo que diz Eduardo Campos. Sem padecer do problema tucano de incompatibilidade, não precisa desperdiçar tempo na discussão genética. Não sendo e não posando de “criador” do Bolsa Família, promete “apenas” que vai “aprimorá-lo”.
Enquanto, com mais ou menos naturalidade, os candidatos da oposição fazem o que podem para ficar perto do programa, o PT volta a disputar uma eleição sem resolver a contraditória relação que tem com ele. Pois, se é fato que o Bolsa Família possui a “cara” de Lula e do partido, nem sempre o discurso das candidaturas petistas é adequadamente afirmativo.
Salvo em seus primórdios, quando não tinha adversários, sua defesa nunca foi firme. Foi prioridade nos governos Lula e Dilma e recebeu tratamento orçamentário compatível à sua importância (o que permitiu que crescesse e se consolidasse), mas o discurso sobre o Bolsa Família permaneceu tímido. Como se tivesse que sempre se justificar e se explicar perante seus muitos inimigos na sociedade.
No fundo, se é verdade que a oposição não tem a paternidade do programa, o PT não venceu a luta ideológica a seu respeito.
O paradoxo do papel eleitoral do Bolsa Família está em que, embora os candidatos oposicionistas façam o possível para mostrar-se seus defensores, os eleitores de oposição o repudiam. A rigor, a maioria o detesta.
A partir de 2006, quando a oposição na sociedade e na mídia culpou o Bolsa Família pela reeleição de Lula, ele tornou-se vilão. Em 2010, a vitória de Dilma foi nova confirmação de seu poder “deletério”.
“Esperteza do Lula”, “compra do voto dos miseráveis”, “fonte de indolência”, “incentivo à procriação”, são apenas exemplos do que se ouve sobre o Bolsa Família em pesquisas qualitativas com antipetistas. É o que dizem os intelectuais da “grande imprensa”.
O grave é a ausência de um contradiscurso, que apresente o programa pelo ângulo da solidariedade e da cidadania. Que enfrente estereótipos e preconceitos. Que não fique preso às noções de “condicionalidade”, “contraprestação” e “porta de saída”. Que não aja como se o correto fosse não haver Bolsa Família.
O programa chega a esta eleição vulnerável, sem o vigor da juventude. Mais que isso, com as mudanças sociais e econômicas dos últimos anos, o Bolsa Família tornou-se obsoleto para muitos cidadãos.
Isso é especialmente verdade na tênue e instável fronteira que separa os beneficiários do programa dos segmentos de menor renda das “classes emergentes” urbanas. Às vezes, vizinhos de rua, integrantes da mesma família, sentem que “dão duro” e arcam com pesados impostos, enquanto outros apenas “se escoram”. Uns pagam, outros recebem benefícios.
Sem um discurso positivo e enfático em sua defesa, o Bolsa Família pode deixar de ser um patrimônio para Dilma. Pode tornar-se um problema: um símbolo de política errada.
Tão certo como 2 e 2 são 4, o Bolsa Família voltará a ser assunto na eleição presidencial de 2014. Desde a reeleição de Lula, há oito anos, o programa é personagem do debate eleitoral. Agora, seu papel talvez seja fundamental.
Os dois principais candidatos oposicionistas já deixaram claro que não permitirão que Dilma Rousseff seja sua única “dona”. Especialmente Aécio Neves, que sabe quanto o cidadão comum duvida das reais intenções do PSDB de mantê-lo.
Como mostram as pesquisas, o PSDB perdeu a guerra pela paternidade do programa. Na verdade, nunca chegou a ameaçar a primazia de Lula como seu criador, por mais que tenha tentado se apresentar como responsável por ele.
Ninguém comprou a tese de que “tudo começou” em Campinas, onde a prefeitura tucana, em 1994, lançou um modesto programa local de complementação de renda. Se o argumento fosse bom, não seria difícil dizer que foi Alziro Zarur, com seu “sopão”, o verdadeiro início.
Para o PSDB, o problema é que o Bolsa Família não tem a “cara” tucana, não se parece com aquilo que o eleitor associa a suas ideias e políticos. Por isso, toda vez que um candidato peessedebista o defende, soa artificial – para não dizer falso. Daí a ênfase que Aécio precisa empregar para afirmar que não apenas o continuaria, mas o “melhoraria”, sem que nunca fique muito claro em quê.
É o mesmo que diz Eduardo Campos. Sem padecer do problema tucano de incompatibilidade, não precisa desperdiçar tempo na discussão genética. Não sendo e não posando de “criador” do Bolsa Família, promete “apenas” que vai “aprimorá-lo”.
Enquanto, com mais ou menos naturalidade, os candidatos da oposição fazem o que podem para ficar perto do programa, o PT volta a disputar uma eleição sem resolver a contraditória relação que tem com ele. Pois, se é fato que o Bolsa Família possui a “cara” de Lula e do partido, nem sempre o discurso das candidaturas petistas é adequadamente afirmativo.
Salvo em seus primórdios, quando não tinha adversários, sua defesa nunca foi firme. Foi prioridade nos governos Lula e Dilma e recebeu tratamento orçamentário compatível à sua importância (o que permitiu que crescesse e se consolidasse), mas o discurso sobre o Bolsa Família permaneceu tímido. Como se tivesse que sempre se justificar e se explicar perante seus muitos inimigos na sociedade.
No fundo, se é verdade que a oposição não tem a paternidade do programa, o PT não venceu a luta ideológica a seu respeito.
O paradoxo do papel eleitoral do Bolsa Família está em que, embora os candidatos oposicionistas façam o possível para mostrar-se seus defensores, os eleitores de oposição o repudiam. A rigor, a maioria o detesta.
A partir de 2006, quando a oposição na sociedade e na mídia culpou o Bolsa Família pela reeleição de Lula, ele tornou-se vilão. Em 2010, a vitória de Dilma foi nova confirmação de seu poder “deletério”.
“Esperteza do Lula”, “compra do voto dos miseráveis”, “fonte de indolência”, “incentivo à procriação”, são apenas exemplos do que se ouve sobre o Bolsa Família em pesquisas qualitativas com antipetistas. É o que dizem os intelectuais da “grande imprensa”.
O grave é a ausência de um contradiscurso, que apresente o programa pelo ângulo da solidariedade e da cidadania. Que enfrente estereótipos e preconceitos. Que não fique preso às noções de “condicionalidade”, “contraprestação” e “porta de saída”. Que não aja como se o correto fosse não haver Bolsa Família.
O programa chega a esta eleição vulnerável, sem o vigor da juventude. Mais que isso, com as mudanças sociais e econômicas dos últimos anos, o Bolsa Família tornou-se obsoleto para muitos cidadãos.
Isso é especialmente verdade na tênue e instável fronteira que separa os beneficiários do programa dos segmentos de menor renda das “classes emergentes” urbanas. Às vezes, vizinhos de rua, integrantes da mesma família, sentem que “dão duro” e arcam com pesados impostos, enquanto outros apenas “se escoram”. Uns pagam, outros recebem benefícios.
Sem um discurso positivo e enfático em sua defesa, o Bolsa Família pode deixar de ser um patrimônio para Dilma. Pode tornar-se um problema: um símbolo de política errada.
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