Por Altamiro Borges
Se ocorresse no Brasil ou na Venezuela seria a maior gritaria. Mas foi no Reino Unido, uma monarquia liderada pela “chavista” Rainha Elizabeth II e governada pelos “esquerdistas” do Partido Conservador de David Cameron. Na sexta-feira passada (4), a Justiça britânica finalmente concluiu o processo sobre o escândalo das escutas telefônicas ilegais e subornos de autoridades patrocinados pelo império midiático de Rupert Murdoch. O jornalista Andy Coulson, ex-editor-chefe do tabloide "News of the World", foi condenado a 18 meses de prisão. No mesmo dia, ele foi conduzido do tribunal para um presídio de segurança máxima, de onde será transferido para uma penitenciária de “presos considerados não perigosos”.
A decisão da Justiça britânica é histórica e abala o poder das ditaduras midiáticas em todo o mundo. O tabloide sensacionalista, com 168 anos de existência, já havia sido extinto em 2011 em decorrência do escândalo. O próprio Rupert Murdoch, o seu filho e outros chefões do império foram levados ao banco de réus. A maior punição sobrou somente para Andy Coulson, que foi editor-chefe do “News of the Word” de 2003 a 2007. A prisão desgasta ainda mais a imagem do primeiro-ministro David Cameron. Em 2010, o jornalista foi contratado como assessor de imprensa do premiê após ter trabalhado para ele no Partido Conservador. Coulson só deixou o cargo no ano seguinte, depois da revelação do escândalo.
O texto da sentença da Justiça não dá brecha a dúvidas. Afirma que o jornalista “sabia disso [das escutas ilegais] e estimulou quando deveria ter parado... É clara a evidência de que havia concordância com grampos telefônicos enquanto Andy Coulson era editor”. Além do ex-chefão, outros três jornalistas, subordinados a ele, foram condenados. Neville Thurlbeck e Greg Miskiw pegaram seis meses de prisão e James Weatherup teve uma pena de 200 horas de serviços comunitários. O detetive particular Glenn Mulcaire também deverá prestar serviços comunitários por seu envolvimento no caso. Já a antecessora de Coulson, Rebekah Brooks – braço direito de Rupert Murdoch –, foi estranhamente absolvida.
A histórica decisão da Justiça britânica deveria servir de exemplo para os barões da mídia brasileira, que também costumam desrespeitar as leis e a Constituição, colocando-se acima do Estado de Direito. Como argumenta o blog de José Dirceu, fuzilado num julgamento midiático, no Brasil “a mídia reina absoluta, sem lei nem autoridade que coíbam seus abusos, sem temer a nada nem a ninguém. É o verdadeiro império dos barões da mídia, dominada por meia dúzia de família que detém o monopólio da comunicação, da informação – e da manipulação”. O blog lembra o caso da invasão da privacidade do ex-ministro, em 2012, quando um repórter da revista Veja utilizou imagens internas de um hotel de Brasília.
“Passados mais de dois anos daquela barbaridade, um verdadeiro crime, não aconteceu nada”, critica o blog. “E coisas estranhas e inexplicáveis aconteceram com o processo que corria em Brasília contra o repórter da Veja. O delegado Edson Medina de Oliveira, que presidiu o inquérito e indiciou o repórter Gustavo Ribeiro, recomendando ainda ao Ministério Público Distrital que seguisse com o processo na Justiça, foi afastado da 5ª DP-DF sem qualquer explicação. Em 19 de dezembro de 2012, o promotor Bruno Osmar Freitas pediu o arquivamento do caso”. Pouco tempo depois, descobriu-se que as imagens ilegais foram negociadas entre o mafioso Carlinhos Cachoeira e o diretor da revista, Policarpo Junior!
Se este “verdadeiro crime” tivesse ocorrido no Reino Unido, possivelmente o repórter e o diretor da Veja seriam processados. Já no Brasil, “não aconteceu nada”, o que mostra “a dificuldade para se levar ao devido termo um processo contra um veículo de comunicação, mesmo que fique comprovado que ele cometeu uma transgressão à lei, mesmo que inquéritos tenham sido instaurados e que os fatos tenham sido devidamente documentados. Já na Inglaterra, oito meses depois de iniciado o julgamento de um dos implicados no crime de invasão de privacidade e suborno a funcionários da máquina estatal, se tem a primeira condenação. Na Inglaterra o escândalo resultou numa lei de regulação da mídia. Já aqui...”.
*****
Leia também:
- Os grampos criminosos de Rupert Murdoch
- A mídia nativa e as lições de Murdoch
- Queda do herdeiro do império de Murdoch
- Escândalo Murdoch e a regulação da mídia
- Murdoch e o submundo do jornalismo
- Murdoch paga US$ 3,2 bilhões. E a Veja?
Se ocorresse no Brasil ou na Venezuela seria a maior gritaria. Mas foi no Reino Unido, uma monarquia liderada pela “chavista” Rainha Elizabeth II e governada pelos “esquerdistas” do Partido Conservador de David Cameron. Na sexta-feira passada (4), a Justiça britânica finalmente concluiu o processo sobre o escândalo das escutas telefônicas ilegais e subornos de autoridades patrocinados pelo império midiático de Rupert Murdoch. O jornalista Andy Coulson, ex-editor-chefe do tabloide "News of the World", foi condenado a 18 meses de prisão. No mesmo dia, ele foi conduzido do tribunal para um presídio de segurança máxima, de onde será transferido para uma penitenciária de “presos considerados não perigosos”.
A decisão da Justiça britânica é histórica e abala o poder das ditaduras midiáticas em todo o mundo. O tabloide sensacionalista, com 168 anos de existência, já havia sido extinto em 2011 em decorrência do escândalo. O próprio Rupert Murdoch, o seu filho e outros chefões do império foram levados ao banco de réus. A maior punição sobrou somente para Andy Coulson, que foi editor-chefe do “News of the Word” de 2003 a 2007. A prisão desgasta ainda mais a imagem do primeiro-ministro David Cameron. Em 2010, o jornalista foi contratado como assessor de imprensa do premiê após ter trabalhado para ele no Partido Conservador. Coulson só deixou o cargo no ano seguinte, depois da revelação do escândalo.
O texto da sentença da Justiça não dá brecha a dúvidas. Afirma que o jornalista “sabia disso [das escutas ilegais] e estimulou quando deveria ter parado... É clara a evidência de que havia concordância com grampos telefônicos enquanto Andy Coulson era editor”. Além do ex-chefão, outros três jornalistas, subordinados a ele, foram condenados. Neville Thurlbeck e Greg Miskiw pegaram seis meses de prisão e James Weatherup teve uma pena de 200 horas de serviços comunitários. O detetive particular Glenn Mulcaire também deverá prestar serviços comunitários por seu envolvimento no caso. Já a antecessora de Coulson, Rebekah Brooks – braço direito de Rupert Murdoch –, foi estranhamente absolvida.
A histórica decisão da Justiça britânica deveria servir de exemplo para os barões da mídia brasileira, que também costumam desrespeitar as leis e a Constituição, colocando-se acima do Estado de Direito. Como argumenta o blog de José Dirceu, fuzilado num julgamento midiático, no Brasil “a mídia reina absoluta, sem lei nem autoridade que coíbam seus abusos, sem temer a nada nem a ninguém. É o verdadeiro império dos barões da mídia, dominada por meia dúzia de família que detém o monopólio da comunicação, da informação – e da manipulação”. O blog lembra o caso da invasão da privacidade do ex-ministro, em 2012, quando um repórter da revista Veja utilizou imagens internas de um hotel de Brasília.
“Passados mais de dois anos daquela barbaridade, um verdadeiro crime, não aconteceu nada”, critica o blog. “E coisas estranhas e inexplicáveis aconteceram com o processo que corria em Brasília contra o repórter da Veja. O delegado Edson Medina de Oliveira, que presidiu o inquérito e indiciou o repórter Gustavo Ribeiro, recomendando ainda ao Ministério Público Distrital que seguisse com o processo na Justiça, foi afastado da 5ª DP-DF sem qualquer explicação. Em 19 de dezembro de 2012, o promotor Bruno Osmar Freitas pediu o arquivamento do caso”. Pouco tempo depois, descobriu-se que as imagens ilegais foram negociadas entre o mafioso Carlinhos Cachoeira e o diretor da revista, Policarpo Junior!
Se este “verdadeiro crime” tivesse ocorrido no Reino Unido, possivelmente o repórter e o diretor da Veja seriam processados. Já no Brasil, “não aconteceu nada”, o que mostra “a dificuldade para se levar ao devido termo um processo contra um veículo de comunicação, mesmo que fique comprovado que ele cometeu uma transgressão à lei, mesmo que inquéritos tenham sido instaurados e que os fatos tenham sido devidamente documentados. Já na Inglaterra, oito meses depois de iniciado o julgamento de um dos implicados no crime de invasão de privacidade e suborno a funcionários da máquina estatal, se tem a primeira condenação. Na Inglaterra o escândalo resultou numa lei de regulação da mídia. Já aqui...”.
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