Poucos deram atenção quando o PSC lançou o pastor Everaldo Dias Pereira como pré-candidato à Presidência da República, em maio de 2013. Muitos viram no anúncio sinais de oportunismo. O partido acabara de ganhar os holofotes da mídia com a polêmica eleição de Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Outros tantos encararam a candidatura como um blefe, mais uma traquinagem de uma legenda aliada em busca de espaços no governo. Agora, os petistas são forçados a reconhecer. O líder religioso representa um obstáculo a mais nos planos de reeleição de Dilma Rousseff.
Pastor da Assembleia de Deus, a maior denominação evangélica do País, Everaldo descarta a possibilidade de um acordo para abdicar da corrida presidencial. “Vou até o fim”. E pode ajudar a dispersar votos nas eleições e levar a disputa para o segundo turno, avalia o cientista político Cláudio Couto, da FGV.
Na primeira pesquisa eleitoral em que seu nome foi citado, o pastor aparece com 3% das intenções de voto, à frente de nomes mais conhecidos, como o senador Randolfe Rodrigues, do PSOL. O levantamento realizado pelo Datafolha entre 19 e 20 de fevereiro consultou 2.614 eleitores. “Everaldo tem o maior porcentual dos candidatos nanicos. Deve conquistar mais alguns pontos junto ao eleitorado evangélico e ajudar a levar Eduardo Campos ou Aécio Neves para o segundo turno”, diz Couto.
Mesmo com pouco tempo na tevê, algo em torno de dois minutos, segundo os cálculos do candidato, Everaldo afirma ser possível vencer as eleições. “Tenho pouco mais do que uma atiradeira e uma pedrinha, mas acredito em milagres”, diz, em alusão à passagem bíblica em que Davi derrota o gigante Golias.
Além da dispersão de votos, o que mais preocupa o PT é a exploração de bandeiras moralistas na campanha. Everaldo é contra o aborto, contra o reconhecimento de uniões homoafetivas e a favor da redução da maioridade penal. “O PSDB não precisará se desgastar falando contra o aborto, por exemplo. Everaldo fará isso por eles”, prevê o deputado petista Nilmário Miranda, ex-ministro dos Direitos Humanos de Lula.
O pastor, por sinal, não esconde a predileção pelo tema. “Todos sabem: defendo a vida desde a concepção e a família como está representada na Constituição, a união de um homem com uma mulher. Não tenho medo de expor minhas posições.”
Nascido e criado em Acari, no subúrbio do Rio de Janeiro, Everaldo é oriundo de família pobre. “Com oito ou nove anos, já trabalhava como camelô na Feira de Acari. Dos 12 aos 14 anos, fui servente de pedreiro. Depois passei num concurso para contínuo do Instituto de Resseguros do Brasil”. Foi lá que deu os primeiros passos no mercado de seguros, antes de fazer faculdade de Ciências Atuariais e montar sua própria corretora.
A religião, como gosta de enfatizar, veio de berço. É filho e neto de pastores evangélicos. Já a militância política começou por acaso, nas eleições municipais de 1982. “Ajudei um amigo que se candidatou a vereador”. Nunca mais parou. Quatro anos mais tarde, seria cabo eleitoral do deputado constituinte Sotero Cunha, ligado à Assembleia de Deus. Nas eleições de 1989, fez campanha para Leonel Brizola. “Ele não passou para o segundo turno, mas pediu para apoiarmos o ‘sapo barbudo’ (risos). Na reta final da campanha, Lula participou de um almoço com 300 pastores que eu reuni numa churrascaria da Baixada Fluminense”.
Nos anos 1990, o pastor abraçou campanhas de políticos evangélicos, como Anthony Garotinho. Eleito governador do Rio de Janeiro em 1998, Garotinho o premiou com o cargo de subchefe da Casa Civil. “Fui responsável pelo programa Cheque Cidadão”, conta Everaldo, orgulhoso. À época, contudo, a distribuição de cheques de 100 reais a famílias carentes foi alvo de duras críticas. O então deputado estadual Chico Alencar acusou o governador de promover “populismo messiânico”, uma vez que o repasse dos benefícios era intermediado por igrejas.
Everaldo filiou-se ao PSC em 2003, e gaba-se do crescimento da bancada do partido no Congresso desde então. “Tínhamos apenas um deputado federal. Agora, são 17 deputados e um senador”. O pastor possui ainda aliados poderosos, como o líder do PMDB da Câmara, Eduardo Cunha, também evangélico. Amigos de longa data, chegaram a ser sócios de uma rádio.
Nas disputas contra o governo, o PSC apresenta-se sempre à disposição do PMDB em suas maquinações políticas. É, por exemplo, um dos sete partidos rebelados da base aliada que hoje tentam emplacar uma investigação contra a Petrobras.
“Eduardo Cunha é meu irmão e amigo. Mas ele lá e eu cá”, despista Everaldo. “Não posso dizer que ele não ajudou o PSC, mas muitas vezes estamos em campos opostos. Tanto é que meu filho (Filipe Pereira) é deputado federal e concorreu com ele.”
O PSC sempre foi um aliado visto com desconfiança pelo governo. Em 2010, flertou com a candidatura de José Serra (PSDB) até cinco meses antes das eleições. Mesmo retardatário no apoio a Dilma, foi um dos maiores beneficiários de doações do PT durante a campanha. Recebeu 4,7 milhões de reais.
Everaldo nega, porém, a venda de apoio. “Essas doações só ocorreram em setembro, quando a eleição apertou e o PT precisava de nossa ajuda na campanha”, diz o pastor. Fechamos o acordo antes, em junho, após Michel Temer ser anunciado como vice de Dilma. O apelo do amigo falou mais alto”.
O afastamento do governo deu-se pela falta de espaço no governo. O PSC exigia ser tratado da mesma forma que o PCdoB, que controla o Ministério do Esporte e a Agência Nacional do Petróleo. “Temos um deputado a mais e nenhum cargo”.
A frenética agenda de candidato impõe uma rotina exaustiva. Em apenas dez dias, o pastor percorreu quase 8 mil quilômetros e visitou 16 municípios. Não se abala. “Como disse, acredito em milagres. Mas sei que nada cai do céu sem trabalho.”
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