Roberto Jefferson, o “bom ladrão”

Por Altamiro Borges

Parte da imprensa sempre torceu por Roberto Jefferson, o delator do chamado “mensalão petista”. O vídeo acima, da caricata Rachel Sheherazade, é apenas a expressão mais grotesca desta torcida. O que ela afirma – que o ex-deputado é um “bom ladrão” e merecia uma “medalha de honra ao mérito” – é o que a maioria dos “calunistas” da velha mídia pensa, mas não tem coragem de explicitar. Reinaldo Azevedo, o pitbull da Veja, até chegou a questionar se sua prisão foi justa. Para ele, Jefferson prestou um serviço ao país ao “expor as vísceras tanto de um modo de fazer política como de um partido político: o PT”. O ódio aos governos Lula e Dilma explica a complacência com que a mídia trata o ex-deputado, mesmo quando surgem novas denúncias de corrupção envolvendo o seu nome.

Neste sábado (1), o Estadão publicou uma matéria sobre as ligações de Roberto Jefferson com a empresa Siemens, a mesma que está metida no escândalo do “trensalão tucano” em São Paulo. Segundo a reportagem de Fausto Macedo e Fernando Gallo, “planilhas apreendidas em computadores de ex-diretores dos Correios indicam que a multinacional alemã Siemens acertou o pagamento de pelo menos R$ 150 mil em propina ao grupo do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) para obter um contrato com a empresa pública em 2005. Naquela época, Jefferson controlava politicamente os Correios. Foi em meio às suspeitas de que estaria envolvido com desvios na estatal que o então deputado e também presidente do PTB decidiu denunciar o mensalão”.

Ainda segundo a reportagem, “o contrato dos Correios que envolve a Siemens - que hoje também é alvo de investigações por causa do cartel dos trens que funcionou nos governos tucanos em São Paulo - tinha o valor de R$ 5,3 milhões. Ele foi firmado no governo Lula para fornecimento de sistemas eletrônicos de movimentação e triagem de carga... A sindicância dos Correios também viu indícios de suborno em outro contrato com a Siemens, este de 2001, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de R$ 25 milhões. Na ocasião, os Correios eram presididos por Hassan Gebrin, indicado pelo então ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. Pimenta hoje é o candidato tucano ao governo de Minas Gerais”.

As planilhas apreendidas pela Polícia Federal integram a ação penal contra Roberto Jefferson que corre na Justiça Federal do Distrito Federal. O ex-deputado é acusado por “formação de quadrilha” e apontado como “chefe da estrutura criminosa que atuava nos Correios e desviava dinheiro para o PTB”. A denúncia até agora não obteve maior repercussão na mídia oposicionista. Rachel Sheherazade não retirou sua proposta de “medalha de honra” e nem o pitbull da Veja resolveu a sua crise existencial sobre a prisão do petebista. A mídia seletiva, que persegue de forma implacável os petistas José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino, também foi piedosa com Roberto Jefferson, o último a ser preso em decorrência do midiático julgamento do “mensalão”. 

Na semana passada, a Folha relatou, sem destilar seu veneno, que “o ex-deputado Roberto Jefferson tem cardápio especial na cadeia. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, ‘foi feita por nutricionistas uma dieta alternativa, buscando atender as necessidades do preso’”. Ele também passou a primeira noite no Instituto Penal Coronel PM Francisco Spargoli Rocha, em Niterói (RJ), numa cela individual de seis metros quadrados. Não houve qualquer gritaria da mídia contra estas “regalias”. Afinal, como afirma Rachel Sheherazade, Roberto Jefferson é um “bom ladrão”!

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