Por Jaime Sautchuk, no site Vermelho:
Passada a Copa do Mundo de Futebol, bate a lembrança de que estamos a menos de dois anos das Olimpíadas do Rio de Janeiro, que ocorrem em 2016. Não se trata de discutir se vale a pena ou não o País hospedar os jogos olímpicos. Isso é bobagem, pois é claro que valerá a pena, como já se provou em tantos países.
O que se discute, no entanto, é o desempenho do Brasil nas quadras e pistas, que promete ser tão medíocre quanto o nos campos de futebol.
Para chegarmos a essa conclusão, não precisa ir longe. Basta olharmos para o resultado que obtivemos nas últimas Olimpíadas, realizadas em Londres, há dois anos. Na ocasião, o Brasil conquistou parcas 17 medalhas, sendo apenas três de ouro. Ficou em 22º lugar no quadro de medalhas
É um resultado inaceitável para o volume de recursos aplicados e pelo tamanho do país. Ficou bem atrás de Cuba, Itália, Coréia do Sul, sem falar nos dois primeiros colocados, que foram os Estados Unidos, com 46 ouros, e a China, com 38. Ou seja, um resultado pífio, o nosso.
Primeiro, porque as leis surgidas no Brasil (Agnelo/Piva, Bolsa-Atleta e outras) e as políticas implantadas a partir da era Lula sempre indicaram um rumo promissor. A começar pela criação do Ministério do Esporte, pois até então essa atividade era subordinada a uma única pasta, misturada com turismo.
A Agnelo/Piva é aquela lei que destina 2% do rateio das loterias para os esportes olímpicos e paraolímpicos. E foi criada a Bolsa-atleta, que financia desportistas que demonstrem algum avanço na sua modalidade. O dinheiro desse setor, que era de pingados R$ 3 milhões por ano, saltou para mais de R$ 70 milhões, garantidos e pagos mês a mês.
Ou seja, o dinheiro aplicado em esporte cresceu em mais de 20 vezes, administrado principalmente pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), uma entidade tida como privada, como a CBF no futebol.
Mas, apesar de ter dinheiro, o COB não tem uma política de base, que cumpra os ciclos olímpicos em todas as modalidades. Só assim poderíamos chegar a eventos internacionais com um volume de atletas competitivos. Não apenas com alguns abnegados ou adeptos de modalidades privilegiadas pelas autoridades do setor, como o vôlei.
Após os jogos de Londres, o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzmann, disse, ao avaliar o desempenho brasileiro, que “é preciso diversificar as modalidades em que atuamos”. Descobriu a pólvora, o veterano dirigente dos esportes olímpicos.
Vale lembrar que Nuzmann é para os esportes olímpicos brasileiros o que João Havelange e sua gangue representam para o futebol. São dinastias que se eternizam no poder, monopolizam o dinheiro e fazem negócios, muitos negócios.
Na verdade, apesar de ter crescido em volume de recursos aplicados, o esporte olímpico continua sendo tratado em plano federal. Nunca chegou verdadeiramente aos municípios, onde está a base, embora seja uma atividade essencial, até porque está imbricada com educação e saúde, pelo menos.
O que ocorre é que nossos atletas surgem por acaso, por esforço pessoal, não como fruto de atividade massificada, em que toda a criança já traga com ela essa possibilidade de se desenvolver. De um modo geral, a Educação Física nas escolas é uma disciplina burocrática, para cumprir tabela, que pouco influi no desenvolvimento verdadeiro do cidadão.
A Lei 9696, de 1998, que regulamenta a profissão do profissional desta disciplina, cria uma divisão de áreas. Uns profissionais podem atuar nas escolas formais da rede de ensino, outros podem atuar nas academias, clubes etc. Essa divisão é reforçada na própria universidade, que tem, em verdade, dois cursos distintos: o de graduação (bacharelado) e o de licenciatura.
No dia-a-dia, ocorre o seguinte. Pela legislação, um professor de uma escola da rede pública de uma cidade qualquer não pode ser, ao mesmo tempo, treinador de uma equipe local. Não pode sequer desenvolver atividades de lazer com outras crianças. A tese que norteia isso é a de que, caso contrário, esse professor estaria “roubando” vaga de alguém. Parece um absurdo, mas esse é um problema real.
Ou seja, o Brasil está bem servido de pessoal para atuar na massificação das atividades esportivas. O problema é que grande parte dos profissionais que se formam atende ao chamado mercado. Eles vão atuar na área de fitness (condicionamento físico), nas academias de ginástica ou no atendimento personalizado a fregueses endinheirados. Prevalece a visão o esporte como privilégio de poucos.
Existem vários outros problemas, como o uso dos espaços urbanos para esporte e lazer. Mesmo em cidades pequenas do interior, prédios e estacionamentos tomam conta dos espaços que seriam para o esporte e o lazer.
As prefeituras, de um modo geral, não investem nessas áreas e estão muito distantes do COB, por exemplo. E este, por sua vez, não está nem aí para as prefeituras.
Assim, os esportes ficam do Deus-dará. E o resultado é esse mesmo, algumas medalhinhas aqui e acolá, mesmo em olimpíadas. E que venha a do Rio de Janeiro, então!
Passada a Copa do Mundo de Futebol, bate a lembrança de que estamos a menos de dois anos das Olimpíadas do Rio de Janeiro, que ocorrem em 2016. Não se trata de discutir se vale a pena ou não o País hospedar os jogos olímpicos. Isso é bobagem, pois é claro que valerá a pena, como já se provou em tantos países.
O que se discute, no entanto, é o desempenho do Brasil nas quadras e pistas, que promete ser tão medíocre quanto o nos campos de futebol.
Para chegarmos a essa conclusão, não precisa ir longe. Basta olharmos para o resultado que obtivemos nas últimas Olimpíadas, realizadas em Londres, há dois anos. Na ocasião, o Brasil conquistou parcas 17 medalhas, sendo apenas três de ouro. Ficou em 22º lugar no quadro de medalhas
É um resultado inaceitável para o volume de recursos aplicados e pelo tamanho do país. Ficou bem atrás de Cuba, Itália, Coréia do Sul, sem falar nos dois primeiros colocados, que foram os Estados Unidos, com 46 ouros, e a China, com 38. Ou seja, um resultado pífio, o nosso.
Primeiro, porque as leis surgidas no Brasil (Agnelo/Piva, Bolsa-Atleta e outras) e as políticas implantadas a partir da era Lula sempre indicaram um rumo promissor. A começar pela criação do Ministério do Esporte, pois até então essa atividade era subordinada a uma única pasta, misturada com turismo.
A Agnelo/Piva é aquela lei que destina 2% do rateio das loterias para os esportes olímpicos e paraolímpicos. E foi criada a Bolsa-atleta, que financia desportistas que demonstrem algum avanço na sua modalidade. O dinheiro desse setor, que era de pingados R$ 3 milhões por ano, saltou para mais de R$ 70 milhões, garantidos e pagos mês a mês.
Ou seja, o dinheiro aplicado em esporte cresceu em mais de 20 vezes, administrado principalmente pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), uma entidade tida como privada, como a CBF no futebol.
Mas, apesar de ter dinheiro, o COB não tem uma política de base, que cumpra os ciclos olímpicos em todas as modalidades. Só assim poderíamos chegar a eventos internacionais com um volume de atletas competitivos. Não apenas com alguns abnegados ou adeptos de modalidades privilegiadas pelas autoridades do setor, como o vôlei.
Após os jogos de Londres, o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzmann, disse, ao avaliar o desempenho brasileiro, que “é preciso diversificar as modalidades em que atuamos”. Descobriu a pólvora, o veterano dirigente dos esportes olímpicos.
Vale lembrar que Nuzmann é para os esportes olímpicos brasileiros o que João Havelange e sua gangue representam para o futebol. São dinastias que se eternizam no poder, monopolizam o dinheiro e fazem negócios, muitos negócios.
Na verdade, apesar de ter crescido em volume de recursos aplicados, o esporte olímpico continua sendo tratado em plano federal. Nunca chegou verdadeiramente aos municípios, onde está a base, embora seja uma atividade essencial, até porque está imbricada com educação e saúde, pelo menos.
O que ocorre é que nossos atletas surgem por acaso, por esforço pessoal, não como fruto de atividade massificada, em que toda a criança já traga com ela essa possibilidade de se desenvolver. De um modo geral, a Educação Física nas escolas é uma disciplina burocrática, para cumprir tabela, que pouco influi no desenvolvimento verdadeiro do cidadão.
A Lei 9696, de 1998, que regulamenta a profissão do profissional desta disciplina, cria uma divisão de áreas. Uns profissionais podem atuar nas escolas formais da rede de ensino, outros podem atuar nas academias, clubes etc. Essa divisão é reforçada na própria universidade, que tem, em verdade, dois cursos distintos: o de graduação (bacharelado) e o de licenciatura.
No dia-a-dia, ocorre o seguinte. Pela legislação, um professor de uma escola da rede pública de uma cidade qualquer não pode ser, ao mesmo tempo, treinador de uma equipe local. Não pode sequer desenvolver atividades de lazer com outras crianças. A tese que norteia isso é a de que, caso contrário, esse professor estaria “roubando” vaga de alguém. Parece um absurdo, mas esse é um problema real.
Ou seja, o Brasil está bem servido de pessoal para atuar na massificação das atividades esportivas. O problema é que grande parte dos profissionais que se formam atende ao chamado mercado. Eles vão atuar na área de fitness (condicionamento físico), nas academias de ginástica ou no atendimento personalizado a fregueses endinheirados. Prevalece a visão o esporte como privilégio de poucos.
Existem vários outros problemas, como o uso dos espaços urbanos para esporte e lazer. Mesmo em cidades pequenas do interior, prédios e estacionamentos tomam conta dos espaços que seriam para o esporte e o lazer.
As prefeituras, de um modo geral, não investem nessas áreas e estão muito distantes do COB, por exemplo. E este, por sua vez, não está nem aí para as prefeituras.
Assim, os esportes ficam do Deus-dará. E o resultado é esse mesmo, algumas medalhinhas aqui e acolá, mesmo em olimpíadas. E que venha a do Rio de Janeiro, então!
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