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A velha imprensa, reunida em torno do Instituto Millenium, comemorou os resultados das últimas pesquisas eleitorais – que apontaram ligeira queda na intenção de votos em Dilma. Já os lulistas, pelo menos em público, preferiram destacar que Dilma seguiria a vencer a eleição em primeiro turno com os números atuais - já que os candidatos de oposição foram incapazes de capturar os eleitores que se desencantaram com o governo Dilma. No Ibope, Dilma tem 37%, Aécio 14% e Eduardo 6%. No Vox Populi, Dilma está com 40%, Aécio tem 16% e Eduardo 8%.
Na verdade, o quadro é mais complexo e indefinido do que fazem supor os mais exaltados nos dois lados da disputa. Com algo entre 38% e 40%, Dilma tem mesmo larga vantagem numérica sobre Aécio e Eduardo (juntos, os dois hoje não chegam a 25%). Mas é fato também que a aprovação ao governo sofre erosão – provocada pelo bombardeio em cima da Petrobras (Dilma e o governo passaram vários dias nas cordas, até que Lula aparecesse para dar o tom, e cobrar reações fortes), e por uma sensação difusa de mal-estar na economia e na vida cotidiana nos grandes centros urbanos.
A conclusão mais óbvia é que uma parcela do eleitorado, antes disposta a votar em Dilma, migrou para posição cautelosa: parece decepcionada com o governo, mas em vez de mudar diretamente para Aécio ou Eduardo preferiu fazer uma “parada técnica” em nulos/brancos/não sabe. A depender do andamento da campanha, esse eleitorado que abandona Dilma pode ir - sim - para Aécio e/ou Eduardo.
O tucano terá palanques fortes no Paraná, Minas, São Paulo e Bahia. Isso, por si só, deve garantir a Aécio um patamar em torno de 20% ou 22%.
Eduardo, aliado de Marina, também pode ser beneficiário da migração. Não tem palanques estaduais, mas tem a imagem de “terceira via”, de “amigo da Marina”, que certamente ajudará a conquistar eleitores nas franjas de classe média decepcionadas com o lulismo e com os “políticos” (como se Eduardo e Marina não fossem políticos profissionais!) – especialmente no Rio, Brasília e em capitais do Nordeste. Eduardo é conhecido por apenas metade do eleitorado. Quando for conhecido pela outra metade, o mais provável é que chegue a um patamar em torno de 15% dos votos.
Mas há um fator que não pode ser desprezado: nos últimos meses, a velha mídia tem falado quase sozinha no país. Não conseguiu alavancar seus candidatos, mas foi eficiente na estratégia de desgastar Dilma. Quando a campanha começar em agosto, a presidenta terá um tempo enorme de TV para fazer o contraponto ao Instituto Millenium. Portanto, é razoável que ela reconquiste pelo menos uma parcela dos eleitores hoje ressabiados diante do bombardeio midiático.
Dilma poderá mostrar que, se o país não vai maravilhosamente bem, está bem longe de caminhar para o buraco - como apontam as manchetes de jornais e telejornais.
De toda forma, se Aécio crescer para algo em torno de 20%, se Eduardo chegar a 15% e se os chamados nanicos conquistarem cerca de 5%, Dilma teria que fazer 40% para vencer no primeiro turno; hoje, ela parece já ter caído para um patamar abaixo disso. Pode reconquistar alguma coisa com o horário de TV, barrando a sangria. Se houver um percentual de brancos/nulos em torno de 20% (como sugerem as pesquisas), 40% mais um dos votos totais seria suficiente para garantir vitória no primeiro turno. Mas isso é cada vez menos provável – apesar dos números favoráveis à petista hoje.
O quadro político geral, o bombardeio da mídia velha, as dificuldades do PT em vários Estados e as dúvidas na economia parecem indicar uma eleição em 2 turnos.
Dilma segue favorita para vencer, mas numa disputa que deve ser mais apertada do que mostram os números atuais de Ibope, Vox Populi e outros institutos. Como já escrevi aqui, essa é a primeira eleição – desde 89 – em que há um quadro confuso entre continuidade/mudança: o eleitor – de forma majoritária – deseja mudança. Mas a oposição parece pouco confiável para comandar a mudança; o que pode favorecer a continuidade de Dilma à frente do país.
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