Por Renato Rovai, em seu blog:
Marina, mesmo sendo política há mais de 25 anos, costuma ser considerada como uma outsider. Talvez por conta de seu comportamento discreto e ao mesmo tempo bastante autocentrado. São poucas as pessoas que compartilham da intimidade da nova candidata à presidência da República pelo PSB e um número ainda menor aos quais ela oferece os ouvidos. Quem diz isso são seus amigos e aliados, como o deputado federal Alfredo Sirkis.
A crise de hoje com o secretário-geral do PSB e ex-coordenador da campanha de Eduardo Campos, o pernambucano Carlos Siqueira, é um pouco resultado desse comportamento difícil da candidata. Mas Marina tem um núcleo duro. E é com as pessoas desse grupo que ela tem decidido boa parte dos seus passos políticos desde que saiu do PT mirando uma candidatura presidencial.
Conheça um pouco daqueles que fazem a cabeça da candidata.
Walter Feldman – Atualmente deputado federal, é médico de formação e foi uma das principais lideranças do PSDB em São Paulo por muitos anos. É cristão novo na relação política com Marina Silva, mas muito rapidamente ganhou a sua confiança. É o atual porta-voz da Rede e foi guindado ontem a coordenador geral da campanha no lugar do socialista Carlos Siqueira, o que abriu a primeira crise na campanha da candidata.
Feldman é tudo menos alguém exatamente da “nova política”. Já teve sete cargos legislativos e cinco executivos. Sempre foi próximo de José Serra e foi seu coordenar de subprefeituras em São Paulo, entre 2004-2005. Em 2006 foi um dos principais articuladores da campanha do então ex-prefeito para o governo do estado de São Paulo. Antes já havia sido chefe da Casa Civil durante o governo de Mario Covas. Também foi um dos principais articuladores do PSDB no governo Kassab, tendo sido secretário de Esporte e Lazer no governo do pesedista.
Feldman tentou ser candidato a prefeito pelo PSDB por algumas vezes, mas não conseguiu. Na última eleição municipal, atribuiu-se a ele articulação do apoio do pastor Silas Malafaia à José Serra.
Depois que Marina Silva deixou o PV, ele se desfilou do PSDB e ajudou na fundação da Rede, como esta não conseguiu autorização da justiça para se tornar partido, desistiu de disputar novo mandato parlamentar. Até por conta dessa atitude teria se tornado a voz da Rede e ganhado muito espaço junto à candidata.
Eduardo Gianetti da Fonseca – responsável pelo programa econômico da candidatura de Marina Silva. É formado em Economia (FEA) e Ciências Sociais (FFLCH), ambas na USP. Tem uma postura mais neoliberal e defende que o Banco Central seja independente. Ou seja, não tem nenhuma relação com as políticas econômicas do governo. Apenas com os interesses do mercado. Em declarações à imprensa já disse que um eventual governo Marina Silva será “menos estatizante do que o de Dilma Rousseff” e também tem defendido a tese do corte de ministérios. Ou seja, considera que o Brasil precisa ter um Estado menor.
Durante a gestão de Lula (2002-2010) classificou como “irresponsável e inaceitável” os aumentos dados às aposentadorias e aos funcionários públicos. O que sinaliza para uma separação entre o salário mínimo do trabalhador na ativa e do aposentado. Algo defendido por economistas neoliberais.
Pedro Ivo Batista – É amigo e assessor político de Marina Silva há muito tempo. Foi militante do PT desde quase sua fundação, tendo participado da mesma tendência interna da candidata, o Partido Revolucionário Comunista (PRC), que no movimento estudantil se organizava na corrente Caminhando. A principal liderança do PRC era o ex-deputado José Genoino. Naquela época, Marina era bastante ligada a Ozeas Duarte, que era um dos principais dirigentes da tendência. Quando Marina sai do partido e vai para o PV, Pedro Ivo sai junto. Depois deixa o PV junto com Marina para construir a Rede. E agora está junto com ela no PSB.
Considerado um dos braços direitos de Marina Silva no ministério do Meio Ambiente (2003-2008), Pedro Ivo foi o responsável pela coordenação da Agenda 21 Brasil. Cearense e ex-bancário, foi dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e coordenador nacional de Meio Ambiente. Tem bom trânsito no PT e é considerado uma pessoa equilibrada e bom articulador.
Maria Alice Setubal (Neca Setubal) –Conheceu Marina em 2007 e se aproximou muito dela na eleição de 2010. Por isso foi a escolhida para representá-la na coordenação do programa de governo de Eduardo Campos.
Acionista da holding Itaúsa, possui 1,29% do capital total, o que lhe conferiria uma fortuna de R$ 792 milhões. Em 2010, o Itaú doou R$ 1 milhão para a campanha de Marina.
Questionada se participaria de um eventual governo de Marina, Maria Alice Setubal disse: “Supondo que Marina ganhe, eu estarei junto, mas não sei como. Talvez eu preferisse não estar em um cargo formal, mas em algo que eu tivesse um pouco mais de flexibilidade.”
Bazileu Margarido – É economista e do círculo mais próximo da candidata. Por este motivo, foi indicado por Marina para ser o tesoureiro de sua campanha na tarde de ontem. Na gestão de Marina à frente do Ministério do Meio Ambiente, foi o presidente do Ibama. Membro da executiva nacional da Rede é defensor do PAC e da construção das hidrelétricas. Bazileu foi um dos interlocutores da parceria entre Rede e PSB e defendeu a tese de que membros da Rede não deveriam aceitar cargos na executiva do PSB. É considerado um dos melhores amigos da candidata.
Alfredo Sirkis – É jornalista e deputado federal (PSB-RJ). Foi o principal articulador da ida de Marina Silva do PT para o Partido Verde. Tem militância ecológica antiga, foi fundador do PV, e na ditadura participou da luta armada no grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Era muito ligado à candidata, mas a relação entre eles estremeceu quando a Rede não conseguiu ser formalizada enquanto partido. Na ocasião, escreveu o seguinte texto em seu blogue:
“Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual compartilhamos (…). Possui, no entanto, limitações, como todos nós. Às vezes falha como operadora política, comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares. Tem certas características dos líderes populistas embora deles se distinga por uma generosidade e uma pureza d’alma que em geral eles não têm.”
Esse texto de Sirkis, que teve forte relação com a candidata, acabou reforçando uma série de críticas que Marina enfrenta. E sua imagem sai ainda mais colada neste tipo de comportamento com a recente declaração de Carlos Siqueira, dizendo que foi rechaçado de forma grosseira por ela da coordenação da campanha. Siqueira gozava de grande confiança de Eduardo Campos.
Guilherme Leal – Co-presidente do Conselho da Natura e dono de 25% das ações da empresa. Está no ranking da Forbes entre as pessoas mais ricas do mundo. Posição de 461 (2010). Foi candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva em 2010 e doou R$ 11 milhões de reais para a campanha. Tinha se distanciado da candidata quando ela foi para a aliança de Campos, mas já deu sinais de que agora voltará a atuar de forma mais próxima.
A Natura é uma empresa que tem forte discurso de responsabilidade socioambiental, mas responde por processo de trabalho escravo e é acusada de biopirataria pelo Ministério Público Federal.
João Paulo Capobianco – Biólogo, fotógrafo e ambientalista. Durante a gestão da candidata à frente ao ministério do Meio Ambiente, foi secretário nacional de Biodiversidade e Florestas e secretário-executivo do ministério. Em 2010, foi o coordenador da campanha de Marina Silva e mais recentemente um dos principais articuladores da fundação da Rede.
Capobianco teve o nome cogitado para disputar o governo do Estado de São Paulo. Porém, em função da negociação do PSB com Geraldo Alckmin (PSDB), essa hipótese nem ganhou muito espaço.
Capobianco é um crítico ferrenho do governo Dilma e o classifica como um atraso para a questão ambiental no Brasil.
Além desse grupo, Marina leva muito em consideração a opinião de seu marido, Fábio Vaz de Lima, que até esta semana ocupava um cargo de comissão no governo do Acre, e de pessoas com quem tem relação muito mais pessoal do que política. Esse é um hábito que a candidata cultiva. Ela não leva em consideração apenas a opinião do seu grupo mais político. E muitas vezes surpreende a todos com decisões inesperadas, como a filiação ao PSB para ser vice de Eduardo Campos.
De qualquer maneira, muito do que Marina vier a fazer nos próximos dias que podem levá-la ou não ao segundo turno e até a presidência da República terá muito a ver com esse grupo apresentado nas linhas acima.
* Colaborou: Marcelo Hailer
Se esqueceram do Andre Lara Rezende...
ResponderExcluirPolitica economica: O conservadorismo de Marina Silva
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