Fernando Frazão/ABr |
Nesta terça-feira (1), data que marca os 50 do golpe civil-militar (1964-1985) no Brasil, dezenas de manifestantes de movimentos da juventude realizaram um escracho contra torturadores do período, lembraram os 21 anos de ditadura no país e pediram julgamento para os crimes cometidos.
Em São Paulo (SP), membros do Levante Popular da Juventude, Coletivo Juntos (do PT), da Consulta Popular e do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, fizeram um escracho na frente da casa de Aparecido Laertes Calandra, conhecido como capitão Ubirajara, acusado de torturar, assassinar e estuprar mulheres durante o período da ditadura. Ao longo da rua que dá acesso à casa de Ubirajara, as paredes, calçadas e ruas foram pichadas com palavras como “torturador”, “64 nunca mais” e fotos do escrachado onde se podia ler “Dr. Calandra – Capitão Ubirajara = TORTURADOR” foram coladas.
O ex-militar e delegado aposentado Ubirajara era o segundo em comando no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) paulista, abaixo apenas de Carlos Brilhante Ustra.
Em Belo Horizonte, Minas Gerais, houve escracho contra o torturador Pedro Ivo dos Santos Vasconcelos, que, na sede do DOPS, realizou sessões de torturas entre os anos de 1969 e 1971. O movimento contou a história de Herculano Mourão e Emely Salazar, militantes torturados por Pedro Ivo. Emely, inclusive, foi impossibilitada de tirar uma fotografia de reconhecimento após a tortura, dado o nível de desfiguração do seu rosto. Nos depoimentos dos torturados, constam choques elétricos nos pés e órgãos genitais, queimaduras com pontas de cigarro, além de muito espancamento.
O Coronel Pedro Ivo ocupou a Secretaria Municipal de Segurança Pública, Trânsito, Transporte e Defesa Civil de São Sebastião do Paraíso até 2012. Para Renan Santos, da coordenação estadual do Levante Popular, é preciso julgar os crimes da ditadura para limpar os resquícios existentes até hoje. “A Polícia Militar continua exterminando jovens e isso é uma herança desse período”, declara.
Passado que condena
Após um tempo se manifestando em frente ao portão que dá entrada à vila da casa de Calandra, em São Paulo, os jovens forçaram as trancas e foram até a casa do ex-militar, onde denunciaram para todos os vizinhos “que do seu lado mora um torturador que estuprava mulheres”.
A reação dos vizinhos ao escracho foi variada. Um deles fechou a afirmar que já conhecia o passado de Calandra, e que “ele é muito fechado, nunca conversa. Mas ele nunca mexeu com ninguém”. Na mesma linha, outra vizinha afirmou que não se importar com o passado, pois “o que passou, passou”. Segundo ela, “temos outros problemas do presente como educação e saúde para nos preocupar”.
Surpresa, uma das vizinhas disse não saber do passado de Calandra e afirmou que “o que ele fez é terrível. Muitas pessoas morreram naquela época e ações assim são importantes para denunciar e informar a gente”.
Segundo Danilo Nunes, do Levante Popular da Juventude, Calandra era uma das pessoas que tinha uma das tarefas mais destacadas da repressão. “Ele não era um simples torturador, pois tinha a função de organizar as equipes que realizavam torturas dos militantes, além de ser responsável por sistemas de escutas e de vigilância”, disse.
Ubirajara é acusado de envolvimento no desaparecimento do estudante Hiroaki Torigoe, na tortura e morte do ex-dirigente do PCdoB Carlos Nicolau Danielli e na construção do cenário da morte do Vladmir Herzog.
Ele também é responsável pela tortura de Amélia Teles, fundadora da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e, recentemente, integrante da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, e do deputado estadual pelo PT e presidente da Comissão da Verdade em São Paulo, Adriano Diogo.
“Ele era um sádico”
Danilo Nunes afirma que Ubirajara usava os filhos e filhas de quem torturava para conseguir extrair informação dos pais militantes. “Inclusive há relatos de que ele torturou mulheres grávidas”, disse.
Adriano Diogo, ao saber do escracho, elogiou a iniciativa. “Já que essas pessoas não podem ser processadas pelos seus crimes, o que a juventude pode fazer é por em evidência estas pessoas e seus atos. É uma forma lúdica, bem humorada, de por a público uma situação de impunidade.
O deputado foi preso aos 24 anos, quando era estudante de geologia da USP, em um sábado de manhã. Ele e sua mulher foram recebidos por Ustra e Ubirajara.
“Ubirajara era muito sádico. A especialidade dele era torturar mulheres, deixar elas nuas e realizar torturas e abusos. Era metido a sedutor, e se orgulhava do título de ‘torturador de mulheres’. Era um covarde, que usava da tortura física e da psicológica”, diz Diogo.
Durante a realização do escracho, que durou por volta de 40 minutos, Aparecido Laertes Calandra, ou capitão Ubirajara, não foi visto. As janelas de sua casa permaneceram fechadas.
Essa juventude me representa!
ResponderExcluirMuito legal o seu blog se quiser pode visitar o meu
ResponderExcluirhttp://joaokcv.blogspot.com.br
Vivi o golpe de 64 e me envergonho profundamente desse período tenebroso da nossa história. Minha vergonha é ainda maior por termos uma justiça hipócrita e servil, que impede o processo, julgamento e punição dos criminosos da ditadura. Então, PARABENS a esses jovens maravilhosos, que não têm a experiência da repressão, mas que se informaram, se indignaram e se inconformaram, e que saíram às ruas para denunciar, no mínimo envergonhar os torturadores. Se é que torturador tem alguma vergonha na cara - acho que não; só COVARDIA.
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