terça-feira, 12 de agosto de 2014

Blindagem midiática é trunfo de Alckmin

Por Antônio David, no site Carta Maior:

Entre os dias 26 e 28 de julho, o Ibope realizou pesquisas de intenção de voto para governador e senador em SP, MG, RJ, PE e DF.

Os principais resultados foram amplamente divulgados pela imprensa. Nesse artigo, pretendo chamar a atenção para pontos pouco divulgados da pesquisa referente a SP. Nos próximos dias, traremos análises das pesquisas referentes ao RJ, MG, PE e DF.

Antes de mais nada, convém averiguar o perfil do eleitor paulista: 33% dos entrevistados pertencem a famílias com renda de até 2 salários mínimos; 42% pertencem a famílias com renda de 2 a 5 salários mínimos; apenas 18% declararam ter renda familiar acima de 5 salários mínimos. 7% não responderam.

Vê-se, portanto, que a grande maioria é composta de trabalhadores. Esse é o dado óbvio. O que talvez não seja óbvio, considerando que 75% dos eleitores situam-se nas faixas de renda até 5 salários mínimos, é o fato de que a maioria destes trabalhadores são pobres, com o agravante de que parte importante vive em metrópoles, onde o custo de vida é maior e a inquietação e insatisfação com os serviços públicos igualmente pesa mais.

Intenção de voto

Na pesquisa espontânea (em que não são apresentados nomes aos entrevistados), Alckmin conta com apenas 16% das intenções de voto. Padilha e Skaf figuram com 2% cada. 62% afirma não saber em quem votar. Entre as mulheres, a indecisão atinge 68%. E entre os mais pobres, com renda até 2 salários mínimos e de 2 a 5 salários mínimos, 68% e 65%, respectivamente. Os resultados da pesquisa estimulada foram apresentados pelo próprio Ibope na forma de gráfico.

Entre os paulistas com renda familiar até 2 salários mínimos, 34% pretendem votar em Dilma, contra 18% em Aécio. Já entre os que compõem famílias com renda de 2 a 5 salários mínimos, a petista tem 29% contra 25% para o tucano.

A rejeição a Alckmin, segundo o Ibope, está na casa dos 18%. Padilha tem 19% de rejeição e Skaf, 13%. Porém, entre os eleitores com renda até 2 salários mínimos, a rejeição é baixa: Alckmin, Padilha e Skaf são rejeitados por 14%, 13% e 13%. Já entre os eleitores com renda acima de 5 salários mínimos, 25% afirmam não votar de jeito nenhum em Alckmin, 27% não votariam de jeito nenhum em Padilha e 13% não votariam de jeito nenhum em Skaf.

Senador

Na pesquisa espontânea para senador, Suplicy e Serra empatam com 4% cada. 73% não sabem em quem votar.

Já na pesquisa estimulada, entre os que pertencem a famílias com renda até 2 salários mínimos Serra tem 30% contra 18% de Suplicy; já entre aqueles com renda de 2 a 5 salários mínimos, 30% declaram votar em Serra contra 25% em Suplicy. 20% afirmam não saber em quem votar, e 14% pretendem votar em branco ou nulo, também com forte concentração entre os mais pobres: entre os que têm renda familiar até 2 salários mínimos, 22% estão indecisos e 15% pretendem anular o voto ou votar em branco.

Interesse e avaliação do governo

A pesquisa do Ibope traz informações preciosas sobre o interesse pela eleição e acerca do governo Alckmin. Tratam-se de dados que ajudam, se não a esboçar tendências eleitorais, ao menos relativizar as tendências ventiladas pela imprensa como líquidas, certas e imutáveis.

Enquanto apenas 18% dos entrevistados afirmam ter muito interesse na eleição e 22% afirmam ter interesse médio, expressivos 27% e 31% afirmam ter pouco interesse ou nenhum interesse, respectivamente, somando 58%. 2% não responderam. Entre os jovens, com idade entre 16 a 24 anos, o desinteresse atinge 62%. E entre os que têm renda familiar até 2 salários mínimos, 66%, muito superior ao desinteresse dos que têm renda acima de 5 salários mínimos, na casa dos 41%.

No tocante à avaliação do governo Alckmin, 38% consideram-no regular. 34% e 6% avaliam o governo com bom e ótimo, respectivamente, totalizando 40%, enquanto apenas 8% e 11% dizem achar o governo ruim e péssimo, respectivamente, totalizando 19%. Esse resultado mantém-se basicamente inalterado em todas as faixas de renda, níveis de escolaridade e faixas etárias. As variações são irrelevantes.

55% afirmam aprovar a maneira como o governador vem administrando, contra 45% que afirmam desaprovar. E, face à pergunta “E o(a) sr(a) confia ou não confia no Governador Geraldo Alckmin?”, os eleitores dividem-se pela metade: 46% confiam, contra 45% que não confiam. Para esses dados, as variações são igualmente pequenas entre faixa de renda, escolaridade e faixa etária.

A maior preocupação dos paulistas é a saúde. 45% afirmam que essa é a área na qual a população está enfrentando os maiores problemas. Em segundo lugar, com 15%, aparece educação. E, em terceiro lugar, com 9%, a tão discutida segurança, pouco à frente do abastecimento urbano, com 7%.

Entre os mais pobres, a distância entre os percentuais é maior. Entre os que têm renda familiar acima de 5 salários mínimos, saúde figura com 30%, contra 24% para educação e 14% para segurança – o que leva a crer que, entre famílias com renda superior a 10 salários mínimos (os chamados “formadores de opinião”), a preocupação principal talvez seja outra.

No tocante à avaliação do governo Dilma, 30% dos paulistas consideram-no regular, 21% e 4% avaliam-no como bom e ótimo, respectivamente, ao passo que 15% e 29% avaliam-no como ruim e péssimo, respectivamente. Entre os mais pobres, os percentuais aproximam-se destes. Entre os mais ricos, é ainda maior a avaliação negativa. 60% desaprovam a maneira como Dilma vem governando.

Conclusão

O quadro eleitoral em São Paulo é claramente favorável ao PSDB. Além de uma máquina eleitoral fortíssima, composta de prefeitos e vereadores em todo o Estado, conta a favor do atual governador e candidato à reeleição o peso do voto do interior, onde os problemas são menores do que nas metrópoles. Porém, é, sobretudo, na imagem pessoal de homem honesto, simples e trabalhador que reside o grande trunfo de Alckmin.

Essa imagem deve-se em grande medida à imprensa, que blinda o governador, mesmo nos raros momentos em que critica o governo. Não é preciso dizer que o apoio da imprensa não só pesa de maneira determinante na imagem pessoal do governador, como tem algum peso tanto na avaliação do governo Dilma e nos dados atuais de rejeição.

Que trunfos teria o PT? Além do peso dos eleitores com renda familiar até 5 salários mínimos, onde o partido e algumas de suas figuras públicas (como Lula e Marta) têm influência e a indecisão ainda é grande – esse é, aliás, o trunfo de Suplicy -, resta saber se a passagem de Padilha pelo Ministério da Saúde e a marca de pai do programa Mais Médicos será um trunfo a favor do petista.

Entretanto, o principal dos trunfos de Padilha talvez resida em um dado que a pesquisa não aferiu. A população sabe o que faz o governador? Sabe qual é o papel do governador no que diz respeito à saúde, à educação, à segurança, ao transporte e ao abastecimento? Sobretudo os mais pobres, que decidirão a eleição, associam os problemas ao governo e o governo ao governador? Pesquisas anteriores mostram que, se a desinformação é grande no tocante a presidente e prefeito, quando o assunto é governo de Estado e atribuições do governador, a desinformação reina.

A disputa para o governo do Estado em SP será decidida entre o esforço tucano para que predomine uma imagem pessoal contra o esforço petista em associar o homem ao cargo e o cargo aos problemas. Aliás, um esforço conjunto, posto que a campanha turbinada de Skaf terá como alvo menos o governo do que o governador.

E por falar em Skaf, resta saber se há espaço para uma terceira via. As últimas eleições em SP têm repetido o quadro nacional, marcado pela tradicional polarização entre PT e PSDB. Nas últimas três eleições, o PT não teve menos de 30% dos votos no primeiro turno. Por outro lado, nos últimos pleitos estaduais não havia uma candidatura com a força da candidatura Skaf, que terá mais tempo de TV do que o atual governador. Conseguirá Skaf empurrar a eleição para o segundo turno? E, em havendo segundo turno, terá Skaf fôlego para que o adversário de Alckmin seja ele e não Padilha? Só a campanha dirá.

Um comentário:

  1. E será uma blindagem muito maior se o Aébrio vencer as eleições. Não haverá nada de ruim em seu governo, e o GAFE fará comparações sempre duvidosas com o governo do PT para exaltar o FHC/PSDB/ ... e assim vai. Olha e o que vem por aí será uma censura muito pior do que aquela do Golpe de 1964. Perguntem aos verdadeiros mineiros como são censurados os de comunicação atuais em Minas Gerais. Vai ser pior porque o GAFE+Rede Bandeirantes farão o impossível para conterem os blog's, como este. Ainda bem que o JB foi embora, e espero que não volte, porque com um cara desses no STF é capaz de cassar a cidadania de Lula e DILMA ao mesmo tempo.

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