Por Theófilo Rodrigues, no blog Cadernos de Cultura e Política:
Em 11 de setembro de 2001, se alguém tivesse recebido na internet a informação de que dois aviões atingiram as Torres Gêmeas em Nova York, imediatamente ligaria a televisão para saber a veracidade daquela notícia. A rede mundial de computadores (World Wide Web – WWW) ainda era muito recente. Hoje, passados 12 anos, a lógica parece estar se invertendo. Se alguém quiser comprovar qualquer informação obtida na televisão irá imediatamente para a internet. Buscará comparar as matérias de blogs, portais, sítios ou mesmo rede sociais para poder formar a sua própria opinião.
Pesquisa da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal (Secom) divulgada hoje (07/03/2014) comprova através de dados como a imagem acima apresentada – que ouvi alguns anos atrás de uma importante pesquisadora – é cada vez mais real, embora ainda não seja definitiva. A pesquisa da Secom em parceria com o IBOPE ouviu 18.312 entrevistados em 848 municípios e concluiu: a mídia impressa é cada vez menor e o internauta brasileiro já passa mais tempo na internet do que na televisão.
De acordo com os dados da pesquisa 97% dos entrevistados assistem TV, 61% têm o costume de ouvir rádio e 47% têm o hábito de acessar a internet. Os impressos ficam na rabeira: apenas 25% declaram ler jornais e 15% costumam ler revistas. Para além da fotografia pesa a série histórica: enquanto revistas e jornais estão em declínio o acesso à internet sobe permanentemente.
Os dados confirmam boatos que saem de algumas redações. O jornal O Globo, por exemplo, deverá acabar com sua versão impressa em 2018 assim como a Folha de São Paulo e o Estadão. Todos migrarão em médio prazo para a plataforma digital. Já observávamos tal tendência desde quando o tradicional Jornal do Brasil realizou sua migração completa do papel para a internet em 2010 após grave crise financeira.
O tempo que o brasileiro passa na internet
Um dos dados mais interessantes da pesquisa e que comprova a mudança qualitativa em curso está na mensuração do tempo que os entrevistados passam em cada um dos meios. Durante a semana os entrevistados passam uma média de 3h39min na internet, 3h29 min na televisão e 3h07 min no rádio. No fim de semana a diferença é ainda maior. O brasileiro passa uma média de 3h43min na internet, 3h32 min na televisão e 3h00 min no rádio. Ou seja, os brasileiros que possuem acesso à internet no Brasil passam mais tempo nas redes do que na televisão.
A falta de confiança nas notícias
Um elemento interessante oferecido pela pesquisa está na baixa confiança do brasileiro nas notícias. Conforme podemos observar no quadro abaixo o jornal impresso é o que possui melhor índice de confiança seguido por rádio, televisão e revistas. Sites, redes sociais e blogs ainda possuem menores índices de confiança. Cerca de 53% confiam nos jornais enquanto 47% não confiam.
Aproximadamente 50% confiam no rádio e na TV. Os sites possuem um índice de confiança de 28%, as redes sociais 24% e, por fim, os blogs possuem confiança de 22% dos entrevistados.
Contudo, tais dados precisam ser vistos com cuidado. A mídia impressa – a mais antiga de todas – tende a acabar no médio prazo. Já a blogosfera, em sentindo inverso, tende a se universalizar e ampliar sua credibilidade junto aos internautas. Consequência que só o tempo pode trazer. Uma outra questão precisa ser analisada com maior atenção no que diz respeito à credibilidade dos meios. Quando um entrevistado diz que não confia na mídia impressa, ele está falando daquele único jornal que tem acesso. Todavia, é intuitivo imaginar que quando um entrevistado fala sobre a internet, ele não está pensando em apenas um único blog, mas sim em toda a vasta diversidade da rede.
Os desafios da blogosfera
A partir desses ricos dados apresentados pela pesquisa da Secom a blogosfera precisa se preparar para o futuro. Diria que são dois os principais desafios da blogosfera.
Em primeiro lugar é preciso ampliar a credibilidade dos blogs. O tempo ajudará, mas não sozinho. Vários blogs possuem excelente qualidade hoje em dia, mas ainda são poucos diante da vastidão da internet. Claro que sempre haverá aqueles blogs que nascem em um dia e morrem no outro. Sempre haverá os blogs que são criados apenas para publicidade de um determinado tema ou para difamação dirigida. Quanto a isso não há o que fazer. Mas os blogs que se pretendem sérios precisam se qualificar. Não se trata aqui apenas de uma qualificação da estética, da forma, mas sim da ética, do conteúdo. Precisamos de textos bem escritos – a maior dificuldade de todos nós – e com fontes de qualidade e credibilidade. Mas, acima de tudo, os blogs precisam manter a chama da honestidade intelectual sempre presente.
Em segundo lugar é preciso que a blogosfera crie uma estrutura própria com portais agregadores de blogs. Os velhos jornais impressos ao migrarem para a internet criarão grandes portais agregadores dos blogs de seus jornalistas. O G1, R7, UOL, IG e Terra são alguns exemplos. Esses portais, pelas variedades de temas em um mesmo local, acabam por sugar a maior parte dos internautas. É necessário que os blogs independentes criem também seus portais agregadores. Um mesmo portal onde o internauta encontre o blog de política do Miguel do Rosário, o blog de cultura do Bemvindo Sequeira, o blog de mídia do Renato Rovai, o blog de feminismo da Larissa Ormay, as notícias internacionais do Breno Altman etc…
A migração da mídia impressa para a internet abre uma nova possibilidade para a democracia da informação. Na época da mídia impressa as grandes empresas de comunicação possuíam um grande diferencial que era o poder econômico para a distribuição. A distribuição sempre foi o calcanhar de Aquiles de qualquer mídia alternativa. Com a internet todos podem vir a ser iguais, pois a necessidade de recursos é reduzida consideravelmente. Mas não serão amadores que superarão os profissionais. É preciso qualificação e dedicação para que a blogosfera possa construir hoje a mídia democrática de amanhã.
* Theófilo Rodrigues é cientista político e coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé – Rio de Janeiro.
Em 11 de setembro de 2001, se alguém tivesse recebido na internet a informação de que dois aviões atingiram as Torres Gêmeas em Nova York, imediatamente ligaria a televisão para saber a veracidade daquela notícia. A rede mundial de computadores (World Wide Web – WWW) ainda era muito recente. Hoje, passados 12 anos, a lógica parece estar se invertendo. Se alguém quiser comprovar qualquer informação obtida na televisão irá imediatamente para a internet. Buscará comparar as matérias de blogs, portais, sítios ou mesmo rede sociais para poder formar a sua própria opinião.
Pesquisa da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal (Secom) divulgada hoje (07/03/2014) comprova através de dados como a imagem acima apresentada – que ouvi alguns anos atrás de uma importante pesquisadora – é cada vez mais real, embora ainda não seja definitiva. A pesquisa da Secom em parceria com o IBOPE ouviu 18.312 entrevistados em 848 municípios e concluiu: a mídia impressa é cada vez menor e o internauta brasileiro já passa mais tempo na internet do que na televisão.
De acordo com os dados da pesquisa 97% dos entrevistados assistem TV, 61% têm o costume de ouvir rádio e 47% têm o hábito de acessar a internet. Os impressos ficam na rabeira: apenas 25% declaram ler jornais e 15% costumam ler revistas. Para além da fotografia pesa a série histórica: enquanto revistas e jornais estão em declínio o acesso à internet sobe permanentemente.
Os dados confirmam boatos que saem de algumas redações. O jornal O Globo, por exemplo, deverá acabar com sua versão impressa em 2018 assim como a Folha de São Paulo e o Estadão. Todos migrarão em médio prazo para a plataforma digital. Já observávamos tal tendência desde quando o tradicional Jornal do Brasil realizou sua migração completa do papel para a internet em 2010 após grave crise financeira.
O tempo que o brasileiro passa na internet
Um dos dados mais interessantes da pesquisa e que comprova a mudança qualitativa em curso está na mensuração do tempo que os entrevistados passam em cada um dos meios. Durante a semana os entrevistados passam uma média de 3h39min na internet, 3h29 min na televisão e 3h07 min no rádio. No fim de semana a diferença é ainda maior. O brasileiro passa uma média de 3h43min na internet, 3h32 min na televisão e 3h00 min no rádio. Ou seja, os brasileiros que possuem acesso à internet no Brasil passam mais tempo nas redes do que na televisão.
A falta de confiança nas notícias
Um elemento interessante oferecido pela pesquisa está na baixa confiança do brasileiro nas notícias. Conforme podemos observar no quadro abaixo o jornal impresso é o que possui melhor índice de confiança seguido por rádio, televisão e revistas. Sites, redes sociais e blogs ainda possuem menores índices de confiança. Cerca de 53% confiam nos jornais enquanto 47% não confiam.
Aproximadamente 50% confiam no rádio e na TV. Os sites possuem um índice de confiança de 28%, as redes sociais 24% e, por fim, os blogs possuem confiança de 22% dos entrevistados.
Contudo, tais dados precisam ser vistos com cuidado. A mídia impressa – a mais antiga de todas – tende a acabar no médio prazo. Já a blogosfera, em sentindo inverso, tende a se universalizar e ampliar sua credibilidade junto aos internautas. Consequência que só o tempo pode trazer. Uma outra questão precisa ser analisada com maior atenção no que diz respeito à credibilidade dos meios. Quando um entrevistado diz que não confia na mídia impressa, ele está falando daquele único jornal que tem acesso. Todavia, é intuitivo imaginar que quando um entrevistado fala sobre a internet, ele não está pensando em apenas um único blog, mas sim em toda a vasta diversidade da rede.
Os desafios da blogosfera
A partir desses ricos dados apresentados pela pesquisa da Secom a blogosfera precisa se preparar para o futuro. Diria que são dois os principais desafios da blogosfera.
Em primeiro lugar é preciso ampliar a credibilidade dos blogs. O tempo ajudará, mas não sozinho. Vários blogs possuem excelente qualidade hoje em dia, mas ainda são poucos diante da vastidão da internet. Claro que sempre haverá aqueles blogs que nascem em um dia e morrem no outro. Sempre haverá os blogs que são criados apenas para publicidade de um determinado tema ou para difamação dirigida. Quanto a isso não há o que fazer. Mas os blogs que se pretendem sérios precisam se qualificar. Não se trata aqui apenas de uma qualificação da estética, da forma, mas sim da ética, do conteúdo. Precisamos de textos bem escritos – a maior dificuldade de todos nós – e com fontes de qualidade e credibilidade. Mas, acima de tudo, os blogs precisam manter a chama da honestidade intelectual sempre presente.
Em segundo lugar é preciso que a blogosfera crie uma estrutura própria com portais agregadores de blogs. Os velhos jornais impressos ao migrarem para a internet criarão grandes portais agregadores dos blogs de seus jornalistas. O G1, R7, UOL, IG e Terra são alguns exemplos. Esses portais, pelas variedades de temas em um mesmo local, acabam por sugar a maior parte dos internautas. É necessário que os blogs independentes criem também seus portais agregadores. Um mesmo portal onde o internauta encontre o blog de política do Miguel do Rosário, o blog de cultura do Bemvindo Sequeira, o blog de mídia do Renato Rovai, o blog de feminismo da Larissa Ormay, as notícias internacionais do Breno Altman etc…
A migração da mídia impressa para a internet abre uma nova possibilidade para a democracia da informação. Na época da mídia impressa as grandes empresas de comunicação possuíam um grande diferencial que era o poder econômico para a distribuição. A distribuição sempre foi o calcanhar de Aquiles de qualquer mídia alternativa. Com a internet todos podem vir a ser iguais, pois a necessidade de recursos é reduzida consideravelmente. Mas não serão amadores que superarão os profissionais. É preciso qualificação e dedicação para que a blogosfera possa construir hoje a mídia democrática de amanhã.
* Theófilo Rodrigues é cientista político e coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé – Rio de Janeiro.
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