domingo, 9 de março de 2014

Hugo Chávez, o "estranho ditador"

Por Thiago Pará, no sítio da UNE:

Vai, comandante descansar!
A tua parte heroicamente foi cumprida
A humanidade se sente agradecida
Por tê-lo tido como companheiro;
Serás lembrado no futuro o tempo inteiro
Pela sua enérgica teimosia”
Ademar Bogo, A humanidade agradecida.


Há exatamente um ano, em 5 de março de 2013, morria Hugo Chávez Frias. Idealizador e comandante da Revolução Bolivariana, processo de transformação social no qual entrou a Venezuela após Chávez eleger-se presidente. Neste período, se pudemos confirmar o quão forte e marcante foram suas contribuições não apenas para o povo venezuelano, como para todos os povos latino-americanos, não passou despercebida a atuação da direita na tentativa de impor seus interesses.

Durante o período que esteve à frente da presidência (1999 a 2013), Chávez foi exaustivamente tachado pelos monopólios da comunicação como um ditador. Os fatos por trás desta afirmação revelam, no mínimo, um estranho ditador!

Estranho ditador, por que sua formação militar seguiu pelo lado oposto daqueles que procuraram usar a legitimidade e força da farda para derrubar governos legitimamente eleitos pelo povo em nome do imperialismo. Não é papel do exército desferir golpes de Estado, mas confundir-se com seu povo na defesa intransigente de sua soberania e dignidade, dizia.

Como pode um ditador submeter sua posição a sucessivas eleições? No total, foram 16, das quais Chávez venceu 15. Todas acompanhadas por observadores internacionais, chegando ao ponto de um ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, sentenciar que o sistema eleitoral venezuelano é “o melhor do mundo”.

No campo da educação foram imensas as conquistas, com as Missões Robinson I e II, Ribas e Sucre. Em 2005, a UNESCO declarou erradicado o analfabetismo na Venezuela. Em dez anos, o número de crianças na escola passou de 6 para 13 milhões, a taxa de escolarização é de 93%. O número de estudantes universitários passou de 895 mil para 2,3 milhões.

Na saúde, com a criação do Sistema Nacional Público, foram criados mais de 7 mil centros médicos e a relação médico por habitante aumentou em mais de 400%. A taxa de mortalidade infantil reduziu em 50% e a expectativa de vida passou de 72,2 para 74,3.

A pobreza diminuiu de 42,8 para 26,5. Segundo o PNUD, o país tem o menor índice de GINI da América Latina e os menores índices de desigualdade da região. Foram mais de 60% os aumentos com gastos sociais, 700 mil moradias construídas e 3 milhões de hectares distribuídos com a reforma agrária.

Esses são alguns dos fatos que a Venezuela nos apresenta e que permitem questionar a mídia golpista, que se dedicou para desestabilizar o governo de Hugo Chávez. Os avanços sociais somados aos esforços permanentes e contínuos de organização do povo, além da lealdade das forças armadas, são hoje os pilares que nos fazem confiar que a Revolução Bolivariana resistirá aos atuais ataques. Pois suportou a outros, talvez mais tresloucados que estes.

Como não recordar da tentativa frustrada de golpe que a direita venezuelano com o apoio dos EUA, tentaram emplacar no 11 de abril de 2002? Naquele momento como hoje, o que sustentou a democracia foram o povo e setores do exército, que nas ruas impediram aquilo que seria a volta dos interesses imperialistas, a dirigir o país.

Este “estranho ditador” alcançou legitimidade popular jamais vista e incontestável, não somente em seu país, como também nos demais países latino-americanos. Foi responsável ao lado de Fidel Castro e outros personagens, pela construção de ferramentas hoje fundamentais para o processo de integração de nosso continente: Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), Televisão do Sul (TeleSUR) e outros.

Hugo Chávez e o processo Bolivariano nos deixaram extenso legado para pensarmos as transformações democráticas em nossos países. Entre elas, o resgate das experiências históricas de lutas latino-americanas, a disputa e conquista das forças armadas para a causa do povo, expressa em garantia de soberania e dignidade, a unidade das forças de esquerda e construção de um instrumento político para os desafios atuais, com grau de amplitude nas alianças de acordo com a necessidade para a derrota dos inimigos centrais, a questão nacional e os símbolos da pátria, não como ufanismo, mas como força para a reconstrução de um projeto de país igualitário, a organização do povo e seu empoderamento ideológico, entre muitas outras lições.

E se hoje é urgente pensar nestas questões, não seria menor a atenção que deveríamos dar ao que podemos chamar de “processo constituinte”. Na Venezuela, Chávez conduziu o povo ao poder através de uma Assembleia Constituinte, com a intenção de reorganizar a sociedade de forma a serem resolvidos os problemas da população. No Brasil, temos a tarefa de construir o Plebiscito Popular por uma Constituinte, com o mesmo propósito: conduzir o povo ao poder, resolver os problemas de nosso país. Essa Constituinte não poderá ser obra do poder constituído (Legislativo, Judiciário e Executivo atuais), que farão de tudo para manter o atual sistema, mas do poder a constituir-se: o poder popular.

Hoje, mais que lamentar sua morte, reafirmamos seu legado para os povos oprimidos que lutam por libertação, defendemos os logros da Venezuela e nos solidarizamos com Nicolás Maduro contra as tentativas golpistas. E para aqueles que tentarem romper com a barreira midiática certamente irão se questionar: que estranho ditador, esse Hugo Chávez!

* Thiago Pará é diretor da UNE e militante do Levante Popular da Juventude.

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