Por Altamiro Borges
A revista IstoÉ desta semana publica a primeira pesquisa que aponta para um segundo turno nas eleições presidenciais deste ano. Ela foi feita em parceria com o suspeito Instituto Sensus e serviu para embriagar o senador Aécio Neves, o cambaleante candidato do PSDB. Segundo a amostragem, Dilma Rousseff despenca para 35% das intenções de voto; o mineiro dispara para 23,7%; e Eduardo Campos (PSB) segue empacado, com 11%. A soma dos dois oposicionistas – o tucano e o dissidente – atinge 34,7%, o que configuraria um empate técnico e indicaria a realização do segundo turno em outubro. A pesquisa, porém, já gerou fortes suspeitas e controvérsias, inclusive em setores da mídia.
Para o jornalista José Roberto de Toledo, um dos poucos colunistas sérios que ainda sobraram no oligárquico Estadão, a metodologia usada pelo Instituto Sensus é bastante questionável. “O instituto, que vinha trabalhando para o PSDB até pouco tempo atrás, foi criativo ao apresentar as perguntas aos eleitores. Em vez de mostrar ao eleitor um cartão circular com os nomes dos candidatos – para não privilegiar nenhum deles –, o instituto mineiro apresentou uma lista em ordem alfabética. Desse modo, o nome de Aécio Neves (PSDB) aparece sempre em primeiro lugar”.
“Além de contrariar a prática do mercado (institutos como Ibope e Datafolha apresentam a cartela circular), o Sensus mudou sua própria maneira de fazer a pergunta de intenção de voto. Em eleições passadas, como em 2010, o instituto sempre usou a cartela circular, e não a lista em ordem alfabética. Na pré-campanha, quando a maioria dos eleitores ainda não tem o nome de um candidato na ponta da língua, qualquer tratamento diferenciado a um deles pode inflar sua intenção de voto”, observa o colunista, que não poupa críticas ao suspeito instituto.
“Não é a primeira vez que o Sensus faz algo do gênero. Na disputa presidencial de 2002, o instituto também fez uma pesquisa surpreendente na fase da pré-campanha. No final de 2001, o instituto divulgou pesquisa que colocava Roseana Sarney (então no PFL) empatada com Lula, em primeiro lugar. Razão: antes de perguntar a intenção de voto, o Sensus perguntava ao eleitor sobre um escândalo envolvendo o PT, e sobre o racionamento de energia elétrica, o que prejudicava José Serra (PSDB). Outro fato chama a atenção nesta sondagem do Sensus: o registro da pesquisa no TSE ocorreu bem depois de as entrevistas terem terminado”.
A pesquisa de campo foi feita entre os dias 22 e 24 de abril, mas só foi registrada no dia 28. “Ou seja, ao registrá-la é provável que o instituto já soubesse o resultado – o que pode ou não ter influenciado na decisão divulgá-la. Como no caso da MDA/CNT, a pesquisa do Sensus foi feita logo após a propaganda eleitoral do PSDB no rádio e na TV. E terminou muito antes do pronunciamento de Dilma na véspera do 1º de Maio. Mas como demorou tanto a ser divulgada, vai ficar parecendo que a sondagem do Sensus é mais recente do que de fato é”. Outro fato curioso é que a pesquisa foi paga pelo próprio instituto, segundo o registro no TSE. Mas será divulgada com exclusividade pela revista IstoÉ. Tudo muito estranho!
Com base nos números da pesquisa, a revista IstoÉ estampou na capa a manchete “A caminho do segundo turno”, já dando como certa uma disputa novamente polarizada entre os candidatos do PT e do PSDB. Na simulação do segundo turno, a sondagem aponta que Dilma teria 38,6%, contra 31,9% de Aécio. Foi feita também uma simulação com Eduardo Campos, que teria 24,8%, contra 39,1% de Dilma – o que deve aguçar ainda mais as intrigas com sua vice, Marina Silva. Na prática, uma pesquisa com tantos problemas metodológicos e com a história sinistra do instituto serve apenas para alavancar o candidato tucano, ajudando na arrecadação financeira e na costura de alianças pragmáticas. Qual terá sido o preço?
*****
Leia também:
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- PT prevê disputa eleitoral mais dura
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- Fala, Dilma, fala!
- Dilma responde ao massacre midiático
A revista IstoÉ desta semana publica a primeira pesquisa que aponta para um segundo turno nas eleições presidenciais deste ano. Ela foi feita em parceria com o suspeito Instituto Sensus e serviu para embriagar o senador Aécio Neves, o cambaleante candidato do PSDB. Segundo a amostragem, Dilma Rousseff despenca para 35% das intenções de voto; o mineiro dispara para 23,7%; e Eduardo Campos (PSB) segue empacado, com 11%. A soma dos dois oposicionistas – o tucano e o dissidente – atinge 34,7%, o que configuraria um empate técnico e indicaria a realização do segundo turno em outubro. A pesquisa, porém, já gerou fortes suspeitas e controvérsias, inclusive em setores da mídia.
Para o jornalista José Roberto de Toledo, um dos poucos colunistas sérios que ainda sobraram no oligárquico Estadão, a metodologia usada pelo Instituto Sensus é bastante questionável. “O instituto, que vinha trabalhando para o PSDB até pouco tempo atrás, foi criativo ao apresentar as perguntas aos eleitores. Em vez de mostrar ao eleitor um cartão circular com os nomes dos candidatos – para não privilegiar nenhum deles –, o instituto mineiro apresentou uma lista em ordem alfabética. Desse modo, o nome de Aécio Neves (PSDB) aparece sempre em primeiro lugar”.
“Além de contrariar a prática do mercado (institutos como Ibope e Datafolha apresentam a cartela circular), o Sensus mudou sua própria maneira de fazer a pergunta de intenção de voto. Em eleições passadas, como em 2010, o instituto sempre usou a cartela circular, e não a lista em ordem alfabética. Na pré-campanha, quando a maioria dos eleitores ainda não tem o nome de um candidato na ponta da língua, qualquer tratamento diferenciado a um deles pode inflar sua intenção de voto”, observa o colunista, que não poupa críticas ao suspeito instituto.
“Não é a primeira vez que o Sensus faz algo do gênero. Na disputa presidencial de 2002, o instituto também fez uma pesquisa surpreendente na fase da pré-campanha. No final de 2001, o instituto divulgou pesquisa que colocava Roseana Sarney (então no PFL) empatada com Lula, em primeiro lugar. Razão: antes de perguntar a intenção de voto, o Sensus perguntava ao eleitor sobre um escândalo envolvendo o PT, e sobre o racionamento de energia elétrica, o que prejudicava José Serra (PSDB). Outro fato chama a atenção nesta sondagem do Sensus: o registro da pesquisa no TSE ocorreu bem depois de as entrevistas terem terminado”.
A pesquisa de campo foi feita entre os dias 22 e 24 de abril, mas só foi registrada no dia 28. “Ou seja, ao registrá-la é provável que o instituto já soubesse o resultado – o que pode ou não ter influenciado na decisão divulgá-la. Como no caso da MDA/CNT, a pesquisa do Sensus foi feita logo após a propaganda eleitoral do PSDB no rádio e na TV. E terminou muito antes do pronunciamento de Dilma na véspera do 1º de Maio. Mas como demorou tanto a ser divulgada, vai ficar parecendo que a sondagem do Sensus é mais recente do que de fato é”. Outro fato curioso é que a pesquisa foi paga pelo próprio instituto, segundo o registro no TSE. Mas será divulgada com exclusividade pela revista IstoÉ. Tudo muito estranho!
Com base nos números da pesquisa, a revista IstoÉ estampou na capa a manchete “A caminho do segundo turno”, já dando como certa uma disputa novamente polarizada entre os candidatos do PT e do PSDB. Na simulação do segundo turno, a sondagem aponta que Dilma teria 38,6%, contra 31,9% de Aécio. Foi feita também uma simulação com Eduardo Campos, que teria 24,8%, contra 39,1% de Dilma – o que deve aguçar ainda mais as intrigas com sua vice, Marina Silva. Na prática, uma pesquisa com tantos problemas metodológicos e com a história sinistra do instituto serve apenas para alavancar o candidato tucano, ajudando na arrecadação financeira e na costura de alianças pragmáticas. Qual terá sido o preço?
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