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As forças populares devem cultivar uma concepção ampla da luta de classes. Isto coloca o desafio de reafirmar uma estratégia revolucionária e, ao mesmo tempo, combinar firmeza ideológica com flexibilidade na tática. O ponto de partida certamente é fazer a análise concreta da situação concreta e aprender com o legado histórico das lutas e revoluções populares.
Uma concepção ampla da luta política significa reconhecer que a arena da luta de classes se caracteriza por três dimensões: a luta social, ideológica e institucional. Um projeto político de natureza democrática e popular deve combinar as três dimensões para avançar na construção de hegemonia na sociedade. Além disso, como em última instância a política é definida pelo fator força social de massas, a luta ideológica e a luta institucional devem estar subordinadas à luta social. Ou seja, a batalha de ideias e a disputa das instituições da sociedade burguesa só fazem sentido na perspectiva do fortalecimento das lutas populares e, consequentemente, na construção de uma força social de massas. Atualmente esse desafio está colocado no Brasil.
Estamos diante de uma conjuntura em que as eleições presidenciais, enquanto parte da luta institucional, ganha extrema importância. Diante do atual cenário eleitoral, ainda encontramos posições esquerdistas em setores da esquerda brasileira. O conteúdo do esquerdismo reside em ignorar a correlação de forças da luta política no Brasil e na América Latina. Para definir sua posição eleitoral, dá-se centralidade aos limites e equívocos do governo Dilma e se ignora o retrocesso que significaria para as conquistas populares obtidas nos últimos 11 anos em uma eventual vitória das forças neoliberais nas eleições presidenciais de 2014.
O esquerdismo ignora que as experiências de governos progressistas e populares, como é o caso da Venezuela, da Bolívia e do Equador, e mesmo Cuba têm o governo Dilma como importante ponto de apoio. Ignoram que uma derrota de Dilma nas eleições de 2014 abre a possibilidade de alteração na correlação de forças na América Latina e, consequentemente, restauração das forças neoliberais.
Por isso, para serem condizentes com uma análise concreta de uma situação concreta, os partidos de esquerda sem o mínimo de peso eleitoral, que não conseguem enraizar sua mensagem programática e nem contribuir para o avanço da consciência de classe das massas populares durante as eleições deveriam estar fortalecendo a candidatura de Dilma, mesmo sabendo que o neodesenvolvimentismo em curso não é uma alternativa popular.
O esquerdismo também se expressa nas posições vacilantes de intelectuais da academia que subordinam a correlação de forças na luta política à sua suposta “fidelidade” ao marxismo. Preferem dormir com sua consciência tranquila a votar no PT. São alguns poucos professores e estudantes que têm uma concepção homogênea das classes sociais e do Estado. Não conseguem identificar frações de classes e seus diversos interesses em torno do governo Dilma. Não compreendem o retrocesso que seria as forças neoliberais retomarem o controle do Poder Executivo federal. São, na verdade, intelectualmente fracos e cultivam um doutrinarismo que expulsa a dialética do pensamento de Marx.
Também é comum o esquerdismo se expressar através do abstencionismo eleitoral. Isso não é novo ao longo da história das lutas populares. Lênin derrotou o abstencionismo na nascente Terceira Internacional quando o agrupamento italiano liderado por Amadeo Bordiga defendia que os partidos comunistas não disputassem o parlamento. Lênin argumentou que, se um comunista não consegue participar das eleições burguesas mantendo seus princípios não é digno de ser chamado de comunista. Num texto épico, Lênin afirma que alianças e compromissos, inclusive com setores burgueses, perpassam toda a história do bolchevismo.
O certo mesmo é que estas concepções esquerdistas não estão no seio do povo brasileiro que se beneficia das conquistas populares dos últimos 11 anos. É tarefa das forças populares propagandear o que realmente está em jogo no Brasil e na América Latina. A disputa com as forças neoliberais nas eleições de 2014 será acirrada. O esquerdismo, isolado e pregando no deserto, de alguma forma, jogará água no moinho da restauração neoliberal.
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