Por Pedro de Oliveira, no site da Fundação Mauricio Grabois:
Ao contrário das manifestações orquestradas por instituições monetárias do capital financeiro internacional – como o FMI e o Federal Reserve -- da grande mídia conservadora no Brasil e por alguns órgãos de imprensa ligados ao sistema financeiro -- como o jornal Financial Times e a revista The Economist, – que procuram mostrar o Brasil como um país vulnerável e em condições precárias para enfrentar a crise – um dos responsáveis do Itamaraty pela organização dos “Diálogos em Política Externa”, o embaixador José Humberto, nesta ocasião, traçou um perfil muito diferente das possibilidades e das oportunidades que a conjuntura oferece para o desenvolvimento brasileiro.
Segundo o embaixador, o Brasil vive uma inserção nova no panorama internacional, tanto no plano interno quanto no cenário mundial. Do ponto de vista interno, disse ele, o Brasil nas ultimas décadas passou de uma ditadura para uma democracia plena, de um quadro de inflação crônica e fora de controle para uma situação de relativa estabilidade monetária. E, ultimamente, o país vem dando passos importantes na erradicação de problemas como o da desigualdade, da pobreza e da fome, que conferiram ao país grande respeito e projeção internacional. Tudo isso fez com que o Brasil seja encarado de uma nova forma no plano das relações com os outros países. Ao mesmo tempo, avaliou o embaixador, as relações internacionais têm mudado em ritmo acelerado, com transformações que afetam a própria estruturação do panorama geopolítico e as opções estratégicas que se colocam para todo o mundo.
Assim sendo, José Humberto demonstrou que na verdade houve uma redução importante da vulnerabilidade externa do Brasil, como por exemplo, no que se refere à anterior dívida externa brasileira, que significava uma grande dependência econômica em relação aos centros financeiros internacionais. Hoje o Brasil é credor líquido, disse o embaixador, com reservas líquidas superiores aos ativos. O quadro de hoje é bem diferente dos tempos da chamada década perdida dos anos 1990. Na área energética, com todos os problemas podemos dizer que caminhamos para a autossuficiência em relação ao petróleo, e atingimos uma matriz energética em grande medida limpa e sustentável.
Nesta mesma linha o embaixador respondeu uma pergunta da plateia que arguiu se o Brasil não estaria com uma divida publica grande impossível de ser resgatada. Disse ele que a situação do Brasil – comparada com o nível atual de endividamento público de grandes economias do mundo desenvolvido, como é o caso da dívida dos Estados Unidos que teve sua dívida ultrapassando o tamanho global de sua economia ainda no final de 2012 – é relativamente aceitável para os padrões mundiais.
No plano geopolítico, o embaixador enfatizou o fato da superação de rivalidades que dificultaram nossas relações externas no passado – especialmente com nosso vizinho a Argentina – criando condições para o desenvolvimento do Mercosul e o fortalecimento das relações econômica, sociais e políticas com os diversos países da America do Sul e da América Latina.
Em relação à questão sensível dos Direitos Humanos, o Brasil soube se colocar num plano mais ofensivo, deixando para trás o defensismo que caracterizou nossa posição. Da mesma forma se pode dizer que o país avançou significativamente na esfera da defesa do Meio Ambiente. A bandeira da erradicação da miséria, um dos pilares da plataforma da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula se transformou num cartão de visitas do Brasil, que passou desta maneira a contribuir para a comunidade internacional na política de redução das desigualdades sociais e regionais.
Na área econômica, o embaixador lembrou que o Brasil passou a ser um investidor direto no exterior e não apenas um receptor de investimentos diretos estrangeiros. O país também passou a ser conhecido como “exportador” de cooperação internacional, quando se fala em segurança alimentar e inovação nesta área de produção agrícola.
As mudanças no sistema internacional
Na segunda parte de sua palestra, o embaixador José Humberto caracterizou o cenário mundial como uma era de difusão de poder, antes concentrado em um pequeno número de países – quando havia uma hegemonia absoluta dos Estados Unidos, da Alemanha e do Japão – que determinavam de maneira quase absoluta a política internacional. A mudança mostrou a formação de novos polos de poder no mundo, constituindo uma conjuntura policêntrica, apesar do domínio ainda preponderante dos EUA no poder militar por longo período.
Nesta nova configuração o Itamaraty, na opinião do embaixador, soube expandir sua rede de embaixadas nos outros continentes, principalmente na África, não deixando de priorizar a relação com os países da America Latina. A integração regional é pilar fundamental para o crescimento econômico brasileiro. Como vicissitudes a serem superadas o embaixador levantou a necessidade do Brasil dar um salto na sua capacidade tecnológica e de inovação, além de ter de absorver maior conhecimento científico para seu desenvolvimento. Desta forma poderá fortalecer sua base industrial, contribuir para a redução de assimetrias históricas entre os países sul-americanos e colocar no mercado de exportação produtos de maior valor agregado. O nosso país tem uma grande responsabilidade em manter e desenvolver o continente como uma região de paz e prosperidade compartilhada em um mundo instável e conflituoso.
Grandes desafios se colocam para o Brasil na África, no Oriente Médio e na esfera da ASEAN, a associação de países do sudeste asiático. Nas relações Sul-Sul cada vez se tornam mais concretas as possibilidades de fortalecimento do bloco chamado BRICs, reunindo o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, com reunião marcada para julho próximo na cidade de Fortaleza, no Ceará. No plano multilateral o Brasil já tem grande tradição de contribuição para as políticas de desenvolvimento sustentável e a construção de consensos entre os povos. Recentemente o país assumiu grandes responsabilidades de direção na FAO e na OMC, lutando para que seja possível a solução pacífica de controvérsias. Assim o embaixador concluiu seu pensamento certo que o Brasil tem uma grande contribuição a dar também na esfera dos valores da democracia, da justiça social e da cooperação solidária entre os países.
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