Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
Os grandes jornais, hoje, espumaram de ódio com a entrevista de Lula aos blogs.
A Folha registra e consegue conter o despeito, mas o Estadão, em seu editorial, o transborda.
Diz que Lula falou-nos “para ter de antemão a garantia de não ser surpreendido por perguntas incômodas, muito menos ter contestadas as suas respostas”.
E o Zero Hora foi além: “o ex-presidente sentou-se à mesa com pessoas que não têm como oferecer a neutralidade reclamada. Seus ouvintes eram responsáveis por blogs assumidamente governistas, muitos dos quais sustentados por verbas oficiais.”
De fato, Lula não nos convidou a uma entrevista por sermos neutros.
Não somos, temos lado e deixamos isso claro.
Mas não ocultamos nossa posição sob uma falsa capa de neutralidade.
Os blogs ditos “sujos” jogam limpo.
Lula falou aos blogueiros porque queria falar, não ser “interpretado”.
Porque queria falar meia hora sobre duas simples perguntas – como fez com a minhas, que tinham um claro sinal político – e não ser confinado a duas frases sobre cada tema.
Depois, receber publicidade de acordo com sua audiência, na chamada “mídia técnica”, é um pecado?
Tenho total liberdade para falar isso, porque não recebo um ceitil de propaganda estatal – não sei porque, aliás – ao contrário destes jornais que haviam faturado alguns milhões, veiculando no mesmo dia, uma anúncio de página inteira da Petrobras, enquanto dedicavam-se a desancá-la.
Mas, afinal, se a entrevista a blogueiros “amestrados” não produziu notícia, porque os grandes jornais, durante toda a terça-feira, deram em seus sites manchetes para o que Lula havia dito?
E se Lula queria, com sua entrevista, produzir apenas manchetes, porque não a deu a um grande jornal ou à Globo?
Nenhum deles recusaria, é certo.
Aventuro-me a responder.
Porque Lula queria ser ele mesmo, queria dizer o que pensava e o que sentia, algo impensável quando se fala aos repórteres de jornais de hoje, salvo as honrosas exceções de profissionais que ele não poderia escolher, numa entrevista “convencional”.
O jornalista, hoje, tem a “obrigação” de ser oposição, porque a imprensa, como um (quase) todo, é oposição.
Não foi preciso provocar para que ele falasse sobre o “volta, Lula” não ser sua estratégia – embora mesmo assim os jornais teimem que seja.
Não foi preciso provocar para que ele falasse que André Vargas não podia fazer com que o PT ou o governo pagassem por seus confortos aéreos.
Não foi preciso provocar para que falasse da Petrobras.
E ele falou desabridamente, sem outros limites que não fossem o que ele previamente anunciou: o de que não daria, como ex-presidente, palpites sobre os atos concretos de quem o sucedeu.
O que, aliás, disse ter aprendido com Bill Clinton evitando menções diretas a George Bush.
A entrevista dos blogueiros minúsculos saiu graúda em termo de notícias, tanto que os jornais a reproduziram.
Porque numa entrevista, quem tem de brilhar é o entrevistado, não o entrevistador.
Nossa imprensa e seus medalhões não pensam assim.
Não fomos à entrevista para brilhar, mas para que Lula emitisse seu próprio pensamento.
E, infelizmente, a imprensa brasileira não parece querer mais que as pessoas digam o que querem dizer.
Mas, apenas, o que ela quer que seja dito.
Talvez, só talvez, seja essa a razão da ira dos editoriais.
não ser “interpretado” ainda existe gente viva só podia ser viva mas estão mesmo o LULA precisa ser ouvido não interpretado no circo.
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