Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A imprensa brasileira salta diretamente dos estádios de futebol para o campo da política, sem escalas. Três dias depois de encerrada a Copa do Mundo, já nesta quarta-feira (16/7) os principais jornais do País voltam a ocupar seu lugar na disputa eleitoral, no papel de porta-vozes dos marqueteiros de candidatos. A reportagem, gênero jornalístico por excelência, cede espaço para o festival de declarações monitoradas pelas pesquisas que orientam as campanhas.
Engajada em sua obsessão por dirigir as escolhas da maioria dos eleitores, a imprensa abre mão da soberania representada pelo controle da agenda e se entrega aos interesses dos profissionais contratados pelos candidatos para produzir factoides e frases de efeito.
O resultado é um jornalismo de segunda mão, no qual proliferam as citações entre aspas, as versões deste e daquele lado, as interpretações ambíguas e os lugares-comuns típicos dos períodos que antecedem a disputa nas urnas.
Já se disse muitas vezes que, como na frase do professor de jornalismo Phillip Knightley, em eleições – como na guerra – a primeira vítima é a verdade. Os leitores críticos de jornais e revistas podem constatar, quase diariamente, como as crônicas da política se assemelham ao fenômeno analisado pelo escritor e jornalista britânico ao interpretar as versões divulgadas pela imprensa em períodos de conflito.
Como exercício de observação, por exemplo, pode-se comparar o noticiário predominante sobre a atual crise na Palestina com as escolhas editoriais no que se refere à campanha eleitoral no Brasil.
A imprensa sempre tem um lado preferencial, e os fundamentos de suas escolhas não têm necessariamente a ver com a verdade, com justiça ou com razões humanitárias. A motivação dos jornais deriva de um conjunto de interesses associados a uma particular visão de mundo, que representa o ideário de uma parte da sociedade, eventualmente conflitante com as expectativas, os desejos e os direitos da maioria.
O curioso é que, no noticiário da política, a imprensa perde credibilidade justamente quando tenta aumentar sua influência.
Sem respostas
Vejamos, por exemplo, a reportagem produzida pelo Estado de S. Paulo nesta quarta-feira (16/7), ao tentar pautar os três principais candidatos a presidente da República sobre questões que a redação considera relevantes.
Foi solicitado à presidente Dilma Rousseff (PT), ao senador Aécio Neves (PSDB) e ao ex-governador Eduardo Campos (PSB) que se manifestassem a respeito de reforma política, redução da maioridade penal, legalização do aborto, descriminalização da maconha, fim da estabilidade no serviço público, reforma da Previdência, reajuste do salário mínimo pela inflação e o PIB, fim da gratuidade da universidade pública, passe livre no transporte urbano, flexibilização da CLT e privatização de estatais e bancos públicos.
O questionário foi elaborado pelo jornal com base em temas tratados em eleições anteriores, ou seja, a referência é a própria imprensa, que em todas as campanhas tenta definir o que deve ser discutido pelos candidatos.
Em 2010, por exemplo, a mídia manteve em pauta a questão do aborto porque as manifestações de protagonistas conservadores, como os líderes de facções religiosas, prejudicavam a então candidata Dilma Rousseff.
Há, portanto, um viés tendencioso na própria elaboração das questões.
Mas o mais interessante é constatar que a atual presidente, que lidera as pesquisas de intenção de voto, respondeu apenas a primeira pergunta, sobre a reforma política, e ignorou as demais, porque seus assessores sabiam que se tratava de uma armadilha.
Os outros dois candidatos, que dependem de erros de Dilma Rousseff para melhorar suas chances, deram respostas superficiais ou evasivas, porque tudo que disserem pode ser usado contra eles na campanha que realmente vale: aquela que é veiculada pela televisão.
O Estado de S. Paulo analisa as respostas e afirma que foram todas muito conservadoras. Na verdade, não houve respostas dos candidatos. Os textos foram escritos por assessores de campanha e esses profissionais sabem que aqueles temas polêmicos não devem ser abordados em respostas curtas que serão submetidas aos critérios dos editores do jornal.
Então, fica assim: a imprensa finge que suscita o debate, os candidatos fingem que participam, e os marqueteiros conduzem a balada.
A imprensa brasileira salta diretamente dos estádios de futebol para o campo da política, sem escalas. Três dias depois de encerrada a Copa do Mundo, já nesta quarta-feira (16/7) os principais jornais do País voltam a ocupar seu lugar na disputa eleitoral, no papel de porta-vozes dos marqueteiros de candidatos. A reportagem, gênero jornalístico por excelência, cede espaço para o festival de declarações monitoradas pelas pesquisas que orientam as campanhas.
Engajada em sua obsessão por dirigir as escolhas da maioria dos eleitores, a imprensa abre mão da soberania representada pelo controle da agenda e se entrega aos interesses dos profissionais contratados pelos candidatos para produzir factoides e frases de efeito.
O resultado é um jornalismo de segunda mão, no qual proliferam as citações entre aspas, as versões deste e daquele lado, as interpretações ambíguas e os lugares-comuns típicos dos períodos que antecedem a disputa nas urnas.
Já se disse muitas vezes que, como na frase do professor de jornalismo Phillip Knightley, em eleições – como na guerra – a primeira vítima é a verdade. Os leitores críticos de jornais e revistas podem constatar, quase diariamente, como as crônicas da política se assemelham ao fenômeno analisado pelo escritor e jornalista britânico ao interpretar as versões divulgadas pela imprensa em períodos de conflito.
Como exercício de observação, por exemplo, pode-se comparar o noticiário predominante sobre a atual crise na Palestina com as escolhas editoriais no que se refere à campanha eleitoral no Brasil.
A imprensa sempre tem um lado preferencial, e os fundamentos de suas escolhas não têm necessariamente a ver com a verdade, com justiça ou com razões humanitárias. A motivação dos jornais deriva de um conjunto de interesses associados a uma particular visão de mundo, que representa o ideário de uma parte da sociedade, eventualmente conflitante com as expectativas, os desejos e os direitos da maioria.
O curioso é que, no noticiário da política, a imprensa perde credibilidade justamente quando tenta aumentar sua influência.
Sem respostas
Vejamos, por exemplo, a reportagem produzida pelo Estado de S. Paulo nesta quarta-feira (16/7), ao tentar pautar os três principais candidatos a presidente da República sobre questões que a redação considera relevantes.
Foi solicitado à presidente Dilma Rousseff (PT), ao senador Aécio Neves (PSDB) e ao ex-governador Eduardo Campos (PSB) que se manifestassem a respeito de reforma política, redução da maioridade penal, legalização do aborto, descriminalização da maconha, fim da estabilidade no serviço público, reforma da Previdência, reajuste do salário mínimo pela inflação e o PIB, fim da gratuidade da universidade pública, passe livre no transporte urbano, flexibilização da CLT e privatização de estatais e bancos públicos.
O questionário foi elaborado pelo jornal com base em temas tratados em eleições anteriores, ou seja, a referência é a própria imprensa, que em todas as campanhas tenta definir o que deve ser discutido pelos candidatos.
Em 2010, por exemplo, a mídia manteve em pauta a questão do aborto porque as manifestações de protagonistas conservadores, como os líderes de facções religiosas, prejudicavam a então candidata Dilma Rousseff.
Há, portanto, um viés tendencioso na própria elaboração das questões.
Mas o mais interessante é constatar que a atual presidente, que lidera as pesquisas de intenção de voto, respondeu apenas a primeira pergunta, sobre a reforma política, e ignorou as demais, porque seus assessores sabiam que se tratava de uma armadilha.
Os outros dois candidatos, que dependem de erros de Dilma Rousseff para melhorar suas chances, deram respostas superficiais ou evasivas, porque tudo que disserem pode ser usado contra eles na campanha que realmente vale: aquela que é veiculada pela televisão.
O Estado de S. Paulo analisa as respostas e afirma que foram todas muito conservadoras. Na verdade, não houve respostas dos candidatos. Os textos foram escritos por assessores de campanha e esses profissionais sabem que aqueles temas polêmicos não devem ser abordados em respostas curtas que serão submetidas aos critérios dos editores do jornal.
Então, fica assim: a imprensa finge que suscita o debate, os candidatos fingem que participam, e os marqueteiros conduzem a balada.
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