segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Flip denuncia a ditadura midiática

Glenn Greenwald, em Paraty
Por Altamiro Borges

A 12ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), encerrada neste domingo (3), foi um sucesso de público e de crítica. Cerca de 25 mil pessoas visitaram a bela cidade do litoral carioca e curtiram as palestras de mais de 45 escritores brasileiros e estrangeiros. Da rica programação, a mídia privada destacou apenas a presença das celebridades globais e de alguns autores de best-sellers. Ela deixou de realçar, porém, os debates mais polêmicos e instigantes, principalmente os que trataram do papel nefasto da própria mídia hegemônica na atualidade.

Num deles, o jornalista Glenn Greenwald, que ficou famoso após revelar os documentos vazados por Edward Snowden, ex-agente da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA, demonstrou como são promíscuas as relações entre o império e a mídia. Segundo matéria da Agência Brasil, o premiado repórter explicou que “o jornalismo que está sendo feito nos EUA em vez de denunciar as injustiças, endossa as violações cometidas pelas autoridades e pelo setor privado, o que ajuda a mascarar e ocultar ilegalidades que ocorrem no país. Para ele, a imprensa adotou uma falsa neutralidade que, na verdade, é uma forma de ativismo, de respaldar as ações do Estado”.

Diante da recente declaração de Barack Obama, reconhecendo que os EUA praticam a tortura, Greenwald ironizou: “A mídia americana utiliza a palavra tortura apenas quando é feita por outros países. Quando é feita pelos Estados Unidos, ela chama de técnicas de investigação rigorosas... Os que mataram civis inocentes palestinos são chamados pela imprensa de democratas lutando contra o terrorismo e os que mataram soldados israelenses são terroristas”. Para ele, o sistema que impera nos EUA é fundamentalmente corrupto e conta com a cumplicidade do Congresso, do Judiciário e da mídia, “que são controlados por atores envolvidos neste mesmo sistema”.

Em outra tenda de debate, o jornalista e escritor Bernardo Kucinski também fez ácidas críticas à mídia brasileira. “Substituíram a ditadura militar pela ditadura midiática, a dominação pelo consenso”, afirmou. Sua irmã e seu cunhado foram presos e mortos durante a ditadura, e seus corpos continuam desaparecidos até hoje. Para Kucinski, as investigações sobre estes crimes não avançam no país porque “os poderosos que apoiaram o golpe de 1964 continuam no poder”.

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