Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Terminado o longo fim de semana estendido por dois feriados, a imprensa dominante segue oferecendo ao público, na terça-feira (22/4), o cardápio que deve marcar a eleição presidencial de outubro. Nestes dias, o prato principal continua sendo a compra, pela Petrobras, de uma refinaria nos Estados Unidos. Embora as informações essenciais para entender o negócio estejam, há anos, disponíveis no site da empresa, os diários continuam administrando declarações para alimentar a crise.
Como pode constatar o leitor treinado na observação crítica dos jornais, o interesse principal não é o de esclarecer, mas de fomentar determinado estado de espírito. Assim, uma frase de um ex-executivo da Petrobras é deslocada de seu contexto original e, destacada em manchete, passa a impressão de uma troca de farpas com a ex-chefe do conselho de administração da empresa, hoje ocupando a Presidência da República. Paralelamente, aposta-se na criação de uma CPI que, como em todos os anos eleitorais, vai terminar sem conclusões, servindo basicamente como fonte de inspiração para marqueteiros de campanha.
Enquanto isso, começam a aparecer aqui e ali preocupações com o eixo central da investigação que trouxe de volta ao noticiário o caso da refinaria: as operações do doleiro Alberto Youssef e sua preciosa agenda.
Ao correr os olhos pelas reportagens, o leitor vai se dar conta, em algum momento, de que a Polícia Federal apreendeu com o suspeito nada menos do que 34 telefones celulares, e já foi revelado que ele costumava usar um aparelho diferente para cada um de seus contatos mais importantes. Com certeza, em algum momento a imprensa terá que abandonar a coleta e produção de frases e declarações e se concentrar na investigação das relações entre o doleiro e esses 34 interlocutores especiais. Aí, sim, o noticiário estará prestando um verdadeiro serviço de utilidade pública.
Além do deputado federal André Vargas (PT-PR), que já não pode desmentir suas ligações com o personagem acusado de lavar dinheiro e alimentar o caixa de candidatos, a lista de protagonistas do escândalo vai oferecer um manancial precioso para os jornalistas.
Quando setembro vier
Embora a imprensa mantenha o leitor na expectativa de uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido de uma CPI exclusiva para analisar o caso da Petrobras, até as cigarras de Brasília sabem que esse tema serve apenas para fazer barulho. O fio da meada para desvendar como se produz a corrupção no sistema político pode estar na rede de relacionamentos que será desvendada quando a Polícia Federal abrir o sigilo das comunicações do doleiro Youssef.
Praticamente tudo que se refere à compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, já foi publicado no site da empresa e posto à disposição dos investidores, por meio de boletins periódicos. O prejuízo, calculado em US$ 530 milhões, já foi registrado nos balanços da empresa e absorvido pelo mercado.
O valor da refinaria não se resume a esses números, e se sua compra era importante para o posicionamento da Petrobras no mercado internacional, esse esclarecimento deveria estar sendo cobrado de seus gestores. Essa informação, porém, não aparece nas reportagens, que apenas reproduzem declarações, numa busca de contradições que possam provar uma tese constantemente martelada pela imprensa.
Todo o material jornalístico conduz à leitura dos editoriais, onde os jornais procuram desconstruir a reputação da presidente da República como gestora. É arriscado fazer juízo sobre a presidente com base nesse material suspeito, altamente contaminado pela manipulação de informações, mas pode-se observar como a estratégia de comunicação da Presidência da República é vulnerável a tais manobras.
Como as cigarras que ficam hibernando debaixo da terra, no Planalto Central, e emergem subitamente, aos milhões, no início da primavera, também os escândalos em Brasília têm seus ciclos naturais, saturando o noticiário quando começam as disputas eleitorais.
A questão é: em setembro, quando as cigarras soltarem seu canto estridente, o que estará dizendo a investigação sobre a rede de corrupção que, segundo a polícia, se esconde na agenda do doleiro?
A imprensa ainda manterá o interesse em ver completamente desvendado esse esquema?
Terminado o longo fim de semana estendido por dois feriados, a imprensa dominante segue oferecendo ao público, na terça-feira (22/4), o cardápio que deve marcar a eleição presidencial de outubro. Nestes dias, o prato principal continua sendo a compra, pela Petrobras, de uma refinaria nos Estados Unidos. Embora as informações essenciais para entender o negócio estejam, há anos, disponíveis no site da empresa, os diários continuam administrando declarações para alimentar a crise.
Como pode constatar o leitor treinado na observação crítica dos jornais, o interesse principal não é o de esclarecer, mas de fomentar determinado estado de espírito. Assim, uma frase de um ex-executivo da Petrobras é deslocada de seu contexto original e, destacada em manchete, passa a impressão de uma troca de farpas com a ex-chefe do conselho de administração da empresa, hoje ocupando a Presidência da República. Paralelamente, aposta-se na criação de uma CPI que, como em todos os anos eleitorais, vai terminar sem conclusões, servindo basicamente como fonte de inspiração para marqueteiros de campanha.
Enquanto isso, começam a aparecer aqui e ali preocupações com o eixo central da investigação que trouxe de volta ao noticiário o caso da refinaria: as operações do doleiro Alberto Youssef e sua preciosa agenda.
Ao correr os olhos pelas reportagens, o leitor vai se dar conta, em algum momento, de que a Polícia Federal apreendeu com o suspeito nada menos do que 34 telefones celulares, e já foi revelado que ele costumava usar um aparelho diferente para cada um de seus contatos mais importantes. Com certeza, em algum momento a imprensa terá que abandonar a coleta e produção de frases e declarações e se concentrar na investigação das relações entre o doleiro e esses 34 interlocutores especiais. Aí, sim, o noticiário estará prestando um verdadeiro serviço de utilidade pública.
Além do deputado federal André Vargas (PT-PR), que já não pode desmentir suas ligações com o personagem acusado de lavar dinheiro e alimentar o caixa de candidatos, a lista de protagonistas do escândalo vai oferecer um manancial precioso para os jornalistas.
Quando setembro vier
Embora a imprensa mantenha o leitor na expectativa de uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido de uma CPI exclusiva para analisar o caso da Petrobras, até as cigarras de Brasília sabem que esse tema serve apenas para fazer barulho. O fio da meada para desvendar como se produz a corrupção no sistema político pode estar na rede de relacionamentos que será desvendada quando a Polícia Federal abrir o sigilo das comunicações do doleiro Youssef.
Praticamente tudo que se refere à compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, já foi publicado no site da empresa e posto à disposição dos investidores, por meio de boletins periódicos. O prejuízo, calculado em US$ 530 milhões, já foi registrado nos balanços da empresa e absorvido pelo mercado.
O valor da refinaria não se resume a esses números, e se sua compra era importante para o posicionamento da Petrobras no mercado internacional, esse esclarecimento deveria estar sendo cobrado de seus gestores. Essa informação, porém, não aparece nas reportagens, que apenas reproduzem declarações, numa busca de contradições que possam provar uma tese constantemente martelada pela imprensa.
Todo o material jornalístico conduz à leitura dos editoriais, onde os jornais procuram desconstruir a reputação da presidente da República como gestora. É arriscado fazer juízo sobre a presidente com base nesse material suspeito, altamente contaminado pela manipulação de informações, mas pode-se observar como a estratégia de comunicação da Presidência da República é vulnerável a tais manobras.
Como as cigarras que ficam hibernando debaixo da terra, no Planalto Central, e emergem subitamente, aos milhões, no início da primavera, também os escândalos em Brasília têm seus ciclos naturais, saturando o noticiário quando começam as disputas eleitorais.
A questão é: em setembro, quando as cigarras soltarem seu canto estridente, o que estará dizendo a investigação sobre a rede de corrupção que, segundo a polícia, se esconde na agenda do doleiro?
A imprensa ainda manterá o interesse em ver completamente desvendado esse esquema?
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