Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil de Atual:
Institutos como o Datafolha recentemente incluíram nos questionários perguntas que parecem ter o efeito apenas de provocar manchetes. Em pleno bombardeio midiático contra a Petrobras, o Datafolha incluiu em seu questionário uma pergunta sobre se o pesquisado achava que havia corrupção na Petrobras. É uma pergunta sem pé nem cabeça, pois qualquer um acha que existem maçãs podres em qualquer grande órgão.
No caso da Petrobras há até quem confunda com casos de postos que adulteram a gasolina, mesmo que não sejam postos da BR Distribuidora. Se perguntar se existe corrupção na Sabesp, em tribunais, na polícia, no Metrô, em multinacionais, em bancos, em empreiteiras, os pesquisados também responderão que há corrupção. Então, a função de uma pergunta destas é apenas para criar uma manchete na linha do "Tantos por cento acham que há corrupção na Petrobras". Justo no momento em que a oposição queria títulos como estes para emplacar uma CPI eleitoreira, e dentro da estratégia de "sangramento" (ou seja, desgaste) da popularidade da presidenta Dilma Rousseff.
Não é a única pergunta exótica que encontramos em questionários dos diversos institutos, que têm pouco ou nenhum valor, mesmo qualitativo, mas que servem para produzir manchetes que mantenham temas de interesse eleitoral da oposição no noticiário.
Outro caso polêmico recente foi uma pesquisa do Instituto Ibope. Em uma semana divulgou-se a intenção de votos, sondagem na qual se registrou queda da presidenta Dilma Rousseff em relação à pesquisa anterior. Na outra semana, como se fosse novidade, divulgaram queda da popularidade da presidenta. Tudo indica que o objetivo também foi criar manchetes em dois momentos diferentes, o que fica em conformidade com a estratégia oposicionista de "sangramento" aos poucos da popularidade da titular do Planalto.
Também há um forte questionamento sobre a ausência da opção "branco/nulos" nos discos da pesquisa induzida. Com a forte declaração da intenção de anular o voto nas pesquisas espontâneas, é um erro de metodologia omitir essa opção na pesquisa estimulada, e todos os institutos omitem. No mínimo deveriam aferir com dois discos, um sem e outro com a opção "branco/nulos" para ver se dá diferença.
Mas nada supera a desfaçatez do Instituto Sensus, em pesquisa divulgada no sábado (3) na revista IstoÉ. A primeira extravagância da última pesquisa Sensus foi substituir os recomendáveis discos circulares com nomes dos candidatos por uma lista alfabética, onde o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, aparece sempre na frente dos demais. Até o jornal O Estado de S. Paulo denunciou o fato como claro favorecimento ao tucano.
A segunda extravagância foi, novamente, a data de divulgação atrasada. A pesquisa foi feita entre os dias 22 e 25 de abril, logo após a exposição de Aécio Neves na propaganda partidária do PSDB na TV e no rádio. O resultado foi segurado até o dia 3 de maio, quando divulgado, após o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff pelo dia do Trabalho, como se a pesquisa já tivesse captado este momento.
Por fim os números do Instituto Sensus contêm uma combinação possível, mas improvável. No cenário com oito candidatos, os indecisos/brancos/nulos somam 33,9%. Quando se retiram cinco candidatos, reduzindo a pesquisa a três, é óbvio que quem não escolheu um dos três nomes na lista de oito não escolheria estes mesmos nomes na lista de três. Aliás, há quem votaria no candidato do PSOL, por exemplo, e declara intenção de voto em nenhum quando as opções ficam restritas aos três principais candidatos. Portanto, no cenário com três candidatos a faixa de indecisos/brancos/nulos deveria ser maior. Entretanto, o instituto Sensus detectou número significantemente menor, caindo para 30,4%. Uma grande distorção.
Se a pesquisa fosse repetida 100 vezes, sem qualquer manipulação, em 95 vezes o cenário com três candidatos teria mais indecisos/brancos/nulos que o cenário com oito candidatos, mostrando o quanto é improvável que esta pesquisa reflita a realidade.
Há quem acredite que os próprios números das pesquisas influenciem o eleitor. Mas neste momento a maior influência é através da produção de manchetes, seja para criar um clima de "sangramento" da popularidade da presidenta, como se ela estivesse em constante queda, seja para não desanimar apoios às candidaturas oposicionistas, como se estivessem em alta.
A combinação de noticiário excessivamente hostil ao atual governo federal combinado com aferição nas pesquisas sobre a corrida presidencial – mesmo que "heterodoxas" –, divulgadas quase toda semana, inclusive com função de realimentar o próprio noticiário hostil, começa a ficar impossível disfarçar a aplicação da tática do "sangramento" que interessa à oposição.
Note-se que o excesso de pesquisas, mesmo ainda distante das eleições, só é divulgado sobre as eleições presidenciais. Houvesse interesse justificado de informar bem ao cidadão, haveria também esse mesmo número de pesquisas para as eleições de governadores, pelo menos de estados mais populosos, como São Paulo e Minas, o que não ocorre, pois não há o interesse e obsessão de aplicar a estratégia de "sangramento" nestes casos.
Em um regime de liberdades democráticas não há como cercear pesquisas e sua divulgação. Já existe uma regulamentação que obriga registros na Justiça Eleitoral para ficar disponível a auditorias, mas isso não é suficiente para certificar a lisura. Nada impede que questionários sejam colhidos a mais e uma parte seja invalidada, o que pode melhorar os índices de algum candidato e piorar o de outros. Uma auditoria não enxergaria esse tipo de expediente.
Por enquanto, o que é possível fazer é o questionamento quando se percebe que as pesquisas estão sendo usadas com fins panfletários, quando há as manipulações de datas de divulgação desatualizadas, e quando a contradição entre os próprios números torna-se evidente.
Pesquisas eleitorais deveriam funcionar como um termômetro: aferir medidas de forma isenta e neutra e pronto. Em vez disso, as sondagem de intenções de votos para as eleições presidenciais têm sido usadas como verdadeiros panfletos eleitorais. Como as pesquisas quase sempre são atreladas à mídia tradicional, de tendência oposicionista ao governo federal, ou a associações patronais, também simpáticas ao PSDB, o uso panfletário das pesquisas tem sido pró-Aécio Neves.
Institutos como o Datafolha recentemente incluíram nos questionários perguntas que parecem ter o efeito apenas de provocar manchetes. Em pleno bombardeio midiático contra a Petrobras, o Datafolha incluiu em seu questionário uma pergunta sobre se o pesquisado achava que havia corrupção na Petrobras. É uma pergunta sem pé nem cabeça, pois qualquer um acha que existem maçãs podres em qualquer grande órgão.
No caso da Petrobras há até quem confunda com casos de postos que adulteram a gasolina, mesmo que não sejam postos da BR Distribuidora. Se perguntar se existe corrupção na Sabesp, em tribunais, na polícia, no Metrô, em multinacionais, em bancos, em empreiteiras, os pesquisados também responderão que há corrupção. Então, a função de uma pergunta destas é apenas para criar uma manchete na linha do "Tantos por cento acham que há corrupção na Petrobras". Justo no momento em que a oposição queria títulos como estes para emplacar uma CPI eleitoreira, e dentro da estratégia de "sangramento" (ou seja, desgaste) da popularidade da presidenta Dilma Rousseff.
Não é a única pergunta exótica que encontramos em questionários dos diversos institutos, que têm pouco ou nenhum valor, mesmo qualitativo, mas que servem para produzir manchetes que mantenham temas de interesse eleitoral da oposição no noticiário.
Outro caso polêmico recente foi uma pesquisa do Instituto Ibope. Em uma semana divulgou-se a intenção de votos, sondagem na qual se registrou queda da presidenta Dilma Rousseff em relação à pesquisa anterior. Na outra semana, como se fosse novidade, divulgaram queda da popularidade da presidenta. Tudo indica que o objetivo também foi criar manchetes em dois momentos diferentes, o que fica em conformidade com a estratégia oposicionista de "sangramento" aos poucos da popularidade da titular do Planalto.
Também há um forte questionamento sobre a ausência da opção "branco/nulos" nos discos da pesquisa induzida. Com a forte declaração da intenção de anular o voto nas pesquisas espontâneas, é um erro de metodologia omitir essa opção na pesquisa estimulada, e todos os institutos omitem. No mínimo deveriam aferir com dois discos, um sem e outro com a opção "branco/nulos" para ver se dá diferença.
Mas nada supera a desfaçatez do Instituto Sensus, em pesquisa divulgada no sábado (3) na revista IstoÉ. A primeira extravagância da última pesquisa Sensus foi substituir os recomendáveis discos circulares com nomes dos candidatos por uma lista alfabética, onde o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, aparece sempre na frente dos demais. Até o jornal O Estado de S. Paulo denunciou o fato como claro favorecimento ao tucano.
A segunda extravagância foi, novamente, a data de divulgação atrasada. A pesquisa foi feita entre os dias 22 e 25 de abril, logo após a exposição de Aécio Neves na propaganda partidária do PSDB na TV e no rádio. O resultado foi segurado até o dia 3 de maio, quando divulgado, após o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff pelo dia do Trabalho, como se a pesquisa já tivesse captado este momento.
Por fim os números do Instituto Sensus contêm uma combinação possível, mas improvável. No cenário com oito candidatos, os indecisos/brancos/nulos somam 33,9%. Quando se retiram cinco candidatos, reduzindo a pesquisa a três, é óbvio que quem não escolheu um dos três nomes na lista de oito não escolheria estes mesmos nomes na lista de três. Aliás, há quem votaria no candidato do PSOL, por exemplo, e declara intenção de voto em nenhum quando as opções ficam restritas aos três principais candidatos. Portanto, no cenário com três candidatos a faixa de indecisos/brancos/nulos deveria ser maior. Entretanto, o instituto Sensus detectou número significantemente menor, caindo para 30,4%. Uma grande distorção.
Se a pesquisa fosse repetida 100 vezes, sem qualquer manipulação, em 95 vezes o cenário com três candidatos teria mais indecisos/brancos/nulos que o cenário com oito candidatos, mostrando o quanto é improvável que esta pesquisa reflita a realidade.
Há quem acredite que os próprios números das pesquisas influenciem o eleitor. Mas neste momento a maior influência é através da produção de manchetes, seja para criar um clima de "sangramento" da popularidade da presidenta, como se ela estivesse em constante queda, seja para não desanimar apoios às candidaturas oposicionistas, como se estivessem em alta.
A combinação de noticiário excessivamente hostil ao atual governo federal combinado com aferição nas pesquisas sobre a corrida presidencial – mesmo que "heterodoxas" –, divulgadas quase toda semana, inclusive com função de realimentar o próprio noticiário hostil, começa a ficar impossível disfarçar a aplicação da tática do "sangramento" que interessa à oposição.
Note-se que o excesso de pesquisas, mesmo ainda distante das eleições, só é divulgado sobre as eleições presidenciais. Houvesse interesse justificado de informar bem ao cidadão, haveria também esse mesmo número de pesquisas para as eleições de governadores, pelo menos de estados mais populosos, como São Paulo e Minas, o que não ocorre, pois não há o interesse e obsessão de aplicar a estratégia de "sangramento" nestes casos.
Em um regime de liberdades democráticas não há como cercear pesquisas e sua divulgação. Já existe uma regulamentação que obriga registros na Justiça Eleitoral para ficar disponível a auditorias, mas isso não é suficiente para certificar a lisura. Nada impede que questionários sejam colhidos a mais e uma parte seja invalidada, o que pode melhorar os índices de algum candidato e piorar o de outros. Uma auditoria não enxergaria esse tipo de expediente.
Por enquanto, o que é possível fazer é o questionamento quando se percebe que as pesquisas estão sendo usadas com fins panfletários, quando há as manipulações de datas de divulgação desatualizadas, e quando a contradição entre os próprios números torna-se evidente.
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