Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
O noticiário policial dos jornais paulistas tem registrado, nos últimos dias, uma frequência preocupante de episódios de depredações e ataques em cidades do interior. Os incidentes têm sido vinculados, ainda que indiretamente, à decisão de colocar sob regime de isolamento os líderes da facção criminosa chamada Primeiro Comando da Capital, que cumprem penas em presídios de segurança máxima.
Nos quatro dias de carnaval, foram dezenas de ataques com coquetéis molotov contra veículos, principalmente ônibus, e prédios públicos e particulares em cinco cidades, com grande concentração no oeste e noroeste do Estado. Em algumas das ocorrências, chama atenção a presença de adolescentes, com idades entre 13 e 16 anos.
Com cautela, porta-vozes da Secretaria da Segurança Pública evitam afirmar que se trata de uma retaliação por conta do cerco ao chamado PCC. Somente em Campinas, catorze ônibus do sistema municipal de transporte foram depredados na madrugada de terça-feira (4/4). Durante o período de carnaval, chegou a 22 o total de veículos vandalizados.
No carnaval do ano passado, registraram-se apenas 6 ocorrências desse tipo, mas em 2011 a cidade havia sofrido nada menos do que 66 ataques a ônibus, o que complica a análise das causas.
Na cidade de Promissão, a 451 km de São Paulo, além de sete veículos também foi atacada a casa de um policial rodoviário. As outras cidades com ocorrências semelhantes foram Assis, Ourinhos e Santa Cruz do Rio Pardo.
Policiais ouvidos pela imprensa acham que a ação foi uma resposta a uma operação que resultou na apreensão de grande quantidade de drogas e na prisão de 199 suspeitos na região. Em outra reportagem, o Estado de S. Paulo divulga relatório do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, órgão da ONU, no qual se revela que o consumo de cocaína no Brasil mais do que dobrou em dez anos. Além de fundamental na rota da droga produzida nos países andinos, nosso país se tornou um dos maiores consumidores, com um volume quatro vezes superior à média mundial.
Quem financia?
Há uma relação direta entre os incidentes no interior paulista e indicadores de consumo de drogas, embora não explicitada nas reportagens: o lucro dos traficantes é tão elevado e seus negócios tão consolidados que toda ação policial de grande escala produz um efeito semelhante ao das crises que abalam as bolsas de valores.
Em alguns casos, a apreensão de grandes quantidades, como ocorreu na véspera do carnaval, quando a polícia recolheu 300 quilos de drogas na sede da Torcida Organizada do Palmeiras, em São Paulo, provoca um rearranjo no sistema de distribuição e o imediato aumento de preços.
As reportagens sempre remetem a dificuldades do governo paulista com o sistema do crime organizado, principalmente em relação ao chamado PCC. Mas o noticiário fragmentado dissimula o principal eixo da questão: falta uma política nacional capaz de controlar o fluxo de drogas através do país, e não há como escapar à responsabilidade da aliança política liderada pelo PT, que domina o poder Executivo desde 2003: os dados da ONU sobre a expansão do mercado das drogas no Brasil, em índices superiores aos do consumo mundial, nesse período, não deixam margem para desculpas.
O desembargador aposentado Walter Maierovitch, certamente o brasileiro mais familiarizado com a questão do crime organizado e ex-titular da Secretaria Nacional Antidrogas, costuma dizer que as operações policiais espetaculares são apenas isso: espetáculos. Na sua opinião, os anúncios de grandes apreensões de substâncias ilícitas apenas sinalizam para o mercado do crime que é hora de aumentar preços. O grande desafio, observa, é atacar as finanças das quadrilhas.
De fato, o leitor nunca encontra respondida nos jornais, a pergunta: a quem pertencem as drogas apreendidas? Por exemplo, quem era o dono dos 445 quilos de pasta-base de cocaína que foram apreendidos num helicóptero que pertence ao deputado mineiro Gustavo Perrella, do partido Solidariedade?
Mas há uma questão ainda mais importante: quem financia o narcotráfico? Repórteres investigativos que foram atrás dessa pauta nos últimos trinta anos esbarraram em delegados de polícia, políticos, empreendedores imobiliários, oficiais da Polícia Militar, donos de casas de prostituição, bicheiros e exploradores de jogos clandestinos – chegaram perto até mesmo de um empresário do setor de educação.
Mas essa segue sendo a reportagem que nunca foi escrita.
O noticiário policial dos jornais paulistas tem registrado, nos últimos dias, uma frequência preocupante de episódios de depredações e ataques em cidades do interior. Os incidentes têm sido vinculados, ainda que indiretamente, à decisão de colocar sob regime de isolamento os líderes da facção criminosa chamada Primeiro Comando da Capital, que cumprem penas em presídios de segurança máxima.
Nos quatro dias de carnaval, foram dezenas de ataques com coquetéis molotov contra veículos, principalmente ônibus, e prédios públicos e particulares em cinco cidades, com grande concentração no oeste e noroeste do Estado. Em algumas das ocorrências, chama atenção a presença de adolescentes, com idades entre 13 e 16 anos.
Com cautela, porta-vozes da Secretaria da Segurança Pública evitam afirmar que se trata de uma retaliação por conta do cerco ao chamado PCC. Somente em Campinas, catorze ônibus do sistema municipal de transporte foram depredados na madrugada de terça-feira (4/4). Durante o período de carnaval, chegou a 22 o total de veículos vandalizados.
No carnaval do ano passado, registraram-se apenas 6 ocorrências desse tipo, mas em 2011 a cidade havia sofrido nada menos do que 66 ataques a ônibus, o que complica a análise das causas.
Na cidade de Promissão, a 451 km de São Paulo, além de sete veículos também foi atacada a casa de um policial rodoviário. As outras cidades com ocorrências semelhantes foram Assis, Ourinhos e Santa Cruz do Rio Pardo.
Policiais ouvidos pela imprensa acham que a ação foi uma resposta a uma operação que resultou na apreensão de grande quantidade de drogas e na prisão de 199 suspeitos na região. Em outra reportagem, o Estado de S. Paulo divulga relatório do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, órgão da ONU, no qual se revela que o consumo de cocaína no Brasil mais do que dobrou em dez anos. Além de fundamental na rota da droga produzida nos países andinos, nosso país se tornou um dos maiores consumidores, com um volume quatro vezes superior à média mundial.
Quem financia?
Há uma relação direta entre os incidentes no interior paulista e indicadores de consumo de drogas, embora não explicitada nas reportagens: o lucro dos traficantes é tão elevado e seus negócios tão consolidados que toda ação policial de grande escala produz um efeito semelhante ao das crises que abalam as bolsas de valores.
Em alguns casos, a apreensão de grandes quantidades, como ocorreu na véspera do carnaval, quando a polícia recolheu 300 quilos de drogas na sede da Torcida Organizada do Palmeiras, em São Paulo, provoca um rearranjo no sistema de distribuição e o imediato aumento de preços.
As reportagens sempre remetem a dificuldades do governo paulista com o sistema do crime organizado, principalmente em relação ao chamado PCC. Mas o noticiário fragmentado dissimula o principal eixo da questão: falta uma política nacional capaz de controlar o fluxo de drogas através do país, e não há como escapar à responsabilidade da aliança política liderada pelo PT, que domina o poder Executivo desde 2003: os dados da ONU sobre a expansão do mercado das drogas no Brasil, em índices superiores aos do consumo mundial, nesse período, não deixam margem para desculpas.
O desembargador aposentado Walter Maierovitch, certamente o brasileiro mais familiarizado com a questão do crime organizado e ex-titular da Secretaria Nacional Antidrogas, costuma dizer que as operações policiais espetaculares são apenas isso: espetáculos. Na sua opinião, os anúncios de grandes apreensões de substâncias ilícitas apenas sinalizam para o mercado do crime que é hora de aumentar preços. O grande desafio, observa, é atacar as finanças das quadrilhas.
De fato, o leitor nunca encontra respondida nos jornais, a pergunta: a quem pertencem as drogas apreendidas? Por exemplo, quem era o dono dos 445 quilos de pasta-base de cocaína que foram apreendidos num helicóptero que pertence ao deputado mineiro Gustavo Perrella, do partido Solidariedade?
Mas há uma questão ainda mais importante: quem financia o narcotráfico? Repórteres investigativos que foram atrás dessa pauta nos últimos trinta anos esbarraram em delegados de polícia, políticos, empreendedores imobiliários, oficiais da Polícia Militar, donos de casas de prostituição, bicheiros e exploradores de jogos clandestinos – chegaram perto até mesmo de um empresário do setor de educação.
Mas essa segue sendo a reportagem que nunca foi escrita.
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