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Para dizer de maneira bem clara, para que a crueldade seja percebida, a matéria que a Folha publica hoje sobre a distribuição de renda em São Paulo pode ser explicada assim, à maneira de Malba Tahan.
Pegue uma nota de cem reais e troque em notas de R$ 10 e entre numa sala com cem pessoas.
Pegue duas e entregue a um só indivíduo. Ele terá, portanto, R$ 20.
Pegue mais três e entregue a outras nove pessoas, para dividirem. Cada uma terá, então, R$ 3,33
Depois, das cinco notas que sobraram, pegue quatro e entregue a 40 cidadãos. Um real para cada, portanto.
A última nota de dez, você pega e atira para os 50 infelizes se engalfinharem por ela, ou troca em moedinhas e dá 20 centavos para cada um.
E mande embora.
Este é o retrato da justiça social na maior cidade deste país.
Ocorre que, nos últimos dez anos, embora a divisão tenha se tornado mais injusta, aqueles 50 miseráveis que viviam com o salário mínimo, tiveram um ganho real.
É por isso que o senhor Armínio Fraga, protoministro da Fazenda de Aécio Neves, diz que “os salários subiram demais”.
Mesmo que o dinheiro dos ricos tenha crescido, não importa.
É por isso que o banqueiro do ágape aecista está preocupado com “o pessoal que vota com o estômago” em outubro.
Que a elite paulistana abocanhe tudo e ainda reclame de fome, é algo que só prova sua mesquinhez e, pior, sua vocação suicida.
O grave é que já não exista quem grite que isso é imoral, desumano, absurdo, cruel, maldito.
O grave é que a classe média paulistana ainda ache absurdo que os pobres pelo menos tenham favorecimento numa faixa seletiva para os ônibus em que andam.
O grave é que achem isso civilizado e “culto”.
O grave é que nem George Orwell eles leram.
Emile Zola, então, nem se fala.
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