Por Saul Leblon, no site Carta Maior:
Terminada a Copa do Mundo a presença recorrente do noticiário negativo sobre a economia brasileira volta a dominar as manchetes e escaladas da emissão conservadora.
O país, de fato, tem problemas estruturais a debater. A engrenagem econômica se ressente de mortífera sobrevalorização cambial. Ela inibe exportações e transfere demanda para o exterior.
As contas externas , ademais, sofrem com a erosão nas cotações das commodities e o salto nas remessas de lucros e royalties (mais de US$ 33 bilhões em 2013).
O parque industrial, defasado tecnologicamente, vê cadeias produtivas serem esfareladas pela invasão dos importados.
A expansão da infraestrutura ainda carece de um modelo que aperfeiçoe projetos e proteja as urgências nacionais das tenazes de embargos e interditos que impedem a aceleração das obras e explicam prazos e custos sempre rompidos.
Tudo isso é verdade.
Mas não é a motivação verdadeira que impulsiona o jornalismo do ‘Brasil aos cacos’.
O que interessa a ele, de fato, é obstruir a formação do discernimento coletivo sobre o que é essencial na superação desses gargalos.
O essencial debate-se entre duas lógicas.
De um lado, a lógica de um poder econômico que rejeita a infiltração da soberania popular no metabolismo de um Estado brasileiro, sempre refém da hegemonia absoluta das elites.
De outro, uma aspiração crescente por cidadania plena da parte de amplas camadas da população.
Em alguma hora elas terão que se deter diante da pergunta chave do futuro nacional.
Que democracia é necessária para que a sociedade possa vencer a transição entre uma economia pensada para 1/3 da população, e aquela requerida agora que o mercado de massa atingiu uma escala estruturante no país?
Ao contrário do que sugere a pregação midiática contra o ‘intervencionismo da Dilma’, o desafio reside justamente em construir alternativas à matriz anacrônica da liberalização e da desregulação econômica - panaceia conservadora que sonega consistência estrutural a qualquer projeto de desenvolvimento.
Isso já era verdade na reunião de Bretton Woods, em 1944.
Um certo John Maynard Keynes disse, então, que mesmo nos marcos do capitalismo (que afinal era o seu foco), nenhum Estado soberano poderia servir a três senhores ao mesmo tempo.
A saber: a liberdade de capitais; o livre comércio e a autonomia da política monetária - leia-se, a renúncia ao controle da taxa de juro, variável decisiva de um ciclo de investimento.
Vivemos há seis anos o maior colapso do capitalismo desde 1929, obra-prima do credo no Estado mínimo, associada à delegação suicida do destino da sociedade aos mercados ‘autorreguláveis’.
A desordem financeira mundial não cederá tão cedo, nem tão facilmente.
A consciência dessa travessia histórica é um dado fundamental para a ação política em nosso tempo.
O movimento estrutural de expansão do capital financeiro, cuja supremacia determina a dinâmica de uma economia mundial em crise , impõe dramáticos constrangimentos à soberania da sociedade para planejar seu destino e o destino do seu desenvolvimento.
Não há economicismo nessa constatação.
A política contribuiu de maneira inestimável para o modo como essa lógica se impôs, a velocidade com que ela se consolidou, a virulência de sua hegemonia e a brutal agonia da decadência atual.
A espoleta da maior crise do capitalismo desde 1929 foi o recuo desastroso do controle da Democracia sobre o poder do Dinheiro. O desmonte das travas regulatórias do sistema bancário foi o seu vetor.
Recuos e derrotas acumulados pela esquerda mundial desde os anos 70, sobretudo a colonização de seu arcabouço programático pelos valores e interditos neoliberais, alargaram os vertedouros para o espraiamento de uma dominância financeira , cuja presença tornou-se ubíqua em todas as esferas da vida humana.
A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, sancionou a supremacia da ordem regressiva.
Recolher esse caudal selvagem aos diques preexistentes é tão plausível quanto vencer a seleção alemã com um ataque formado por Jô e Fred.
A sociedade que cedeu soberania ao suposto poder autorregulador dos mercados perdeu as ferramentas institucionais capazes de gerar antídotos às degenerações intrínsecas a essa renúncia.
O Brasil, por exemplo, perdeu grande parte do poder indutor sobre a economia exercido por estatais que foram majoritariamente privatizadas.
A democracia terá que reinventar-se para que a retomada desse poder de iniciativa se recoloque no horizonte da ação política pelo desenvolvimento.
A urgência dessa reinvenção é a agenda subjacente ao debate eleitoral que começa a partir de agora.
O campo progressista não pode negligenciar a existência de um candidato oculto trabalhando em tempo integral pela sua derrota.
O governador Tarso Genro, em artigo recente nesta página, deu a esse candidato ubíquo o nome de ‘A Internacional do Capital Financeiro’ .
O economista Márcio Pochmann debruçou-se sobre esse palanque invisível no texto ‘Dominação financeira e suas contradições’ (leia nesta pág).
Carta Maior considera que o aprofundamento desse debate é oportuno e imprescindível para que o próprio campo progressista forme um discernimento mais claro e preciso do que está em jogo nestas eleições.
Esse é o propósito do Seminário Virtual ‘A internacional do Capital Financeiro’ que estará presente em sua página a partir de agora, com a participação de alguns dos mais importantes intelectuais brasileiros.
Conhecer o candidato oculto do palanque conservador não é um exercício diletante.
Trata-se de um dos requisitos à vitória, não apenas de uma candidatura, mas de uma agenda progressista consequente em outubro.
A ver.
Terminada a Copa do Mundo a presença recorrente do noticiário negativo sobre a economia brasileira volta a dominar as manchetes e escaladas da emissão conservadora.
O país, de fato, tem problemas estruturais a debater. A engrenagem econômica se ressente de mortífera sobrevalorização cambial. Ela inibe exportações e transfere demanda para o exterior.
As contas externas , ademais, sofrem com a erosão nas cotações das commodities e o salto nas remessas de lucros e royalties (mais de US$ 33 bilhões em 2013).
O parque industrial, defasado tecnologicamente, vê cadeias produtivas serem esfareladas pela invasão dos importados.
A expansão da infraestrutura ainda carece de um modelo que aperfeiçoe projetos e proteja as urgências nacionais das tenazes de embargos e interditos que impedem a aceleração das obras e explicam prazos e custos sempre rompidos.
Tudo isso é verdade.
Mas não é a motivação verdadeira que impulsiona o jornalismo do ‘Brasil aos cacos’.
O que interessa a ele, de fato, é obstruir a formação do discernimento coletivo sobre o que é essencial na superação desses gargalos.
O essencial debate-se entre duas lógicas.
De um lado, a lógica de um poder econômico que rejeita a infiltração da soberania popular no metabolismo de um Estado brasileiro, sempre refém da hegemonia absoluta das elites.
De outro, uma aspiração crescente por cidadania plena da parte de amplas camadas da população.
Em alguma hora elas terão que se deter diante da pergunta chave do futuro nacional.
Que democracia é necessária para que a sociedade possa vencer a transição entre uma economia pensada para 1/3 da população, e aquela requerida agora que o mercado de massa atingiu uma escala estruturante no país?
Ao contrário do que sugere a pregação midiática contra o ‘intervencionismo da Dilma’, o desafio reside justamente em construir alternativas à matriz anacrônica da liberalização e da desregulação econômica - panaceia conservadora que sonega consistência estrutural a qualquer projeto de desenvolvimento.
Isso já era verdade na reunião de Bretton Woods, em 1944.
Um certo John Maynard Keynes disse, então, que mesmo nos marcos do capitalismo (que afinal era o seu foco), nenhum Estado soberano poderia servir a três senhores ao mesmo tempo.
A saber: a liberdade de capitais; o livre comércio e a autonomia da política monetária - leia-se, a renúncia ao controle da taxa de juro, variável decisiva de um ciclo de investimento.
Vivemos há seis anos o maior colapso do capitalismo desde 1929, obra-prima do credo no Estado mínimo, associada à delegação suicida do destino da sociedade aos mercados ‘autorreguláveis’.
A desordem financeira mundial não cederá tão cedo, nem tão facilmente.
A consciência dessa travessia histórica é um dado fundamental para a ação política em nosso tempo.
O movimento estrutural de expansão do capital financeiro, cuja supremacia determina a dinâmica de uma economia mundial em crise , impõe dramáticos constrangimentos à soberania da sociedade para planejar seu destino e o destino do seu desenvolvimento.
Não há economicismo nessa constatação.
A política contribuiu de maneira inestimável para o modo como essa lógica se impôs, a velocidade com que ela se consolidou, a virulência de sua hegemonia e a brutal agonia da decadência atual.
A espoleta da maior crise do capitalismo desde 1929 foi o recuo desastroso do controle da Democracia sobre o poder do Dinheiro. O desmonte das travas regulatórias do sistema bancário foi o seu vetor.
Recuos e derrotas acumulados pela esquerda mundial desde os anos 70, sobretudo a colonização de seu arcabouço programático pelos valores e interditos neoliberais, alargaram os vertedouros para o espraiamento de uma dominância financeira , cuja presença tornou-se ubíqua em todas as esferas da vida humana.
A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, sancionou a supremacia da ordem regressiva.
Recolher esse caudal selvagem aos diques preexistentes é tão plausível quanto vencer a seleção alemã com um ataque formado por Jô e Fred.
A sociedade que cedeu soberania ao suposto poder autorregulador dos mercados perdeu as ferramentas institucionais capazes de gerar antídotos às degenerações intrínsecas a essa renúncia.
O Brasil, por exemplo, perdeu grande parte do poder indutor sobre a economia exercido por estatais que foram majoritariamente privatizadas.
A democracia terá que reinventar-se para que a retomada desse poder de iniciativa se recoloque no horizonte da ação política pelo desenvolvimento.
A urgência dessa reinvenção é a agenda subjacente ao debate eleitoral que começa a partir de agora.
O campo progressista não pode negligenciar a existência de um candidato oculto trabalhando em tempo integral pela sua derrota.
O governador Tarso Genro, em artigo recente nesta página, deu a esse candidato ubíquo o nome de ‘A Internacional do Capital Financeiro’ .
O economista Márcio Pochmann debruçou-se sobre esse palanque invisível no texto ‘Dominação financeira e suas contradições’ (leia nesta pág).
Carta Maior considera que o aprofundamento desse debate é oportuno e imprescindível para que o próprio campo progressista forme um discernimento mais claro e preciso do que está em jogo nestas eleições.
Esse é o propósito do Seminário Virtual ‘A internacional do Capital Financeiro’ que estará presente em sua página a partir de agora, com a participação de alguns dos mais importantes intelectuais brasileiros.
Conhecer o candidato oculto do palanque conservador não é um exercício diletante.
Trata-se de um dos requisitos à vitória, não apenas de uma candidatura, mas de uma agenda progressista consequente em outubro.
A ver.
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