Por José Reinaldo Carvalho, no site Vermelho:
É cedo para fazer prognósticos de qualquer espécie sobre o desenvolvimento do quadro político-eleitoral. São inócuos os exercícios especulativos e os vaticínios sobre os resultados das eleições para a Presidência da República, governos estaduais e as casas legislativas.
A disputa conta hoje com ingredientes novos, fatos inusitados, alinhamentos e realinhamentos imprevistos, a começar pela projeção de novos atores políticos.
Um fenômeno a ser considerado é que as forças conservadoras já não se apresentam com a velha cara. Hoje, quem representa os interesses do imperialismo e das diferentes frações das classes dominantes são as duas principais candidaturas oposicionistas – Marina Silva, da chamada Rede da Sustentabilidade, albergada não se sabe por quanto tempo dentro do Partido Socialista Brasileiro (PSB), e Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Já não desempenham papel ponderável na contenda eleitoral no nível nacional as velhas caras da direita e da centro-direita tradicionais. Legendas como DEM, PP e outras semelhantes, e lideranças como ACM Neto, Sarney, Collor, Bornhausen, Jarbas Vasconcelos et caterva, protagonizam apenas cenários estaduais e estão diluídas nas forças estruturantes da disputa eleitoral, como integrantes duma ou doutra coalizão.
São apontamentos necessários para a compreensão da evolução política brasileira a partir da extinção da ditadura militar, em 1985, e da promulgação da Constituição, em 1988.
Na origem, o PSDB nasceu, digamos, da costela esquerda do PMDB, em cuja luta interna figuravam não apenas disputas entre personalidades, como Orestes Quércia e Fernando Henrique Cardoso, mas também pontos de vista distintos sobre os caminhos da luta pela consolidação da democracia no Brasil.
Recorde-se que nos idos de 1985, a esquerda somou forças em torno da candidatura de FHC à Prefeitura de São Paulo, para ficarmos apenas com um exemplo mais notório. Sabe-se como o PSDB evoluiu, ou, por outra, involuiu, tornando-se, principalmente a partir do seu ingresso no governo transitório de Itamar Franco (1993-1995) o principal polo articulador de uma aliança de centro-direita que chamou a si a tarefa de levar adiante políticas neoliberais e conservadoras, ao longo dos dois mandatos de FHC como presidente da República (1995-2003). O PSDB tornou-se um inimigo figadal da esquerda. Mesmo que numa ou noutra localidade ainda pretenda posar de progressista, encetando a luta contra resquícios de oligarquias carcomidas, é em essência uma força retrógrada e instrumento da luta contra a esquerda.
Por seu turno, o PMDB, partido tipicamente de centro, com forte presença de caciques estaduais mais inclinados à direita, faz o jogo pendular que sempre fez, com maior ou menor intensidade. Figura na aliança nacional progressista, inclusive ocupando o cargo de vice-presidente da República, candidato à reeleição, contribuindo para a governabilidade da coalizão liderada pela presidenta Dilma. Ao mesmo tempo, em diferentes estados atua em favor do candidato do PSDB ou da candidata da Rede-PSB, dividindo a aliança que sustenta o governo federal e reforçando as posições da direita. Será inevitável que ocorra uma decantação nesse partido, pois a situação política evolui num sentido em que a convivência da esquerda com esse setor peemedebista vai tornando-se impossível.
Considerando a situação de momento, é forçoso reconhecer que o Partido Socialista Brasileiro (PSB) se autoimolou no altar do pragmatismo, rendeu-se a teses antinacionais e antipopulares e selou, ao adotar a candidatura de Marina Silva, um compromisso com forças conservadoras, no plano interno, e imperialistas, no externo.
Cometeu uma espécie de suicídio como partido de esquerda e progressista. Pelo menos esta é a resultante das suas recentes demarches. O marco miliário desta trajetória, para não retroceder a momentos tão pretéritos, foi a consagração, em outubro do ano passado, de um discurso anti-Dilma, anti-PT e anti-esquerda, sintetizado na frase de Marina Silva de que o objetivo da aliança da Rede da Sustentabilidade com o PSB é “acabar com o chavismo do PT”. Depois das eleições, no caso de derrota, esse partido terá que reciclar-se. Oxalá, resgate as posições patrióticas e de esquerda.
Realinhamentos, adequações, reposicionamentos e decantações certamente ocorrerão também no núcleo de esquerda que sustenta e dirige a aliança liderada por Lula e Dilma. A conquista do governo central, governos locais e significativo número de cadeiras nas casas legislativas em todos os níveis não deve ter como corolário a conversão dos partidos de esquerda apenas numa máquina eleitoral e administrativa. Ser de esquerda no poder é antes de tudo governar com um programa nitidamente transformador, tomar o partido das causas e lutas populares e tornar-se um polo dinamizador da organização e mobilização do povo. Igualmente, as forças de esquerda no governo devem constituir o fator subjetivo para a realização de reformas estruturais democráticas e rupturas, não veículos da conciliação entre classes sociais antípodas.
O 13º Congresso do PCdoB, realizado em novembro do ano passado, apresentou às forças progressistas a ideia de criar uma frente de afinidades de esquerda, um movimento político e social, reunindo partidos, entidades populares, personalidades patrióticas e democráticas independentes. A ação pós-eleitoral da esquerda, a par da formação do novo governo, em caso de vitória, poderia começar por aí.
É cedo para fazer prognósticos de qualquer espécie sobre o desenvolvimento do quadro político-eleitoral. São inócuos os exercícios especulativos e os vaticínios sobre os resultados das eleições para a Presidência da República, governos estaduais e as casas legislativas.
A disputa conta hoje com ingredientes novos, fatos inusitados, alinhamentos e realinhamentos imprevistos, a começar pela projeção de novos atores políticos.
Um fenômeno a ser considerado é que as forças conservadoras já não se apresentam com a velha cara. Hoje, quem representa os interesses do imperialismo e das diferentes frações das classes dominantes são as duas principais candidaturas oposicionistas – Marina Silva, da chamada Rede da Sustentabilidade, albergada não se sabe por quanto tempo dentro do Partido Socialista Brasileiro (PSB), e Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Já não desempenham papel ponderável na contenda eleitoral no nível nacional as velhas caras da direita e da centro-direita tradicionais. Legendas como DEM, PP e outras semelhantes, e lideranças como ACM Neto, Sarney, Collor, Bornhausen, Jarbas Vasconcelos et caterva, protagonizam apenas cenários estaduais e estão diluídas nas forças estruturantes da disputa eleitoral, como integrantes duma ou doutra coalizão.
São apontamentos necessários para a compreensão da evolução política brasileira a partir da extinção da ditadura militar, em 1985, e da promulgação da Constituição, em 1988.
Na origem, o PSDB nasceu, digamos, da costela esquerda do PMDB, em cuja luta interna figuravam não apenas disputas entre personalidades, como Orestes Quércia e Fernando Henrique Cardoso, mas também pontos de vista distintos sobre os caminhos da luta pela consolidação da democracia no Brasil.
Recorde-se que nos idos de 1985, a esquerda somou forças em torno da candidatura de FHC à Prefeitura de São Paulo, para ficarmos apenas com um exemplo mais notório. Sabe-se como o PSDB evoluiu, ou, por outra, involuiu, tornando-se, principalmente a partir do seu ingresso no governo transitório de Itamar Franco (1993-1995) o principal polo articulador de uma aliança de centro-direita que chamou a si a tarefa de levar adiante políticas neoliberais e conservadoras, ao longo dos dois mandatos de FHC como presidente da República (1995-2003). O PSDB tornou-se um inimigo figadal da esquerda. Mesmo que numa ou noutra localidade ainda pretenda posar de progressista, encetando a luta contra resquícios de oligarquias carcomidas, é em essência uma força retrógrada e instrumento da luta contra a esquerda.
Por seu turno, o PMDB, partido tipicamente de centro, com forte presença de caciques estaduais mais inclinados à direita, faz o jogo pendular que sempre fez, com maior ou menor intensidade. Figura na aliança nacional progressista, inclusive ocupando o cargo de vice-presidente da República, candidato à reeleição, contribuindo para a governabilidade da coalizão liderada pela presidenta Dilma. Ao mesmo tempo, em diferentes estados atua em favor do candidato do PSDB ou da candidata da Rede-PSB, dividindo a aliança que sustenta o governo federal e reforçando as posições da direita. Será inevitável que ocorra uma decantação nesse partido, pois a situação política evolui num sentido em que a convivência da esquerda com esse setor peemedebista vai tornando-se impossível.
Considerando a situação de momento, é forçoso reconhecer que o Partido Socialista Brasileiro (PSB) se autoimolou no altar do pragmatismo, rendeu-se a teses antinacionais e antipopulares e selou, ao adotar a candidatura de Marina Silva, um compromisso com forças conservadoras, no plano interno, e imperialistas, no externo.
Cometeu uma espécie de suicídio como partido de esquerda e progressista. Pelo menos esta é a resultante das suas recentes demarches. O marco miliário desta trajetória, para não retroceder a momentos tão pretéritos, foi a consagração, em outubro do ano passado, de um discurso anti-Dilma, anti-PT e anti-esquerda, sintetizado na frase de Marina Silva de que o objetivo da aliança da Rede da Sustentabilidade com o PSB é “acabar com o chavismo do PT”. Depois das eleições, no caso de derrota, esse partido terá que reciclar-se. Oxalá, resgate as posições patrióticas e de esquerda.
Realinhamentos, adequações, reposicionamentos e decantações certamente ocorrerão também no núcleo de esquerda que sustenta e dirige a aliança liderada por Lula e Dilma. A conquista do governo central, governos locais e significativo número de cadeiras nas casas legislativas em todos os níveis não deve ter como corolário a conversão dos partidos de esquerda apenas numa máquina eleitoral e administrativa. Ser de esquerda no poder é antes de tudo governar com um programa nitidamente transformador, tomar o partido das causas e lutas populares e tornar-se um polo dinamizador da organização e mobilização do povo. Igualmente, as forças de esquerda no governo devem constituir o fator subjetivo para a realização de reformas estruturais democráticas e rupturas, não veículos da conciliação entre classes sociais antípodas.
O 13º Congresso do PCdoB, realizado em novembro do ano passado, apresentou às forças progressistas a ideia de criar uma frente de afinidades de esquerda, um movimento político e social, reunindo partidos, entidades populares, personalidades patrióticas e democráticas independentes. A ação pós-eleitoral da esquerda, a par da formação do novo governo, em caso de vitória, poderia começar por aí.
Não é preciso dizer muito. Os recém-divulgados números das pesquisas Datafolha e Ibope falam por si: Marina Silva atingiu o teto e começa a cair. QUE PENA
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