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A abstenção na recente eleição colombiana foi de 60% e estão na disputa para o segundo turno dois candidatos de direita, sendo que um, apoiado pelo ex-presidente Uribe, é de extrema direita. Na França, o partido de Le Pen foi o grande vitorioso da eleição para o o Parlamento Europeu. Na Inglaterra, o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), que tem como principal bandeira o discurso xenófobo contra a imigração, saiu vitorioso. Na Alemanha, deu Merkel de novo. Afora a Grécia, onde a esquerda, com o Syriza, saiu vitorioso, sobrou Portugal. Lá a centro-esquerda ganhou por uma diferença pequeníssima num cenário com 66,08% de abstenção.
Por que isso está acontecendo? Por que eleitores da Europa estão absolutamente descrentes de suas opções tradicionais de esquerda? Por que na América Latina o ciclo de governos de esquerda parece estar perdendo fôlego?
Há muitas possíveis explicações, mas qualquer análise mais seria deveria considerar dois aspectos:
1) Os partidos mais tradicionais de esquerda na Europa e aqueles que estão à frente de governos na América Latina assumiram compromissos com o establishment econômico global que lhes têm impedido de implementar políticas públicas mais avançadas. O compromisso com o mercado tem sido mais firme do que com a transformação social.
2) Há uma crise no sistema atual de representação e boa parte da juventude global que luta deseja um novo modelo menos centralizado e mais participativo e colaborativo de governança. Ao mesmo tempo, há um grupo que tem se ampliado e que questiona a democracia como um valor. E que está aproveitando essa crise das representações para clamar por regimes autocráticos.
Essas questões deveriam impor um debate menos pragmático e mais programático aos partidos e movimentos sociais que se encontram da esquerda à centro esquerda no espectro político global. Nesse debate deveria se buscar escapar dessas amarras congelantes pra quem ambiciona construir alternativas reais de poder e justiça social.
Nem o sistema financeiro da forma que se organiza, nem o sistema político atual de representações são de fato democráticos. Ao contrário, são excludentes e estão sendo questionados nas ruas e nas urnas pelos resultados objetivos que têm produzido.
E se um novo pacto global de esquerda e centro-esquerda não for construído, parece inevitável um avanço global da direita. Ou pior, da extrema direita
Os partidos tradicionais de esquerda da Europa parecem estar anestesiados. Sem força para reagir e se repensar. Parecem ter sido abduzidos por essa lógica atual. Há novidades que ainda carecem de amadurecimento, como o Podemos, na Espanha, partido com vínculos com o 15 M e que teve 8% dos votos na última eleição. Mas dificilmente em curto espaço de tempo essa nova esquerda de lá terá capacidade de articular essa reação.
Na América Latina, apenas o Brasil poderia liderar um processo de revitalização da política no campo democrático da esquerda global, construindo novas pontes internacionais de dialogo no campo social e partidário e ao mesmo tempo ousando em rompimentos necessários para reinaugurar um novo momento histórico de pactos em que o acordo com o mercado se daria num outro patamar e em que se radicalizaria na participação popular.
Ao que tudo indica não será nesta eleição de outubro que esse debate acontecerá e que essas mudanças terão consequência. Infelizmente, porque tudo indica que a não sinalização pela esquerda de que há disposição de se libertar dessas amarras, deve ampliar tanto a despolitização quanto o aumento da abstenção. A consequência disso, em geral, é o fortalecimento dos setores de inspiração autoritária. Ainda não temos no Brasil um partido forte de extrema direita, mas estamos gestando-o de forma paulatina com a ausência de coragem de construir o novo no nosso campo.
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