Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Nesta quarta-feira (19/8), o destaque do trivial variado é a prisão do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por 48 estupros e foragido desde janeiro de 2011. Também há registros sobre a crise hídrica que afeta principalmente a região metropolitana de São Paulo, além de outras variedades. Mas já se percebe que o noticiário político foi conectado ao que dizem os candidatos na propaganda eleitoral – e o noticiário econômico tende a seguir no mesmo tom.
Também aparecem nas primeiras páginas, como sempre, notícias de futebol, com a primeira convocação da seleção brasileira depois do vexame na Copa do Mundo. O novo técnico, Carlos Eduardo Bledorn Verri, conhecido como Dunga, tem a missão de tirar das cinzas aquele que já foi o melhor futebol do mundo, em duas partidas amistosas, contra as seleções do Equador e da Colômbia, nos Estados Unidos. A crônica especializada se empenha em um debate sobre os escolhidos, e observa que Dunga convocou dez dos atletas que falharam na Copa.
Aparentemente, nada além do corriqueiro.
Sobre a campanha eleitoral, há relatos detalhados do que disse cada um dos candidatos na televisão, mas poucas análises sobre o que eles realmente podem fazer caso sejam eleitos. Assim, a mensagem imaginada pelos criadores da propaganda eleitoral acaba predominando sobre a realidade, que deveria orientar a escolha do eleitor. Ou seja: em última instância, quem define a pauta da imprensa nesta temporada de caça a eleitores são os marqueteiros de campanha.
Esgoto na torneira
Mais interessante, portanto, é observar o que não sai nos jornais.
Entre os assuntos que não serão lidos nos diários pode-se observar, por exemplo, que as notícias sobre a crise de abastecimento de água em São Paulo se limitam a uma disputa entre o governo paulista e o governo do Rio de Janeiro em torno do uso da bacia do rio Paraíba do Sul. Também há referência ao aumento do consumo e ao estranho silêncio do comitê anticrise liderado pelo Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo e pela Agência Nacional de Águas: criado em fevereiro para enfrentar o problema, o grupo de especialistas não se manifesta há 50 dias, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.
O caso é mais complexo que isso. Não se sabe se os jornais estão informados, mas a diretoria da Fiesp – Federação da Indústria no Estado de São Paulo – mantém o assunto entre suas prioridades há pelo menos um mês, discutindo as consequências de um colapso previsto para acontecer na última semana de setembro.
Uma cientista com pós-doutorado em hidrologia tem produzido relatórios alarmantes sobre a situação, e algumas das possíveis soluções já não podem ser executadas porque não houve um planejamento adequado por parte do governo paulista.
Além dos transtornos que pode causar uma falta prolongada de água, numa metrópole desorganizada e com tantas comunidades sem infraestrutura de saneamento básico, tem preocupado os empresários a constatação de que parte da água entregue pela Sabesp está contaminada pelo esgoto em vários ramais da região metropolitana. Há o risco iminente de a falta de água ser agravada por uma crise de saúde pública de consequências desastrosas.
O presidente em exercício da Fiesp, Benjamin Steinbruch, não virá a público revelar tudo que tem sido discutido pelos empresários, porque pode parecer que estaria fazendo campanha para Paulo Skaf, o presidente licenciado da entidade, que é candidato a governador pelo PMDB. Além disso, teria que colocar em debate a responsabilidade das próprias indústrias no uso não sustentável dos recursos hídricos.
A imprensa ainda não se deu conta do problema, ou tem outras preocupações mais relevantes.
Começou a campanha eleitoral na televisão, considerada o recurso mais eficiente para a colheita de votos, e não se fala de outra coisa nos jornais. Evidentemente, trata-se apenas de uma força de expressão, porque os diários seguem trazendo aquele mesmo cardápio variado de assuntos, determinado pela divisão das folhas em seções especializadas. O que muda é a abordagem dos mesmos temas: agora, mais do que nunca, o que sai, como sai e principalmente o que não sai na imprensa fica condicionado ao efeito que a notícia pode produzir nas urnas.
Nesta quarta-feira (19/8), o destaque do trivial variado é a prisão do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por 48 estupros e foragido desde janeiro de 2011. Também há registros sobre a crise hídrica que afeta principalmente a região metropolitana de São Paulo, além de outras variedades. Mas já se percebe que o noticiário político foi conectado ao que dizem os candidatos na propaganda eleitoral – e o noticiário econômico tende a seguir no mesmo tom.
Também aparecem nas primeiras páginas, como sempre, notícias de futebol, com a primeira convocação da seleção brasileira depois do vexame na Copa do Mundo. O novo técnico, Carlos Eduardo Bledorn Verri, conhecido como Dunga, tem a missão de tirar das cinzas aquele que já foi o melhor futebol do mundo, em duas partidas amistosas, contra as seleções do Equador e da Colômbia, nos Estados Unidos. A crônica especializada se empenha em um debate sobre os escolhidos, e observa que Dunga convocou dez dos atletas que falharam na Copa.
Aparentemente, nada além do corriqueiro.
Sobre a campanha eleitoral, há relatos detalhados do que disse cada um dos candidatos na televisão, mas poucas análises sobre o que eles realmente podem fazer caso sejam eleitos. Assim, a mensagem imaginada pelos criadores da propaganda eleitoral acaba predominando sobre a realidade, que deveria orientar a escolha do eleitor. Ou seja: em última instância, quem define a pauta da imprensa nesta temporada de caça a eleitores são os marqueteiros de campanha.
Esgoto na torneira
Mais interessante, portanto, é observar o que não sai nos jornais.
Entre os assuntos que não serão lidos nos diários pode-se observar, por exemplo, que as notícias sobre a crise de abastecimento de água em São Paulo se limitam a uma disputa entre o governo paulista e o governo do Rio de Janeiro em torno do uso da bacia do rio Paraíba do Sul. Também há referência ao aumento do consumo e ao estranho silêncio do comitê anticrise liderado pelo Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo e pela Agência Nacional de Águas: criado em fevereiro para enfrentar o problema, o grupo de especialistas não se manifesta há 50 dias, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.
O caso é mais complexo que isso. Não se sabe se os jornais estão informados, mas a diretoria da Fiesp – Federação da Indústria no Estado de São Paulo – mantém o assunto entre suas prioridades há pelo menos um mês, discutindo as consequências de um colapso previsto para acontecer na última semana de setembro.
Uma cientista com pós-doutorado em hidrologia tem produzido relatórios alarmantes sobre a situação, e algumas das possíveis soluções já não podem ser executadas porque não houve um planejamento adequado por parte do governo paulista.
Além dos transtornos que pode causar uma falta prolongada de água, numa metrópole desorganizada e com tantas comunidades sem infraestrutura de saneamento básico, tem preocupado os empresários a constatação de que parte da água entregue pela Sabesp está contaminada pelo esgoto em vários ramais da região metropolitana. Há o risco iminente de a falta de água ser agravada por uma crise de saúde pública de consequências desastrosas.
O presidente em exercício da Fiesp, Benjamin Steinbruch, não virá a público revelar tudo que tem sido discutido pelos empresários, porque pode parecer que estaria fazendo campanha para Paulo Skaf, o presidente licenciado da entidade, que é candidato a governador pelo PMDB. Além disso, teria que colocar em debate a responsabilidade das próprias indústrias no uso não sustentável dos recursos hídricos.
A imprensa ainda não se deu conta do problema, ou tem outras preocupações mais relevantes.
Nem se trata mais de destacar a doentia simbiose da mídia com a direita neoliberal. Nem se comparam as estratégias midiáticas dos neoliberais para apear do governo central o governo progressista do PT, com a criminosa ocultação das mazelas promovidas pela incondicional entronização do mercado pelo PSDB, em detrimento de cuidados mínimos com a população da grande São Paulo. Contraditoriamente, essa divinização mercadológica destrói a raiz produtiva industrial, a saúde pública, a educação e a segurança. Cidadãos tutelados mental e espiritualmente pela mídia comportam-se como cordeiros que vão para o abate sem nenhuma reação. Muito triste.
ResponderExcluirMiro
ResponderExcluirSou seu leitor diario e percebo a sua luta para informar seus seguidores. Mas quando se trata de pessimismo inegavelmente o pais esta vivendo uma onda muito forte, e as indicações da causa são sempre "o PT ou este governo que esta ai". Boatos fortes da acerca da morte do Eduardo viram bordão nas bocas das pessoas mais simples.Criticas sobre tudo mas mais notada sobre educação e saude.As pessoas não parecem conhecer as resposabilidades federativas e tudo vira culpa de um mesmo autor: o Governo federal eo o PT. Voce não cre que falta um esclarecimento sobre isto?
vicente caliman sp