Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Vários leitores pediram para que eu não ficasse tímido, e usasse a oportunidade de falar pessoalmente com o ministro Gilberto Carvalho, titular da secretaria-geral da Presidência da República, para dar uma prensa no governo na questão da comunicação.
Na medida do possível, eu dei.
Em bate papo realizado nesta quarta-feira, no Palácio do Planalto, usei minha fala para passar um recado claro: o Brasil vive um apagão na comunicação, que por consequência se converte num apagão político. Boa parte dos distúrbios que vemos nos últimos meses refletem esse problema.
Lembrei ao ministro que o problema da comunicação se desdobra na economia. Contei-lhe a metáfora do corretor de imóveis. O mundo, aí incluindo os brasileiros, vê o Brasil através da mídia, já que as pessoas não têm condições de conhecer todos os lugares do país mesmo que passassem a vida inteira viajando e estudando nossos gráficos.
A mídia tem de mostrar nossos problemas, fazer críticas, mas tem a obrigação de mostrar nossas potencialidades. Ao não fazê-lo, ela age como um corretor de imóveis que mostra apenas os defeitos de um apartamento, mas não abre a janela para mostrar uma vista espetacular. Essa vista é nosso futuro, são nossas reservas de petróleo, a agricultura mais moderna do mundo, abundância de água, todo o tipo de recursos naturais, nosso clima, nossas praias, uma população jovem e empreendedora, etc
Também usei a oportunidade para criticar a precariedade da internet no Brasil. Tudo bem, não há correlação de forças para aprovar neste momento uma lei de mídia, embora eu ache que nunca teremos essa correlação se o governo não entender a sua importância e não participar da luta política. Mas o governo, ao menos, podia investir mais na infra-estrutura de banda larga no país. O programa lançado por Paulo Bernardo, há alguns anos, revelou-se um fiasco.
Contei ao ministro sobre minha experiência no Encontro Nacional dos Blogueiros, em São Paulo, do qual participou o próprio ex-presidente Lula. Disse-lhe que conheci blogueiros maranhenses que estão transformando o debate político no estado, e isso numa região onde a maioria dos acessos é por conexão discada! Pedi-lhe que, já que o governo tem medo de falar em regulamentação da mídia (não usei essas palavras), que olhasse para a infra-estrutura da internet no país.
Eis o vídeo com minha intervenção e a resposta do ministro (que na verdade, tentou responder, mas não conseguiu, tanto é que foi rápido). Continuo em seguida.
Gilberto Carvalho é gente boa, isso todos sabem, até mesmo o segurança com quem eu conversei no saguão do quarto andar do Planalto, enquanto aguardava o início do bate papo, ao som das vuvuzelas. Carvalho disse que acompanha os textos do blog e que ficou feliz em me conhecer. Quero acreditar nisso, porque isso mostraria que, não só eu, mas as pessoas que comentam neste blog estão sendo ouvidas (às vezes inutilmente, mas sendo ouvidos, o que é um primeiro passo) pela cúpula do governo.
Ao final da conversa, que contou com a presença do editor da Carta Maior, Joaquim Palhares, sentado a meu lado, e do editor do Jornal GGN, Luis Nassif, sentado logo em seguida, tiramos foto ao lado do ministro. Brincamos que a imprensa iria nos atacar de novo, chamando-nos de “camaradas”. Carvalho fez uma cara de preocupado, como quem não tinha pensado nisso, e disse “pois é, essas fotos tem esse problema”. Mas eu o tranquilizei e disse que estava tudo bem.
Essas picuinhas da imprensa serão esquecidas um dia, mas a minha foto ao lado de um grande cara como Gilberto Carvalho ficará para sempre.
Entretanto, confesso que não fiquei muito entusiasmado com minha visita ao Planalto, nem com o bate papo com Gilberto. Quer dizer, é um bom sinal que eles queiram ouvir os blogueiros e tal, mas por outro lado talvez haja um bocado de demagogia em tudo isso.
Carvalho está lançando o Participa.br, um portal que traduz o desejo do governo de ouvir mais a população. O conceito é extraordinário, e até por isso é daquelas ideias que só acreditamos quando estiver funcionando e depois que avaliarmos seus resultados. Sem contar que, sem uma internet banda larga disseminada em todo o país, como existe hoje nos EUA, em toda a Europa e quase toda Ásia urbana, parece mais uma dessas ideias burocráticas de governo para fingir que está fazendo alguma coisa “moderna”.
Ao lado de Carvalho, havia um burocrata que encheu a boca para falar que o Participa.br era uma iniciativa tão boa, tão orgânica, que não tinha .gov. Como se isso tivesse alguma importância!
O ministro não respondeu minha pergunta sobre o “apagão na comunicação”. Falou que o governo se preocupa em melhorar a infra-estrutura de internet, está fazendo alguma coisa no Amazonas, e só. Ele deixou bem claro a sua preocupação, quase paranoia, em não melindrar a imprensa, em não transmitir a ideia de que o governo pensa em “censurar” conteúdo, mostrando que quase ninguém no governo está preparado para o debate em torno da democratização da mídia.
A palavra chave para fugir dessa armadilha, ministro, é “pluralidade”. Todos no governo deveriam repetir essa palavra várias vezes por dia, para a terem sempre na ponta da língua. Outra é “concentração”. A terceira é “constituição”. Ao governo cabe estimular a pluralidade e combater a concentração dos meios de comunicação, porque é isso que consta em nossa Constituição e é isso que os países avançados têm feito. Leiam o recente relatório da União Europeia, segundo o qual os países que não fomentarem e financiarem a pluralidade na mídia, com ênfase na mídia política, e não combaterem a concentração, a propriedade cruzada e os monopólios, não poderão sequer fazer parte da comunidade!
O cuidado de Gilberto, no entanto, não adiantou muito. Horas depois, os jornalões publicavam manchetes dizendo que Gilberto “culpava a imprensa” pelos atrasos na Copa.
Além do mais, o tal portal lançado é uma iniciativa que só irá durar alguns meses se o governo não ganhar as eleições, pois duvido que Aécio Neves daria continuidade a um projeto ainda incipiente, ainda sem reconhecimento popular, e tão simbolicamente ligado ao governo atual.
Fora que, aqui entre nós, não entendi nada. O projeto todo me pareceu um tanto confuso – mas isso deve ser culpa minha. Além do portal, acho que tem alguma coisa a ver com desburocratizar a relação entre governo e Ongs e Oscips. E se tem uma coisa que não entendo, nem quero entender, é ong e oscip. Não porque eu seja contra ongs e oscips. Se forem boas, sou a favor. Mas porque nessa vida a gente não pode entender de tudo, e essa não é, definitivamente, a minha praia.
Outra coisa que me decepcionou foram as vuvuzelas. Vocês me acharão pueril em gastar tinta com isso, mas eu fiquei triste com aquele buzinaço do lado de fora do Planalto. Era um grupo de uma dúzia de sindicalistas ou, mais provavelmente, contratados por sindicalistas, que ficavam tocando vuvuzelas, e o som chegava forte lá dentro.
O Gilberto comentou o buzinaço com naturalidade, falando algo sobre democracia, mas eu penso diferente. Um palácio de governo é como um hospital. Ninguém faria buzinaço perto de hospital, certo? Eu sou um entusiasta pela democracia. Meu livro de cabeceira é Democracia e seus Críticos, do Robert Dahl, e por isso mesmo eu acho que deveríamos respeitar profundamente os ambientes onde se formulam as decisões políticas soberanas de um país. A troco de que meia dúzia de pessoas se dão o direito de atazanar o trabalho que se faz ali dentro, por causa de um demanda salarial talvez importante, talvez não, mas sempre corporativa?
Uma coisa é fazer uma manifestação ali perto. Outra coisa é contratar duas ou três pessoas para tocarem vuvuzela o dia inteiro em frente ao Palácio do Planalto. O fato do Planalto achar isso normal me parece uma visão mesquinha, quase acovardada, do que seja democracia. Ora, o silêncio necessário para uma tomada de decisão, para o nascimento de uma ideia não é importante? Não é ali que são tomadas decisões que podem impactar o país não apenas para os próximos anos, mas às vezes para os próximos séculos?
Querem fazer barulho, usem o gogó! Qual será o próximo passo, fazer uma rave diante do Palácio? E ninguém vai fazer nada?
Acho que estamos desenvolvendo uma ideia bisonha de democracia. A criminalização da política, a campanha sistemática de desqualificação do trabalho do Congresso e do Executivo, estão começando se introjetar nas próprias autoridades. Elas próprias parecem agora achar que não valem muita coisa, e que merecem ser torturadas, durante o dia inteiro, com buzinaços corporativos.
Eu não sou importante. Sou apenas um blogueiro. Mas estava ali, no saguão do Planalto, enquanto aguardava o início do debate, querendo pensar alguma coisa importante sobre o Brasil. Não pude. Apenas fiquei ao lado de um segurança, companheiro de infortúnio, olhando pelo grande vidro da janela, tentando identificar as duas pessoas que manipulavam aquelas malditas vuvuzelas.
Ele me disse que era assim quase todo dia, o que me deixou estarrecido. Não estou falando de “jornadas de junho”. Estou falando de gente contratada por algum dos milhares de sindicatos, sediados em Brasília ou não, que ficam diante do Palácio do Planalto fazendo buzinaço, por horas, todos os dias! Os mais atormentados, naturalmente, são os seguranças e trabalhadores do Planalto, que passam o dia inteiro ali.
Não seria o caso de baixar uma norma proibindo buzinaço diante do Palácio. Seria uma violação à democracia? É isso a democracia? O direito de fazer buzinaço dia e noite diante do Palácio de Governo, nem que seja só de sacanagem?
Democracia não é isso. Com certeza não é isso!
Voltando ao portal, uma coisa que eu não disse ao ministro, mas que digo agora: uma das armadilhas da internet é a facilidade com que podemos lançar um “portal”. É lindo e emocionante! Sobretudo para quem o faz pela primeira vez. O mais sedutor é o custo. Gasta-se quase nada e se obtêm um resultado inicial fabuloso. Duzentas mil pessoas entraram e participaram do portal, disse o ministro, ou funcionário a seu lado.
Acontece que isso não adianta muito se não houver produção continuada de conteúdo de qualidade, e a consolidação de um processo ao longo dos anos.
O mais importante, para aumentar a participação da sociedade na formação das políticas públicas, é dar-lhe uma infra-estrutura melhor de internet. O governo tem de fazer investimentos em banda larga da ordem de dezenas de bilhões de reais. Fazer portal é legal, mas sem banda larga é empulhação. Não tem impacto sequer simbólico (quanto mais político) junto aos milhões de internautas.
A Abreu Lima está custando R$ 40 bilhões? Ok, legal, mas também não tem impacto simbólico. E tem impacto político negativo, por causa da manipulação da mídia.
Já o investimento maciço para melhorar a internet brasileira, levando banda larga de qualidade para regiões que hoje só conhecem internet discada, e aumentando a banda nas regiões metropolitanas, iria impactar diretamente a qualidade de vida das pessoas. Todos ganharíamos tempo. Melhoraria inclusive o transporte urbano, pois poderíamos baixar aplicativos para saber a melhor hora de sair de casa.
Seria o prego final no caixão da oposição, ministro!
Agora que o marco civil foi aprovado, uma iniciativa neste sentido, com a grandeza que ela merece, seria mais importante que uma lei de mídia!
Vários leitores pediram para que eu não ficasse tímido, e usasse a oportunidade de falar pessoalmente com o ministro Gilberto Carvalho, titular da secretaria-geral da Presidência da República, para dar uma prensa no governo na questão da comunicação.
Na medida do possível, eu dei.
Em bate papo realizado nesta quarta-feira, no Palácio do Planalto, usei minha fala para passar um recado claro: o Brasil vive um apagão na comunicação, que por consequência se converte num apagão político. Boa parte dos distúrbios que vemos nos últimos meses refletem esse problema.
Lembrei ao ministro que o problema da comunicação se desdobra na economia. Contei-lhe a metáfora do corretor de imóveis. O mundo, aí incluindo os brasileiros, vê o Brasil através da mídia, já que as pessoas não têm condições de conhecer todos os lugares do país mesmo que passassem a vida inteira viajando e estudando nossos gráficos.
A mídia tem de mostrar nossos problemas, fazer críticas, mas tem a obrigação de mostrar nossas potencialidades. Ao não fazê-lo, ela age como um corretor de imóveis que mostra apenas os defeitos de um apartamento, mas não abre a janela para mostrar uma vista espetacular. Essa vista é nosso futuro, são nossas reservas de petróleo, a agricultura mais moderna do mundo, abundância de água, todo o tipo de recursos naturais, nosso clima, nossas praias, uma população jovem e empreendedora, etc
Também usei a oportunidade para criticar a precariedade da internet no Brasil. Tudo bem, não há correlação de forças para aprovar neste momento uma lei de mídia, embora eu ache que nunca teremos essa correlação se o governo não entender a sua importância e não participar da luta política. Mas o governo, ao menos, podia investir mais na infra-estrutura de banda larga no país. O programa lançado por Paulo Bernardo, há alguns anos, revelou-se um fiasco.
Contei ao ministro sobre minha experiência no Encontro Nacional dos Blogueiros, em São Paulo, do qual participou o próprio ex-presidente Lula. Disse-lhe que conheci blogueiros maranhenses que estão transformando o debate político no estado, e isso numa região onde a maioria dos acessos é por conexão discada! Pedi-lhe que, já que o governo tem medo de falar em regulamentação da mídia (não usei essas palavras), que olhasse para a infra-estrutura da internet no país.
Eis o vídeo com minha intervenção e a resposta do ministro (que na verdade, tentou responder, mas não conseguiu, tanto é que foi rápido). Continuo em seguida.
Gilberto Carvalho é gente boa, isso todos sabem, até mesmo o segurança com quem eu conversei no saguão do quarto andar do Planalto, enquanto aguardava o início do bate papo, ao som das vuvuzelas. Carvalho disse que acompanha os textos do blog e que ficou feliz em me conhecer. Quero acreditar nisso, porque isso mostraria que, não só eu, mas as pessoas que comentam neste blog estão sendo ouvidas (às vezes inutilmente, mas sendo ouvidos, o que é um primeiro passo) pela cúpula do governo.
Ao final da conversa, que contou com a presença do editor da Carta Maior, Joaquim Palhares, sentado a meu lado, e do editor do Jornal GGN, Luis Nassif, sentado logo em seguida, tiramos foto ao lado do ministro. Brincamos que a imprensa iria nos atacar de novo, chamando-nos de “camaradas”. Carvalho fez uma cara de preocupado, como quem não tinha pensado nisso, e disse “pois é, essas fotos tem esse problema”. Mas eu o tranquilizei e disse que estava tudo bem.
Essas picuinhas da imprensa serão esquecidas um dia, mas a minha foto ao lado de um grande cara como Gilberto Carvalho ficará para sempre.
Entretanto, confesso que não fiquei muito entusiasmado com minha visita ao Planalto, nem com o bate papo com Gilberto. Quer dizer, é um bom sinal que eles queiram ouvir os blogueiros e tal, mas por outro lado talvez haja um bocado de demagogia em tudo isso.
Carvalho está lançando o Participa.br, um portal que traduz o desejo do governo de ouvir mais a população. O conceito é extraordinário, e até por isso é daquelas ideias que só acreditamos quando estiver funcionando e depois que avaliarmos seus resultados. Sem contar que, sem uma internet banda larga disseminada em todo o país, como existe hoje nos EUA, em toda a Europa e quase toda Ásia urbana, parece mais uma dessas ideias burocráticas de governo para fingir que está fazendo alguma coisa “moderna”.
Ao lado de Carvalho, havia um burocrata que encheu a boca para falar que o Participa.br era uma iniciativa tão boa, tão orgânica, que não tinha .gov. Como se isso tivesse alguma importância!
O ministro não respondeu minha pergunta sobre o “apagão na comunicação”. Falou que o governo se preocupa em melhorar a infra-estrutura de internet, está fazendo alguma coisa no Amazonas, e só. Ele deixou bem claro a sua preocupação, quase paranoia, em não melindrar a imprensa, em não transmitir a ideia de que o governo pensa em “censurar” conteúdo, mostrando que quase ninguém no governo está preparado para o debate em torno da democratização da mídia.
A palavra chave para fugir dessa armadilha, ministro, é “pluralidade”. Todos no governo deveriam repetir essa palavra várias vezes por dia, para a terem sempre na ponta da língua. Outra é “concentração”. A terceira é “constituição”. Ao governo cabe estimular a pluralidade e combater a concentração dos meios de comunicação, porque é isso que consta em nossa Constituição e é isso que os países avançados têm feito. Leiam o recente relatório da União Europeia, segundo o qual os países que não fomentarem e financiarem a pluralidade na mídia, com ênfase na mídia política, e não combaterem a concentração, a propriedade cruzada e os monopólios, não poderão sequer fazer parte da comunidade!
O cuidado de Gilberto, no entanto, não adiantou muito. Horas depois, os jornalões publicavam manchetes dizendo que Gilberto “culpava a imprensa” pelos atrasos na Copa.
Além do mais, o tal portal lançado é uma iniciativa que só irá durar alguns meses se o governo não ganhar as eleições, pois duvido que Aécio Neves daria continuidade a um projeto ainda incipiente, ainda sem reconhecimento popular, e tão simbolicamente ligado ao governo atual.
Fora que, aqui entre nós, não entendi nada. O projeto todo me pareceu um tanto confuso – mas isso deve ser culpa minha. Além do portal, acho que tem alguma coisa a ver com desburocratizar a relação entre governo e Ongs e Oscips. E se tem uma coisa que não entendo, nem quero entender, é ong e oscip. Não porque eu seja contra ongs e oscips. Se forem boas, sou a favor. Mas porque nessa vida a gente não pode entender de tudo, e essa não é, definitivamente, a minha praia.
Outra coisa que me decepcionou foram as vuvuzelas. Vocês me acharão pueril em gastar tinta com isso, mas eu fiquei triste com aquele buzinaço do lado de fora do Planalto. Era um grupo de uma dúzia de sindicalistas ou, mais provavelmente, contratados por sindicalistas, que ficavam tocando vuvuzelas, e o som chegava forte lá dentro.
O Gilberto comentou o buzinaço com naturalidade, falando algo sobre democracia, mas eu penso diferente. Um palácio de governo é como um hospital. Ninguém faria buzinaço perto de hospital, certo? Eu sou um entusiasta pela democracia. Meu livro de cabeceira é Democracia e seus Críticos, do Robert Dahl, e por isso mesmo eu acho que deveríamos respeitar profundamente os ambientes onde se formulam as decisões políticas soberanas de um país. A troco de que meia dúzia de pessoas se dão o direito de atazanar o trabalho que se faz ali dentro, por causa de um demanda salarial talvez importante, talvez não, mas sempre corporativa?
Uma coisa é fazer uma manifestação ali perto. Outra coisa é contratar duas ou três pessoas para tocarem vuvuzela o dia inteiro em frente ao Palácio do Planalto. O fato do Planalto achar isso normal me parece uma visão mesquinha, quase acovardada, do que seja democracia. Ora, o silêncio necessário para uma tomada de decisão, para o nascimento de uma ideia não é importante? Não é ali que são tomadas decisões que podem impactar o país não apenas para os próximos anos, mas às vezes para os próximos séculos?
Querem fazer barulho, usem o gogó! Qual será o próximo passo, fazer uma rave diante do Palácio? E ninguém vai fazer nada?
Acho que estamos desenvolvendo uma ideia bisonha de democracia. A criminalização da política, a campanha sistemática de desqualificação do trabalho do Congresso e do Executivo, estão começando se introjetar nas próprias autoridades. Elas próprias parecem agora achar que não valem muita coisa, e que merecem ser torturadas, durante o dia inteiro, com buzinaços corporativos.
Eu não sou importante. Sou apenas um blogueiro. Mas estava ali, no saguão do Planalto, enquanto aguardava o início do debate, querendo pensar alguma coisa importante sobre o Brasil. Não pude. Apenas fiquei ao lado de um segurança, companheiro de infortúnio, olhando pelo grande vidro da janela, tentando identificar as duas pessoas que manipulavam aquelas malditas vuvuzelas.
Ele me disse que era assim quase todo dia, o que me deixou estarrecido. Não estou falando de “jornadas de junho”. Estou falando de gente contratada por algum dos milhares de sindicatos, sediados em Brasília ou não, que ficam diante do Palácio do Planalto fazendo buzinaço, por horas, todos os dias! Os mais atormentados, naturalmente, são os seguranças e trabalhadores do Planalto, que passam o dia inteiro ali.
Não seria o caso de baixar uma norma proibindo buzinaço diante do Palácio. Seria uma violação à democracia? É isso a democracia? O direito de fazer buzinaço dia e noite diante do Palácio de Governo, nem que seja só de sacanagem?
Democracia não é isso. Com certeza não é isso!
Voltando ao portal, uma coisa que eu não disse ao ministro, mas que digo agora: uma das armadilhas da internet é a facilidade com que podemos lançar um “portal”. É lindo e emocionante! Sobretudo para quem o faz pela primeira vez. O mais sedutor é o custo. Gasta-se quase nada e se obtêm um resultado inicial fabuloso. Duzentas mil pessoas entraram e participaram do portal, disse o ministro, ou funcionário a seu lado.
Acontece que isso não adianta muito se não houver produção continuada de conteúdo de qualidade, e a consolidação de um processo ao longo dos anos.
O mais importante, para aumentar a participação da sociedade na formação das políticas públicas, é dar-lhe uma infra-estrutura melhor de internet. O governo tem de fazer investimentos em banda larga da ordem de dezenas de bilhões de reais. Fazer portal é legal, mas sem banda larga é empulhação. Não tem impacto sequer simbólico (quanto mais político) junto aos milhões de internautas.
A Abreu Lima está custando R$ 40 bilhões? Ok, legal, mas também não tem impacto simbólico. E tem impacto político negativo, por causa da manipulação da mídia.
Já o investimento maciço para melhorar a internet brasileira, levando banda larga de qualidade para regiões que hoje só conhecem internet discada, e aumentando a banda nas regiões metropolitanas, iria impactar diretamente a qualidade de vida das pessoas. Todos ganharíamos tempo. Melhoraria inclusive o transporte urbano, pois poderíamos baixar aplicativos para saber a melhor hora de sair de casa.
Seria o prego final no caixão da oposição, ministro!
Agora que o marco civil foi aprovado, uma iniciativa neste sentido, com a grandeza que ela merece, seria mais importante que uma lei de mídia!
Caro Altamiro , recomendo uma consulta a TELEBRAS que esta desenvolvendo um projeto importante para a ampliação do acesso a banda larga no pais.Um abraço .
ResponderExcluirAntonio Leite
Dizer que o Brasil tem a agricultura "mais moderna do mundo" é no mínimo questionável. A eficiência do uso da terra é baixa, somos os maiores consumidores de agrotóxicos do mundo e ainda apresentamos altos índices de erosão do solo, entre outros problemas crônicos.
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